Apos três dias de debates, o Primeiro Encontro Internacional de Partidos de Esquerda, que reuniu 55 delegações de 39 países em Caracas, encerrou seus trabalhos ontem à noite (21), com a publicação de uma declaração final.
Apresentado como resultado de negociações com os partidos de esquerda, o texto foi redigido pelo Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV), organizador do encontro. Os representantes tiveram acesso ao rascunho da declaração horas antes de sua publicação.
O secretário de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores (PT), Valter Pomar, encaminhou suas críticas ao projeto, pedindo que fosse alterado. Expressava discrepâncias do PT em relação à criação de novas instituições para organizar a esquerda e à prioridade militar no confronto com governos e partidos conservadores.
Nenhum desses pontos foi tomado em consideração na redação final do texto, denominado “Compromisso de Caracas” e auto-definido como um “guia revolucionário para os desafios futuros”. O documento prevê a criação de um “espaço de articulação de partidos e organizações de esquerda e progressistas, que permita coordenar políticas contra a agressão aos povos e aos governos legitimamente constituídos, a instalação de bases militares, a violação de soberania dos Estados e a xenofobia”.
Para elaborar uma “agenda comum de trabalho”, o texto recomenda a formação de uma “Secretaria Executiva Temporária” (SET), que seria encarregada de definir ações conjuntas dos partidos de esquerda, convocar mobilizações e enviar observadores para distintos países.
Surpresa
Nos primeiros rascunhos, esta secretaria política não era temporária. A mudança ocorreu depois da proposta feita pelo presidente venezuelano, em discurso aos 150 delegados presentes, de criar uma “Quinta Internacional, para aglutinar o movimento progressista planetário”.
A iniciativa pegou de surpresa os participantes do encontro, já que não havia sido levantada nos dias anteriores à reunião. Dirigentes do PSUV confiaram ao Opera Mundi que, até a intervenção de Chávez, nada sabiam de seu projeto. Mas a proposta acabou endossada pelo partido venezuelano, que a introduziu na versão final do “Compromisso de Caracas” qualificando-a de “decisão especial”.
Segundo este último capítulo do texto, a Quinta Internacional deve ser “uma instância dos partidos e correntes socialistas e dos movimentos sociais do mundo para harmonizar uma estratégia comum para a luta antiimperialista, a superação do capitalismo pelo socialismo e a integração econômica solidária”.
A declaração propõe criar um “grupo de trabalho” constituído pelos partidos e correntes que aceitam a criação desta “instância mundial revolucionária”. Este grupo deverá preparar uma agenda para preparar o “primeiro evento constitutivo” da Quinta Internacional em abril de 2010 em Caracas.
Solidariedade com a revolução bolivariana
Ontem, a primeira vice-presidente do PSUV, Cilia Flores, informou numa coletiva que o “Compromisso de Caracas” tinha sido aceito por todos os delegados. Fontes de diversos partidos presentes, porém, divergem dessa informação. O Partido dos Trabalhadores já fez saber ao PSUV que se recusava a assinar o texto, tal como adiantou Valter Pomar ao Opera Mundi.
O primeiro partido que anunciou seu interesse pela iniciativa do presidente Chávez foi a Frente Farabundo Martí de Liberación Nacional (FMLN) de El Salvador. Segundo a Agência Bolivariana de Notícias, o vice-presidente do país, Salvador Sánchez disse em Caracas que seu partido estava disposto a se incorporar plenamente à “Quinta Internacional”.
Sánchez considera que existe una ameaça real do “império” sobre Venezuela, Honduras e vários povos do continente e que a união era necessária para enfrentar o ataque. “É por isso que compartilhamos da proposta do presidente Chávez de criar uma Quinta Internacional Socialista”, conclui.
Outros pontos da declaração destacam o repúdio ao golpe de Estado em Honduras e a denúncia da instalação de bases americanas em Colômbia. O texto prevê a organização de protestos mundiais entre os dias 12 e 17 de dezembro de 2009.
A declaração faz também um chamado para a organização da “solidariedade mundial dos povos com a revolução bolivariana e o presidente Hugo Chávez, frente aos permanentes ataques imperiais”.
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