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Política e Economia

FBI infiltrou agentes e ajudou a organizar ataques terroristas dentro dos EUA

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"Operação flexão" é forte candidata a se tornar a trama mais incompetente da história do FBI

Tom Costello, do Bureau of Investigative Journalism | APública

2012-08-20T17:19:00.000Z

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Quando o FBI (Departamento Federal de Investigação) anuncia que um plano terrorista foi desmantelado em território norte-americano, como ocorreu vezes nos últimos anos, a imprensa costuma comemorar. No entanto, pouco se fala sobre como o órgão equivalente à polícia federal norte-americana consegue dar cabo destas conspirações.

O outro lado da história é simples e estarrecedor: a própria instituição infiltra agentes em comunidades islâmicas (muitas delas pacíficas) para formar e encorajar novos terroristas – frequentemente adolescentes –  planejar ataques e até mesmo fornecer os materiais para torná-los realidade.

Parece mentira, mas não é. Essas informações foram descobertas e divulgadas pelo documentário de rádio "This American Life", produzido pela Chicago Public Media e transmitido em mais de 500 estações nos Estados Unidos. O trabalho jornalístico conta a história de uma das mais desastrosas e chocantes tramas armadas pelo FBI. 

Wikimedia Commons
Quartel-general do FBI em Washington

“Repetidamente, o FBI fabrica ataques terroristas”, escreve o analista Glenn Greenwald. “Eles se infiltram em comunidades muçulmanas para achar recrutas, os convencem a realizar ataques, fornecem dinheiro, armas e o know-how para levar seu plano adiante – apenas para saltar heroicamente no último instante, prender os supostos agressores que o FBI havia criado, e salvar uma grata nação de uma trama orquestrada... pelo próprio FBI”.

Denunciado

Em um desses casos, iniciado em 2006, um marginal de quinta categoria chamado Craig Monteilh foi recrutado pelo órgão para infiltrar-se numa mesquita em Orange County, na Califórnia.

Monteilh é branco, tem 1,87 metros e é musculoso como um fisiculturista. Sua missão era atrair homens da mesquita para a sua academia, onde os recrutaria para um plano terrorista com discursos sobre a jihad de Osama Bin Laden. O nome da missão: Operação Flexão.

Mas a operação encontrou uma pedra no meio do caminho: os alvos de Monteilh estavam mais interessados em jogar vídeogames do que na academia. Mesmo assim, Ayman e Yassir, os jovens que seriam aliciados pelo infiltrado marombeiro, gostaram do novato e começaram a andar com ele. Mas se assustaram quando Farouk, nome falso usado por Monteilh, começou a falar em “jihad” e “Osama Bin Laden” sempre que tinha uma oportunidade.
 


Nem Ayman e nem Yassir mostraram o mínimo interesse em discutir jihad ou terrorismo. Por isso, quando Monteilh começou a discutir a possibilidade de realizar um ataque à bomba, os dois jovens correram para denunciá-lo – para o próprio FBI.

O FBI negou-se a comentar a história. Principal órgão federal norte-americano de investigação, hoje o FBI está sendo processado por membros da mesquita.

E Craig Monteilh é a testemunha principal contra seus antigos empregadores.

No ano passado, a Associated Press ganhou o prêmio Pulitzer de reportagem investigativa depois de descobrir uma operação secreta de espionagem maciça da polícia de Nova York que monitorava comunidades muçulmanas da cidade, apesar de não haver evidências de atividade terrorista.

Os detalhes de alguns desses planos terroristas ganharam grande repercussão: em 2010, Mohamed Osman Mahamud planejou detonar uma bomba em um evento natalino lotado; em 2009, Hosam Maher Husein Smadi arquitetou a destruição de um arranha-céu em Dallas e Faruque Ahmed esboçou um ataque ao metrô de Washington; e em 2011, Rezwan Ferdaus foi preso depois de planejar atacar o Pentágono com aviões de controle remoto cheios de explosivos.

Seja por meio de infiltrações em mesquitas por parte do FBI ou por policiais que espionam cafés e lugares de convivência, não é de se espantar que muitos líderes muçulmanos nos EUA estejam denunciando um clima de medo e desconfiança, semeado por ineficazes – e às vezes risíveis – ações das forças de segurança norte-americanas.

Matéria veiculada na Agência Pública. Clique aqui paraler o original em inglês e aqui para ouvir o documentário de rádio do "This American Life".
 

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Família sofre racismo e tentativa de golpe ao tentar repatriar imigrante morto no Brasil

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Sem apoio do governo brasileiro e da Guiné-Bissau, familiares de Milton Sanca fazem campanha online para arrecadar valor para traslado do corpo

Leandro Barbosa

Agência Pública Agência Pública

2022-05-23T21:55:00.000Z

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O guineense Adilson Victor de Oliveira, 34 anos, é um homem impossibilitado de vivenciar o seu luto. Desde que seu irmão Milton Sanca, 39 anos, morreu vítima de um acidente vascular cerebral (AVC), em 25 de abril de 2022, em Fortaleza (CE), ele busca uma forma de levar o corpo do familiar de volta à Guiné-Bissau, país na África Ocidental, a fim de realizar os rituais fúnebres necessários de acordo com a crença da etnia brame ou macanha, da qual fazem parte. Contudo, os custos para isso são de aproximadamente R$ 40 mil — valor que a família não possui e que impede o “descanso” de Sanca.

Milton chegou ao Brasil em agosto de 2019. A intenção do guineense, com ofício de pedreiro, era seguir trabalhando por aqui a fim de ajudar a esposa e os quatro filhos, com idades entre 6 e 18 anos, que permaneceram na Guiné-Bissau. Seu sonho era estudar engenharia civil e ver a filha mais velha seguindo os passos do tio, Adilson, na Universidade Federal do Ceará (UFC). Contudo, seus planos de estudar foram adiados devido à pandemia, mas Milton conseguiu continuar trabalhando como pedreiro até o final de 2021. Em janeiro deste ano, o imigrante conquistou o seu primeiro trabalho de carteira assinada, como motorista de uma empresa em Fortaleza. Primogênito da família, ele também tinha a responsabilidade de cuidar dos pais e do irmão e teve forte participação na formação de Adilson.

“Meu irmão, a morte não é o fim. Eu sei que você tá aí. Você sempre me ajudou. Me ajuda a te levar de volta pra casa”, diz Adilson, olhando para o alto, em um hiato em meio a entrevista concedida à Agência Pública, na UFC, onde ele faz doutorado em história. E, então, explica: “Para a nossa etnia [brame ou macanha], o corpo do Milton não representa só o corpo de alguém falecido. Tem um significado. Enterrar a pessoa fora do país dela é muito difícil. Os filhos vão carregar isso até o último dia da vida deles. É um trauma muito grande. O que a gente quer é dar uma esperança para os filhos do Milton, de que o pai deles vai voltar”. 

Adilson conta que o rito é uma cerimônia feita pela família antes do funeral e que, caso não seja realizada, pode haver consequências físicas ou espirituais. “É importante que o corpo passe por todos os rituais para assim evitar futuras consequências para os filhos de Milton e para nossa família. Ao mesmo tempo, a família e amigos terão a oportunidade de se despedir do pai, irmão e amigo que ele foi e é”, afirma. 

Adilson, irmão de Milton, está impossibilitado de vivenciar o seu luto 

Crédito: Arquivo Pessoal

Adilson explica que, segundo a crença brame ou macanha, se esses rituais não forem feitos corretamente, “alguém da família pode falecer ou toda a casa ser acometida por azares”. Devido a isso, desde o dia de sua morte, o corpo de Milton continua sendo preservado enquanto a família busca recursos para levá-lo para casa. O corpo passou mais de 20 dias no Hospital Geral de Fortaleza e agora aguarda o desfecho da história em uma funerária. 

Tentando voltar para casa

Adilson e seu tio, Carlos Zacarias Joaquim Júnior, que também está no Brasil fazendo doutorado, iniciaram um financiamento coletivo por meio do Pix badilesanca100@gmail.com, em uma conta do NuBank em nome do Adilson, para arcar com os custos do traslado. Contudo, em meio à campanha, Carlos passou a receber mensagens racistas em seu WhatsApp. Por meio de um número de DDD 81, de Pernambuco, uma pessoa ainda não identificada o chamou de macaco e disse que os africanos não são bem-vindos no Brasil. “Que bom que aquele macaco morreu. Vocês estão infestando o nosso país e a nossa cidade. Saiam daqui!”, diz uma das mensagens. A pessoa afirmou ainda que os imigrantes estavam roubando o emprego dos brasileiros e transmitindo HIV às mulheres do país. 

Número desconhecido encaminhou mensagens racistas ao tio de Milton, Carlos Zacarias Crédito: Reprodução

“Eu fui fazer um BO [Boletim de Ocorrência] na Polícia Civil. Registraram como injúria racial. A gente sofre racismo toda hora. Acontece que a gente não divulga sempre. Mas desta vez resolvi falar, porque eu acredito que uma pessoa que manda uma mensagem dessa, em um momento como esse, tem coragem de matar alguém”, diz Carlos. “Eu fiquei com medo de um dia ser atacado. Isso mexe com a gente, sem dúvida. Mas eu preciso ser forte, porque agora preciso pensar nesta situação do Milton, no meu doutorado, em tudo o que está acontecendo na minha vida agora”, conclui. 

Além do racismo, a família de Sanca sofreu uma tentativa de golpe. Outro número, também de Pernambuco, tentou via WhatsApp se passar por doador do recurso para o traslado, mas, segundo o farsante, Adilson e Carlos teriam de pagar um montante de mais de R$ 3 mil a uma agência que se dizia representante da companhia portuguesa TAP. Contudo, o irmão e o tio Milton desconfiaram e, após terem analisado a proposta e feito contatos com a TAP, descobriram se tratar mesmo de uma tentativa de golpe. A família registrou um BO.

Arquivo pessoal
Milton Sanca deixou quatro filhos e esposa em seu país de origem

Ana Eugênia, do Movimento Quilombola do Estado do Ceará, que tem prestado auxílio aos familiares de Milton, diz que são evidentes, em todo esse processo vivenciado pela família, o racismo e a xenofobia. “A gente precisa cobrar do Estado uma resposta. A pessoa que fez isso precisa ser punida. É muito violento. A pessoa não tem um pingo de responsabilidade em respeitar a dor da outra pessoa”, disse Ana. 

Carlos Zacarias, Ana Eugênia e Adilson Victor cobram do Estado uma resposta

Crédito: Leandro Barbosa/Agência Pública 

Sobre ambas as situações, a Polícia Civil do Estado do Ceará informou à reportagem que os casos de tentativa de estelionato e injúria racial foram registrados e seguem em investigação. “Detalhes do trabalho policial serão divulgados em momento oportuno para não comprometer as investigações em andamento.”

Sem solidariedade dos governos

Através da Associação dos Estudantes da Guiné-Bissau no Ceará, Adilson e Carlos solicitaram o apoio para o traslado do corpo de Milton à embaixada guineense no Brasil. Contudo, não receberam a ajuda financeira que esperavam. “A embaixada nunca esteve com a gente, é como se ela nem existisse”, desabafa Adilson. 

Em nota, a embaixada da Guiné-Bissau no Brasil informou “que não possui condições financeiras e não está dotada para os fins supra solicitados”. O órgão disse ainda que a sua atuação em relação ao traslado para a Guiné-Bissau dos restos mortais dos cidadãos guineenses falecidos no Brasil se estende apenas à cooperação de colaboração na emissão de documentos, intermediação entre órgãos alfandegários e as instituições funerárias, bem como ao contato com o Ministério de Relações Exteriores (MRE) do Brasil, caso necessário. 

O governo da Guiné-Bissau publicou uma nota em que afirma que “Milton Sanca, casado, pai de 4 filhos, era um emigrante exemplar, que contribuía com os recursos ganhos no país de acolhimento [no caso, o Brasil], através de remessas para sustentar a família em Bissau. Contudo, o governo enfatiza que não consta nas diretrizes da Secretaria de Estado das Comunidades a trasladação de restos mortais dos emigrantes falecidos na diáspora”. 

Família de Milton iniciou uma campanha de financiamento coletivo para arcar com os custos do traslado

Crédito: Reprodução

Adilson tentou recorrer também ao Itamaraty, contudo o órgão informou que não é atribuição do MRE prestar assistência a estrangeiros em solo nacional. João Chaves, defensor público federal com atuação na área migratória, explicou que de fato não existe nenhuma previsão de direito em favor da pessoa que faleceu ou da sua família. “O Brasil tem a obrigação de promover uma estrutura funerária digna e serviços funerários que preservem a dignidade da pessoa falecida e de sua família. O que envolve sepultura individual em cemitério, com identificação, direito a cerimônia fúnebre etc.”, informa Chaves. O defensor explica que esse tipo de repatriação não tem previsão internacional. “É uma situação muito delicada. O que se pode dizer é que os Estados não podem impedir a saída de corpos quando há o interesse da família nisso. Acaba sendo uma situação muito triste. E a solução depende bastante da organização da própria comunidade.”

Para Ana Eugênia é necessário humanizar as estruturas de governo. “Olhando para os dois países [Guiné-Bissau e Brasil], eu fico observando como se cria uma estrutura para dificultar as coisas. Tudo poderia ser mais fácil. A família não precisaria passar por tudo isso. O Milton trabalhou de 2019, quando chegou aqui, até praticamente o dia de sua morte. Ele pagou aluguel, comeu, bebeu. Ele contribuiu tanto com o Brasil quanto com Guiné, a partir do momento que ele envia o seu dinheiro pra lá. Então, eu me pergunto: por que a solidariedade encontra tanta dificuldade em penetrar essas estruturas?.”

Neste momento, a campanha online de arrecadação para o traslado do corpo atingiu 50% da meta. A família disse à reportagem não ter ainda um plano B caso a meta não seja alcançada. Para eles, enterrar o irmão no Brasil fere os rituais sagrados.

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