Em 23 de junho de 1848 eclodem em Paris violentas manifestações decorrentes da fome provocada pelo fechamento dos Ateliês Nacionais. A repressão, terrivelmente brutal, consagra a ruptura entre a classe operária e o regime republicano saído das jornas revolucionmárias de fevereiro.
Os ateliês de beneficência haviam sido criados alguns meses antes em 28 de fevereiro pelo governo provisório da 2ª República, com base numa ideia do socialista Louis Blanc, que visava garantir aos desempregados um pequeno ingresso em troca de um trabalho simbólico.
Pouco depois, em 23 e 24 de abril têm lugar as eleições legislativas e constituintes. Levam à Assembleia uma forte maioria de notáveis provinciais – grandes senhores, príncipes, nobres, magistrados, conselheiros de Estado -, bastante conservadores e desconfiados do povo trabalhador de Paris.
Em 4 de maio, a Assembleia proclama solenemente a República e no dia seguinte, o governo provisório apresenta sua renúncia e transmite ao parlamento todos os seus poderes. À espera da aprovação de uma Constituição, é a partir de 10 de maio que uma comissão executiva, saída da Assembleia, passa a dirigir o país.
A administração dos Ateliês Nacionais é confiada a um conservador, Marie, que se empenharia em desqualificá-los. Enquanto os empregados cresciam vertiginosamente de25 mil a cerca de 120 mil, não lhes era confiado nenhum trabalho suscetível de concorrer com uma empresa privada. Os beneficiários pavimentavam e despavimentavam as ruas tendo como contrapartida um franco por dia. Desocupados, interpretam a história e cultivam tanto as ideias bonapartistas quanto as socialistas.
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Os deputados conservadores denunciavam a inanidade do sistema e o perigo que representava para a República. A Comissão decide por conseguinte, em 20 de junho de1848, suprimir os Ateliês Nacionais com a esperança de assim sufocar a agitação operária. É o contrário que sobrevem.
Dos 120 mil trabalhadores registrados nos Atyeliês Nacionais, 20 mil se reúnem na praça da Bastilha, ao pé da Coluina de Julho – monumento comemorativo da Revolução de1830 –, na manhã de 23 de junho de 1848. Liderados por um sujeito de nome Pujol, aos gritos de « Liberdade ou Morte », começam a se espalhar pelas ruas e a formar barricadas que chegariam a um total de 400.
Sem ordenar precauções, a Comissão Executiva encarrega o general Louis-Eugène Cavaignac da repressão. Esta se mostra brutal, na mesma medida que cresce o pavor entre os burgueses da Assembleia. Em 25 de junho, os rebelados ainda resistiam no leste da capital, entre Bastilha e Nação.
Monsenhor Denis Affre, arcebispo de Paris se interpõe entre os insurretos e a tropa, sobre uma grande barricada, na esquina entre as ruas Charenton e Faubourg Saint-Antoine. Com um crucifixo à mão, o religioso, de natureza tímida, apela aos irmãos inimigos pela reconciliação. É dado alto ao fogo. Porém, um rufar de tambor desperta as pulsões da morte. O fogo é retomado. O arcebispo tomba e murmura antes de morrer : “o bom pastor dá a sua vida pelo rebanho”.
No dia seguinte, o general Lamoricière toma de assalto essa barricada bem como todas aqueles que se seguiram, um total de 65 entre a praça da Bastilha e a praça da Nação. Era o fim da insurreição.
Em três dias de combate, de 23 a 26 de junho, no âmbito da capital, ocorreram cerca de4 mil mortos entre os insurretos e 1.600 entre as forças da ordem.
O governo republicano condenou mais de 11 mil pessoas à deportação para a Argélia sem julgamento, baseado apenas num decreto a propósito de 27 de junho. Após uma série deindultos e a aprovação da lei de 24 de janeiro de 1850, esse número foi reduzido a 460.
As jornadas de junho de 1848 decepam a 2ª República de sua base popular. Um desconhecido, Luis Napoleão Bonaparte, sobrinho de Napoleão o Grande, iria habilmente tirar partido desta contradição e derrocar a desacreditada República.