Os muçulmanos são o segundo maior grupo religioso na França depois dos católicos. No entanto, não há estatísticas oficiais sobre o número total de praticantes, já que a lei proíbe questões sobre religião no censo. O último Estudo sobre os Valores Europeus, de 2008, estima que os católicos representam 41,6% da população francesa (cerca de 27 milhões de pessoas) e os muçulmanos 4,5% (2,9 milhões). O ministério do Interior francês estima de cinco a seis milhões, baseado na origem geográfica das pessoas. Já um levantamento do Instituto Nacional de Estudos Demográficos e do Instituto Nacional de Estatística e de Estudos Econômicos em 2010 indicou que a França conta 2,1 milhões de “muçulmanos declarados”.
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Às vésperas das eleições presidenciais, marcadas para 22 de abril, militantes e especialistas franceses analisam as dificuldades enfrentadas por essa parcela da população para ser ouvida.
De acordo com o sociólogo Claude Dargent, diretor do Centro de Pesquisas Sociólogicas e Políticas de Paris e professor da universidade Paris 8, estima-se que os muçulmanos representem quase 5% da população nacional. “Mas ela não é toda de nacionalidade francesa e aquela que é não está necessariamente inscrita nas listas eleitorais. Apesar disso, é uma minoria substancial”, avalia.
Laisa Beatris/Opera Mundi
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Estudioso dos comportamentos eleitorais, Dargent explica ainda que essa população muçulmana tem características sociais bem específicas. Segundo os dados mais recentes disponíveis, três quartos dos muçulmanos têm menos de 35 anos. Além disso, um levantamento de 2008 indicou que 73% deles ocupavam posições subalternas no mercado de trabalho, como operários ou assalariados.
“De maneira geral a população muçulmana se concentra principalmente nos bairros populares, cuja participação política é mais fraca que a média. Mas em 2007 tínhamos notado um forte movimento de inscrição nas listas eleitorais nos subúrbios onde há uma grande porcentagem de muçulmanos, provavelmente para barrar a eleição de Sarkozy”, afirma o sociólogo.
Segundo um estudo do Centro de Pesquisas Políticas da Sciences-Po, durante a reeleição de 2007, de cada 100 muçulmanos que votaram no segundo turno, 95 escolheram Ségolène Royal – a candidata do Partido Socialista – e somente cinco apoiaram o atual presidente. “Então Le Pen e Sarkozy sabem muito bem que os muçulmanos não votam neles e não têm a esperança de progredir nesse eleitorado. Em compensação, o fato de estigmatizar essa população pode atrair os votos de outros eleitores, que são muito mais numerosos”, analisa Claude Dargent.
Abstenção
Para Sami Debah, presidente do CCIF (Coletivo Contra a Islamofobia na França), se hoje o discurso político contra o Islã é tão importante, é simplesmente porque os políticos consideram os muçulmanos como “maus clientes”. “Por um lado, a direita considera que se essa comunidade um dia votar, será à esquerda, e por outro lado, os socialistas consideram que essa comunidade não vota e, caso vote, será naturalmente na esquerda. Então não há nenhum interesse em fazer um esforço para conquistar esse eleitorado.”
Segundo ele, atualmente de 40% a 70% dos muçulmanos se abstêm durante as eleições. “O que é dramático, não é um sinal de integração”, ressalta Debah.
Por esses motivos, várias organizações fazem campanha para que cada vez mais muçulmanos participem do processo eleitoral na França. “As pessoas estão indignadas e descontentes, mas será que vão se exprimir por meio de uma participação maciça nas eleições? É o que esperamos. É necessário que os muçulmanos franceses possam participar, qualquer que seja o candidato que escolham. Só o fato de participar já mostra que eles estão lá para pesar nesse processo eleitoral”, afirma Ahmed Jaballah, presidente da União das Organizações Islâmicas de França.
Já Abdelaziz Chaambi, presidente do Coordenação contra o Racismo e a Islamofobia, acredita que incentivar os muçulmanos a votar nas eleições presidenciais não fará nenhuma diferença: “A direita e a esquerda são iguais no que diz respeito à islamofobia.”
A ONG que ele dirige lançou uma campanha pelo voto nulo, pedindo que os muçulmanos coloquem nas urnas cédulas com a mensagem “Não à islamofobia”, a fim de chamar a atenção da sociedade e dos partidos políticos para o problema. Segundo Chaambi, a participação no processo eleitoral é importante, sim, mas em nível local, nas eleições legislativas (marcadas para os dias 10 e 17 de junho) e municipais, onde a comunidade muçulmana tem a possibilidade de apresentar seus próprios candidatos.
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