Uma manifestação ocorrida na Praça San Martín, no centro de Lima, relembrou nesta quinta-feira (05/04) o vigésimo aniversário do golpe de Estado imposto pelo ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000). Os cidadãos presentes ao evento protestaram contra os oito anos de duração da imposição política iniciados com a dissolvição do Congresso peruano, e que terminou por destituir o Poder Judiciário local e as garantias constitucionais. Um período marcado por um regime que, entre outras irregularidades, interferia na atuação do Ministério Público e no Conselho Nacional de Magistratura. A manifestação foi organizada pela CNDDHH (Coordenadora Nacional de Direitos Humanos).
Para o jornalista Gustavo Goriti, sequestrado na ditadura Fujimori, “o golpe foi um assassinato à democracia, submetendo todos os peruanos a uma situação horrível e que deixa marcas até hoje”.
Com instituições públicas debilitadas e uma política econômica orientada por pequenos grupos, cujas violações aos direitos humanos se tornaram uma regra, o jornalista afirma que o golpe “deixou uma política econômica com uma forte concentração de riqueza, corrupção generalizada, o envenenamento dos princípios do país e um regime político baseado no clientelismo”.
Os manifestantes da Praça San Martín, em sua maioria formada por jovens, ainda divulgaram uma campanha alertando para os perigos da volta da família Fujimori ao poder, exibindo cartazes e fotos de Keiko Fujimori, filha do ex-presidente e segunda colocação na ultima eleição presidencial. Eles exibiam cartazes com os dizeres: “Fujiratos nunca mais”.
Regalias no cárcere
Condenado a 25 anos de prisão por delitos de corrupção e atividade políticas de lesa humanidade, Fujimori vive recluso em uma cela exclusiva na sede de Operação Especiais da Polícia Peruana. Parlamentares e ativistas de direitos humanos denunciam que o ex-ditador goza de diversas regalias e que deveria ser transferido para outro centro penitenciário. “Todos os presos do país tem de ter um tratamento igualitário. A situação de Fujimori tem de ser revisada pelo Inpe (Instituto Nacional Penitenciário)”, reclamou o congressista Diez Canseco, do Partido Nacionalista Peruano.
Canseco denuncia que não há nenhum entrave penitenciário ao cárcere de Fujimori. Os horários de visitas e demais atividades ocorrem sem qualquer regulamento. “Temos relatos de pessoas que não querem se identificar, que grupos musicais ingressam no local para realização de festas noturnas, que contam com participação de muitas pessoas de fora, sem horário para acabar”.
Segundo Canseco, outro agravante que teria ocorrido no cárcere de Fujimori foi a coordenação da campanha presidencial de Keiko Fujimori. “Foi manejada muitas vezes de dentro da prisão, com reuniões e organização de material político”, ressalta.
Para a advogada Gloria Cano da Associação pelos Direitos Humanos e secretária-executiva da Coordenação Nacional dos Direitos Humanos, “não tem porque existir essa situação de privilégio com conivência da INPE, pois Fujimori cometeu diversos crimes e todos são iguais perante a lei”, conclui.
Repercussão
Os jornais peruanos deram destaque ao aniversário do golpe. O El Comercio afirma em seu editorial que “o golpe de Fujimori não acabou em 5 de abril (de 1992), mas que continuou ao largo de seus dez anos no poder”. O periódico também criticou que ainda exista uma alta porcentagem de apoio popular ao golpe (47%), por entender que “todo governante que detém para si todo o poder sempre aproveitará para ir muito além do combinado”.
Por sua vez, o editorial do La República lembra que o regime emergido do golpe não foi mais longo do gênero, mas talvez o mais doloroso para a República por suas entranhas mafiosas, por sua entrega neoliberal liquidadora de direitos e por seu encerramento indigno, a renúncia por fax e o descobrimento de sua dupla-nacionalidade (japonesa), artifício que Fujimori utilizou para exilar-se no Japão.
O Perú.21 entrevistou a congressista fujimorista Luisa Cuculiza, que admitiu que a medida não foi nada agradável para a democracia, “mas acredito que, se este famoso golpe não tivesse ocorrido, a história do peru teria sido outra”. O filho do ex-ditador, Kenji Fujimori, também defendeu seu pai em entrevistas às redes de TV.
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