Três fases compõem o processo de paz com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que Juan Manuel Santos apresentou na terça-feira (04/09) aos colombianos, provavelmente no discurso mais importante de sua vida.
Reprodução/Telesur
Imagem do discurso em que o presidente Juan Manuel Santos anuncia o fim da primeira fase do diálogo com as FARC
A primeira é a fase exploratória, terminada em 27 de agosto, quando depois de um ano e meio de aproximação e seis meses de diálogos em Havana, foi assinado um acordo inicial para tentar terminar com o conflito. A segunda etapa, que começará em 15 de outubro, em Oslo, para depois ser transferida para Cuba, é a do diálogo em que se espera colocar fim ao conflito com a assinatura do acordo de paz. A terceira etapa será a da implementação dos acordos.
A agenda que se debaterá em Oslo será composta de cinco pontos: o primeiro é o desenvolvimento rural; o segundo é sobre a segurança política, ou seja, sobre as garantias do exercício de oposição e participação política; o terceiro ponto tem relação com o próprio fim do conflito armado, no qual se inclui o tema do abandono das armas e da integração dos guerrilheiros à vida civil; os quarto e quinto pontos têm a ver com o narcotráfico e as vítimas.
Uma hora depois de Santos se dirigir aos colombianos, foi a vez do chefe máximo das FARC, Rodrigo Londoño, conhecido como “Timoshenko”, se pronunciar por meio de um vídeo apresentado por alguns guerrilheiros negociadores em Havana. Nas imagens, o guerrilheiro aparece na selva, em frente a uma foto gigante do fundador das FARC, Manuel Marulanda, o “Tirofijo”. “Não nos levantaremos da mesa até firmar um acordo”, afirmou Timoshenko, acrescentando que “chegará no diálogo assediados pelas operações militares e sem arrogâncias”.
Analistas e políticos colombianos ouvidos pelo Opera Mundi se dividem quanto às perspectivas das negociações serem exitosas e terminarem, de fato, com o conflito. O cientista político e especialista em segurança Alfredo Rangel, que é muito próximo do ex-presidente Álvaro Uribe, crítico da iniciativa, desconfia das negociações. “Santos diz ter aprendido com os erros do passado, mas, na realidade, segue cometendo-os. Ele não aprendeu em Cáguan [nome do último acordo que tentou estabelecer a paz entre as partes, há dez anos] que não se pode negociar em meio a um conflito. Essa é uma concessão feita à guerrilha, que prefere negociar em meio aos combates. A guerrilha utilizará a violência e o terrorismo como um instrumento para pressionar o governo na mesa de negociações.”
Para o analista, esse elemento colocará em risco o processo, pois a opinião pública poderá defender o fim das negociações. Já o presidente da comissão para a paz do Congresso, Iván Cepeda, discorda dessa ideia, pois “escolhendo um caminho de condições e pré-requisitos, nunca chegaríamos nem mesmo a uma negociação”. “O mais importante é que estão debatendo uma agenda realista, com temas como o reconhecimento dos direitos das vítimas e a questão agrária”, diz Cepeda, do Partido Democrático.
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Assim como o presidente deixou transparecer em seu discurso de terça-feira, muitos entrevistados têm medo de posições extremadas “dos inimigos da paz” ou de setores da extrema direita, que já sabotaram negociações anteriores. Para María Teresa Ronderos, especialista da revista Semana, no entanto, os escolhidos do governo para as negociações, anunciados nesta quarta-feira (05/09), são “pessoas muito técnicas e experientes que conhecem o exército e as FARC de dentro”.
Cepeda concorda com a análise de Ronderos. “O processo está muito bem assessorado, com especialistas internacionais e governos que já trabalharam com fórmulas de sucesso em outros processos de paz. Realmente se vê que nada está improvisado, com discursos maduros e o governo reconhecendo a seriedade das FARC.”
Roy Barreras, senador do Partido de la U, de Santos e Uribe, se declarou “otimista, mas cauteloso”. “Trata-se de um processo sério, no qual as FARC afirmam seu compromisso de paz e que se caracteriza por alguns aspectos novos. É a primeira vez que a negociação se desenvolverá no exterior, enquanto, na Colômbia, continuarão os combates e enfrentamentos”, afirmou o congressista, repetindo parte dos argumentos do atual presidente. “Além disso, Santos fala de um processo relativamente curto, que durará meses, não anos.”