O presidente norte-americano Ronald Reagan (1981-1989) assinou em 23 de novembro de 1981 uma Diretriz de Ação de Segurança Nacional (NSDD-17, em sua sigla em inglês), documento considerado “altamente secreto” e que outorgou à CIA o poder de recrutar e apoiar uma força militar de 500 rebeldes nicaraguenses para ações encobertas contra o regime esquerdista da Nicarágua.
O NSDD-17, que recebeu orçamento de 19 milhões de dólares, marcou o início do apoio oficial dos Estados Unidos aos rebeldes na luta contra os sandinistas.
A decisão foi adotada vários meses após Reagan ter orientado a CIA a desenvolver um plano para barrar o que sua administração acreditava ser um importante fluxo de armas da Nicarágua para as forças rebeldes da FMLN (Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional), do país vizinho, El Salvador.
Washington também acreditava que o regime sandinista não passava de mero instrumento da União Soviética. A próxima movimentação dos oficiais da CIA foi a de tomar as providências tendo por base territorial a instalação militar de Palmerola, em Honduras, que serviria de local de treinamento e de apoio logístico para o contingente de 500 homens fornecidos pela CIA, além dos mil paramilitares que seriam treinados na Argentina.
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Plano da CIA era para desestabilizar regime tido por Washington como mero instrumento da União Soviética
Por trás dos planos originais de cortar o fluxo de armamentos proveniente da Nicarágua, as tarefas dos “Contras” seriam ampliadas para introduzir missões de espionagem e até mesmo ações terroristas praticadas pelos paramilitares dentro da Nicarágua, com a finalidade de desestabilizar o governo sandinista.
Imprensa vaza plano dos EUA na Nicarágua
Notícias da diretiva vazaram para a imprensa em março de 1982. Contudo, os funcionários da administração Reagan rapidamente minimizaram o significado e o alcance das ações. O argumento era o de que o plano da CIA, na verdade, visava respaldar os setores “moderados” da Nicarágua, que se opunham ao regime sandinista e não aos antigos soldados e aliados de Anastásio Somoza – ditador nicaraguense –, de baixa reputação, derrubados em 1979.
O vice-diretor da CIA, almirante Bobby R. Inman sustentava que a alocação de recursos representava apenas um pequeno poder de compra de armas e outros suprimentos, dizendo que “19 milhões ou 29 milhões não darão para comprar muita coisa nos dias que correm e certamente muito pouco para enfrentar essa espécie de força militar.”
Nos anos seguintes, o apoio norte-americano aos Contras tornou-se um assunto explosivo junto à opinião pública norte-americana. As críticas de representantes no Congresso, de parte da mídia e do público em geral conduziram finalmente o governo a buscar alternativas para subverter as proibições congressuais sobre a ajuda aos Contras.
Essas ações da Casa Branca resultaram naquilo que veio a ser conhecido como o escândalo Irã-Contras de 1986.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.