Efe
Presidente da Repsol, Antonio Brufau, cobra 8 bilhões de euros pela estatização da YPF, mas queria vendê-la por 7,7 bi
A Repsol estava em negociações para a venda da petrolífera argentina à companhia chinesa Sinopec, e todas as negociações foram feitas nas costas do governo argentino, que teria uma palavra final sobre a operação. A nacionalização anunciada por Cristina Kirchner abortou o negócio que podia render 7,7 bilhões de euros, de acordo com reportagem do jornal britânico Financial Times.
O presidente da Repsol deu uma coletiva de imprensa em Madri, onde estimou o valor da empresa YPF em torno de 14 bilhões de euros e confirmou contatos com potenciais compradores. A Repsol agora diz que vai exigir cerca de 8 bilhões de euros à Argentina, depois de ver expropriada a quase totalidade de suas ações na empresa YPF, correspondentes a 51% do capital. A imprensa espanhola, como a edição online do Publico.es, diz que o interesse chinês na YPF não é novo e que empresas como a Petrochina e a CNOOC já tinham tentado adquiri-la em 2009.
Quanto ao pedido de indenização, a resposta veio rapidamente por parte do governo argentino, com o vice-ministro da Economia, Alex Kicillof, que disse: “Iremos determinar ao certo quanto vale a YPF, mas não vamos pagar o que eles dizem”. Kicillof sublinhou ainda que a Repsol arrecadou “lucros extraordinariamente grandes” e que “ninguém pode dizer que estamos tirando algo que lhes pertence”.}
Já o ministro de Planejamento responsável pela intervenção na empresa nacionalizada faz outras contas e diz que os governadores das províncias onde a YPF atua “também têm muitas reclamações a fazer”. Segundo o jornal espanhol El País, Julio De Vido mostrou aos jornalistas algumas fotografias enviadas pelo governador de Mendoza de atentados ambientais cometidos pela empresa. “Terão de pagar por isto, porque o meio ambiente e o território dos argentinos não se rifam, têm um preço, tal como o preço que [Antonio] Brufau [presidente da Repsol] calcula ter sua empresa”, ameaçou o ministro. “Vamos ser absolutamente inflexíveis. Vamos liquidar, província a província, cada um dos danos ambientais causados pelas fugas nos oleodutos e tanques”, para depois calcular o valor total da YPF.
Para o governo argentino, houve uma “quebra permanente da eficácia na produção” e De Vido diz ainda que “estão nos tirando essa porcentagem de produção que hoje importamos. São dólares que saem do país e que não podem ser investidos, quem sabe, em hospitais, casas ou redes elétricas”.
Solidariedade
Assim como as condenações vindas de Madri, Bruxelas e Londres, também chegou a Buenos Aires a solidariedade com a decisão da presidente Kirchner. José Mujica, presidente do Uruguai, disse que a expropriação da Repsol é um ato soberano e que “a prepotência da Europa rica não lhe agrada”.
Os vizinhos brasileiros estão preocupados com os investimentos da Petrobras na Argentina, mas o ministro da Energia, Edison Lobão, já disse aos senadores que a nacionalização foi “um ato de soberania”. Segundo o diário argentino Clarín, o ministro De Vido irá ao Rio de Janeiro para tranquilizar a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, e acertar novos investimentos. Em cima da mesa estará também o cancelamento da concessão de gás natural pelo governador de Neuquén, que argumentou que a Petrobras não fez os investimentos previstos para aumentar a produção.
Para um analista consultado pelo Financial Times, a Repsol não deverá ter muita sorte no processo que dará entrada nos tribunais. “Neste momento, a Argentina já tem mais litígios pendentes no Centro Internacional do Banco Mundial para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos do que qualquer outro país”, afirmou Peter Hutton, da RBC Capital Markets, recordando os casos ainda à espera de decisão final desde 2001, quando o país cancelou boa parte da sua dívida.
Desde que foi anunciada a expropriação, as ações da Repsol registraram perdas na bolsa de Madri: na segunda-feira, quase alcançaram os 18 euros por ação e ao meio-dia desta quinta-feira eram transacionadas por 16 euros.
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