No dia 27 de maio de 1942, Reinhard Heydrich, um dos homens de confiança de Hitler, é mortalmente ferido num atentado de paraquedistas da resistência tcheca contra a cidade de Praga.
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Ele era tido como o “protetor do Reich” na Boêmia-Morávia. Chefe dos serviços de segurança nazistas e grande idealizador da Solução Final, tornou-se o homem mais poderoso da Europa depois do führer. Seu assassinato foi o primeiro golpe contra a potência nazista.
Filho do diretor de um conservatório musical, Heydrich se alistou em 1931 à Schutzstaffel, a famosa SS, corpo de elite do partido nazista. Torna-se logo o braço direito do chefe da corporação, Heinrich Himmler, que se seduziu por seu físico ariano, expressão diabólica e inteligência sintética. Depois, seria promovido a chefe do Escritório Central de Segurança do Reich, um organismo poderoso que incluía o controle da polícia criminal e da Gestapo, a polícia política.
Em meio à organização do programa de extermínio dos judeus, Heydrich é indicado por Hitler para submeter a Boêmia-Morávia a um estado de exceção. Faria correr sangue: massacres, deportações e germanização forçada. Por seus métodos, ganha a alcunha de “açougueiro de Praga”.
A resistência tcheca, com o apoio de seu governo exilado em Londres, decide agir e liquidar Heydrich. Um comando é formado na Escócia e lançado de paraquedas sobre o território tcheco em dezembro de 1941.
Na manhã de 27 de maio, Heydrich viajava em sua Mercedes de sua vila campestre para o castelo de Hradschin, em Praga. À passagem da viatura, o chefe do comando, Josef Gabcik, salta para o meio da rua e mira na direção de Heydrich com sua submetralhadora. A arma, contudo, falha. Vendo a cena, outro paraquedista, Jan Kubis, lança uma bomba sobre o automóvel. Os estilhaços dilacerariam as costas de Heydrich, que é transportado para o hospital local.
Furioso com os fatos, Hitler ordena um controle rígido sobre Praga. Enquanto isso, sete membros do comando encontram refúgio na cripta da igreja ortodoxa São Carlos Barromeu, sob a proteção condescendente e discreta dos sacerdotes. Eles tentam tirar os homens da cidade, mas ela está cercada.
Enquanto Heydrich lutava entre a vida e a morte, Hitler confia o posto interinamente a um funcionário nazista de Karlsbad, Karl Frank. Empossado, tentaria agradar o führer com um vasto plano de represálias.
Seguiu-se uma verdadeira hecatombe. Os alemães vingaram-se de forma selvagem, à moda dos antigos ritos teutônicos. Os “suspeitos” são fuzilados e artistas, escritores e funcionários públicos tem seus nomes afixados em sinistras placas vermelhas. Segundo um dos relatórios da Gestapo, 1.331 tchecos foram imediatamente executados. Kurt Daluege, oficial superior das SS, prometeu entregar 10 milhões de coroas a quem denunciasse os autores do atentado. Contudo, nenhum indício ou informação chega aos nazistas.
Em 4 de junho, Heydrich sucumbe aos ferimentos. Seu caixão atravessa Praga em meio a um grande, seguido pela luz de tochas. O corpo é transportado até Berlim, onde é recebido com grandiosas cerimônias fúnebres no dia 9 de junho.
Entre os Aliados e europeus submetidos ao jugo nazista, a operação foi recebida com satisfação. Fora o primeiro golpe substantivo contra o Estado nazista ao mesmo tempo que também foi o sinal de uma terrível vingança.
Lídice
De todas as consequências da morte de Heydrich, a que perduraria por mais tempo na lembrança do mundo ocidental foi o do cerco à aldeia de Lídice. Na manhã de 10 de junho, dez caminhões lotados de oficiais da Gestapo, sob o comando do capitão Max Rostock, chegaram à região. Ninguém estava autorizado a sair de lá. Um menino de 12 anos, assustado, tentou fugir. Abateram-no a tiros. Toda a população masculina foi trancada a chave nos celeiros, estábulos e adegas de um fazendeiro chamado Horak.
Mais tarde, foram levados para o pomar, atrás dos celeiros, e fuzilados. Um total de 172 foram executados. Dezenove homens que residiam na cidade e que, durante o massacre, estavam trabalhando nas minas de Kladno, foram depois capturados e liquidados em Praga. Sete mulheres que haviam sido arrebanhadas em Lídice foram também conduzidas à capital e fuziladas. As restantes 195 foram transportadas para o campo de extermínio de Ravensbrueck, na Alemanha, onde morreram em câmaras de gás. Quatro mulheres, no final de suas gestações, foram removidas para uma maternidade na capital. Os filhos recém-nascidos foram exterminados e as mães despachadas para Ravesbrueck.
Permaneceram em Lídice as crianças de pais assassinados e mães aprisionadas. Os nazistas não as fuzilaram, despacharam-nas para um campo de concentração em Gneisenau. Ao todo eram 90. Destas, sete com menos de um ano foram selecionadas de acordo com o meticuloso exame de peritos raciais para serem enviadas à Alemanha e, ali, educadas como arianas, rebatizadas com nomes nacionais.
Lídice foi varrida da face da terra. Assim que os homens terminaram de ser massacrados e as mulheres e crianças, removidas, a Polícia de Segurança incendiou a aldeia e dinamitou as ruínas, não deixando pedra sobre pedra.
A repressão, os fuzilamentos e as ameaças prosseguiram por todo o país. Um dos membros do comando, refugiado na casa de sua mãe, de origem alemã, é tomado pelo pânico e se rende ao comando da Gestapo em Praga. Entrega o nome das diferentes famílias que ocultavam os membros do comando.
A caça começou. Em algumas horas, as famílias são presas e torturadas. Os nazistas rapidamente percorrem as pistas e chegam à igreja ortodoxa. Em 18 de junho, 800 homens dão início ao assalto contra a cripta. Os paraquedistas resistem heroicamente, reservando a última bala para pôr fim à própria vida.
Também nesse dia:
1840 – Morre Niccoló Paganini, violinista e compositor italiano1
1921 – É criado o primeiro código de trânsito urbano
1940 – Britânicos efetuam a Retirada de Dunquerque
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