Mitt Romney pode ter ganho a “Super Terça” republicana, mas tudo continuou igual. Ele não saiu candidato à Presidência pelo partido, como esperava, e teve de se contentar em continuar a ser, apenas, o “favorito”. Uma ligeira nuance que importa em um partido dividido, que ainda não percebeu que a vitória de Barack Obama em 2008 teve impacto. A partir daquele momento, os republicanos ficaram à deriva, sem um líder que os mantivesse unidos.
A fragilidade com que Romney permanece na corrida pela nomeação presidencial republicana não é mais sólida do que a que desfruta Rick Santorum, que ficou logo atrás. Ambos permanecem reféns dos interesses mais conservadores e reacionários da direita norte-americana.
Ao conquistar seis estados, um deles importante, como o de Ohio, e outro uma surpresa, Idaho, Romney conseguiu duas coisas: reforçar uma liderança frágil e demonstrar que a América profunda não tem medo de um presidente mórmon. O resto é incógnita.
Há três ciclos eleitorais presidenciais que a “Super Terça” decidiu a nomeação republicana à Casa Branca, o que deu a impressão de que sempre foi assim. Tradicionalmente, a “Super Terça” é apenas o começo da batalha. E, este ano, será mais feroz do que nunca.
“Agora começam as negociações. Eles precisam começar a conversar com os outros, como [Newt] Gingrich e Ron Paul, para realinhar os delegados, porque uma primária não é mais do que uma contagem de delegados. Até agora, nem Romney ou Santorum têm a quantidade que precisam”, comentou o ex-líder republicano Michael Steel, analista político, e que tentou governar o partido depois da vitória de Obama.
Steel não durou nem ano e meio no cargo, impotente para travar a influência dos grupos evangélicos e católicos fundamentalistas. As mesmas pessoas que votaram nesta terça-feira por Santorum e Gingrich e, em certa medida, por Romney. Nas últimas semanas, entrevistados pela imprensa, alguns chegaram a chamar Romney de “socialista” e “intelectual”. No entanto, dentro desta massa há matizes. Romney recebeu o apoio da chamada “direita ilustrada”, rica e educada, com tendência a ser menos reacionária.
Briga interna
O fato de que ninguém se retirou da corrida pela nomeação acaba favorecendo Romney. “Enquanto os outros três se mantiverem na corrida, nenhum deles terá capacidade para ocultar Romney. Podem o atacar o quanto quiserem. A matemática não está do lado deles”, comentou o estrategista republicano Rick Wilson, que ainda não se decidiu por nenhum candidato.
Wilson concorda com Steel: “o que importa é o número de delegados de cada um. Nada mais, nem sequer suas propostas ou pensamento”, afirma. Por isso, o estrategista acha que a “Super Terça” foi uma “noite boa para Romney”, que conseguiu quase metade dos delegados em jogo. Isto obriga Santorum a cogitar uma negociação com Romney.
“Se formos à convenção do partido com um certo número de delegados e tivermos que chegar a algum acordo fora da convenção, então que assim seja”, disse à imprensa Hogan Gidley, porta-voz de Santorum, pouco depois do discurso de “vitória”, ainda antes de saber que tinha perdido em Ohio.
“Não há uma receita especifica para Romney. Só lhe resta aguentar a carruagem e tentar vencer os adversários recorrendo aquilo que é fundamental para o eleitorado republicano: emprego e gasolina barata. Ele é bom nisso”, acrescentou Wilson.
Negros e latinos
Mas há um tema que estava ausente do cenário da “Super Terça”: o eleitorado latino e negro. As estatísticas são implacáveis. Após primárias republicanas em 21 estados, só na Flórida, em janeiro, os latinos e negros foram votar, de acordo com dados do Partido Republicano.
“É uma realidade. Essas primárias mostram que os eleitores de outras raças não estão participando. Cada vez mais, os republicanos são um partido de brancos, sendo que em 2011 nasceram nos EUA mais não brancos do que brancos”, escreveu Pilar Marrero, editora política do jornal La Opinión, de Los Angeles.
Até agora, Romney e Santorum somente propuseram uma América com recortes sociais e fechada à imigração, onde os negros e os latinos, apenas servem para ir à guerra. Tudo em nome de Deus.
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