Efe
Mitt Romney, o favorito entre os republicanos, terá de desbancar Obama nos “swing states”, onde eleitores pobres podem ser barrados
Há muitos anos os Estados Unidos tentam convencer o mundo de que são o espelho da democracia. Seus governantes, independentemente do partido, defendem continuamente que eleições são puras quando são diretas, multipartidárias, vigiadas e controladas com listas de eleitores atualizadas.
Entretanto, nada disso acontece nos EUA, onde nem as eleições presidenciais são diretas nem os eleitores estão devidamente organizados. E isto permite todo o tipo de manipulações, como a que os republicanos se preparam para fazer.
Segundo a Associação de Governadores Democratas, em 29 estados os republicanos querem obrigar os eleitores a se identificar ao momento de votar, com um documento oficial que contenha uma fotografia. O problema é que os Estados Unidos não dispõem de um documento nacional de identificação e a única forma que um cidadão tem de provar sua identidade é recorrendo à carteira de habilitação.
O documento é distribuído pelos estados, e nem sempre está acessível para todos, principalmente pessoas de baixa renda, minorias étnicas, e idosos – eleitores normalmente simpáticos aos democratas. O partido de Obama estima que a exigência de documento com foto pode tirar o direito de voto de até 5 milhões de pessoas.
A oito meses das presidenciais, os republicanos não têm ainda um candidato claro para disputar a presidência com o presidente Barack Obama, que lidera as últimas pesquisas em qualquer cenário, seja contra Mitt Romney ou Rick Santorum. E tudo indica que até a convenção de agosto na Flórida, os republicanos não se vão decidir por ninguém.
Por isso, a preocupação dentro do partido não poderia ser maior. Os republicanos temem a possibilidade de que Obama consiga conquistar os votos dos negros, da terceira idade, dos hispânicos e de uma classe média arrasada pela crise econômica.
Solução? Retirar a capacidade de voto dos pobres e das minorias, exigindo, na hora de votar, a apresentação de um documento que não existe. “O que eles querem é impedir o voto de milhões de cidadãos das minorias que não tem um automóvel, portanto não possuem uma carteira de habilitação, seja porque não precisam ou porque são muito pobres para comprar um automóvel”, disse ao Opera Mundi, Joe Garcia, um dos estrategistas democratas na Flórida. “Sim. É um bom exemplo de discriminação.”
Projetos de lei apoiados por republicanos também querem exigir um documento com foto na hora de obter o título de eleitor. Até agora, a certidão de nascimento ou o certificado de naturalização eram suficientes (só o segundo tem uma fotografia) para se inscrever para votar.
Se os republicanos conseguirem o que querem, “as nossas eleições vão deixar de ser o que são: um mecanismo para decidir o futuro comum”, acrescentou Garcia.
Swing states
Segundo Elisabeth Parsons, diretora da Associação de Governadores Democratas, a estratégia dos republicanos é exigir a identificação oficial naqueles estados em que a preferência do eleitorado tradicionalmente varia. São os chamados “swing states”, que tanto podem votar em democratas como em republicanos e, normalmente, seus eleitores só se decidem no último momento, se tornando a chave para a vitoria.
É o caso de Ohio, Virginia, Pensilvânia, Arizona, Carolina do Norte, Indiana, Montana e Florida. Este último é uma exceção, porque já é obrigatório apresentar um documento de identidade com uma fotografia no momento de votar. Nos demais, basta o título de eleitor.
De todos os “swing states”, apenas a Flórida já estava na lista dos estados com altos níveis de pobreza. Os outros foram bastante afetados pela crise econômica, e só agora passam a sofrer um aumento da miséria e uma taxa de desemprego galopante.
Os protestos contra a iniciativa republicana já começaram a chegar às ruas. No mês passado, milhares de pessoas fizeram uma passeata em Wisconsin para protestar contra aquilo que o presidente de Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (NAACP, pelas suas siglas em inglês), Ben Jealous, chamou de “o maior ataque ao direito de votar desde os dias da segregação racial”.
A única forma de impedir a pretensão republicana de privar do voto as minorias é com o poder de veto dos governadores democratas. Mas pode não ser suficiente, porque os republicanos controlam a maioria dos 29 estados que querem criar estas novas regras de identificação eleitoral.
Até hoje, só na Carolina do Norte, New Humpshire, Missouri e Minnesota, os democratas conseguiram derrotar as aspirações republicanas de deixar os pobres foram das presidenciais. Faltam 25 estados.
Sistema complexo
Nos Estados Unidos as eleições presidenciais não são diretas. Os eleitores votam por um candidato, mas na verdade elegem um Conselho Eleitoral que indica delegados para uma convenção nacional, que na prática nunca se realiza. O candidato que obtiver a maioria dos delegados num determinado estado ganha o estado completo. E no fundo, o numero de votos é irrelevante, o que conta são os estados. O candidato que tenha a maioria dos estados ganha a presidência.
Foi assim em novembro de 2000, quando o ex-presidente George W. Bush chegou à Casa Branca, apesar de seu rival democrata, o então vice-presidente Al Gore, ter obtido mais votos.
Trata-se do último vestígio das leis eleitorais do século XIX, quando ao libertar os escravos, as elites norte-americanas com medo de perder o poder, criaram o conselho eleitoral, onde o voto de um branco equivalia ao de seis negros.
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