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Política e Economia

Femen Brazil não tem propostas feministas, acusa ex-número 2 do grupo

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Em entrevista exclusiva, Bruna Themis contou também que o grupo rejeita a participação de meninas acima do peso

Sandro Fernandes

2012-09-18T15:00:00.000Z

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O Femen Brazil é um movimento sem propostas e afastado dos ideais do feminismo. Foi dessa forma que a estudante paulistana e ex-número 2 do Femen Brazil, Bruna Themis, classificou em entrevista exclusiva a Opera Mundi o braço brasileiro do grupo feminista ucraniano, cujas integrantes ficaram conhecidas no mundo por fazer do topless uma arma de protesto.

Themis, que vive em São Paulo, acusou a líder do grupo no Brasil Sara Winter de ser centralizadora: "a palavra final é sempre da Sara, sem nenhuma discussão prévia". A ex-Femen Brazil também sugeriu que a líder do grupo é simpática ao nazismo. "A Sara disse que admira Hitler como pessoa, que ele foi um bom marido, que amava os animais, mas que não admira o Hitler público", afirmou. 

Além disso, Themis detalhou como é o processo de seleção das meninas que desejam ingressar no Femen Brazil e contou que a "matriz" ucraniana criticou as brasileiras, "porque colocamos meninas gordinhas nos protestos". De acordo com ela, o Femen "quer somente meninas que se enquadrem no padrão de beleza delas" nos protestos. 

Opera Mundi: O Femen cada vez mais ganha novos adeptos em diversos países e, apesar da crescente popularidade do grupo, você resolveu se desvincular do movimento. Por quê?

Bruna Themis: Eu acreditava no movimento, na causa, mas o tempo foi passando e eu vi que não compartilhávamos a mesma ideologia. Participei do meu primeiro protesto em 29 de julho, pela humanização do parto em casa, mas em menos de um mês já não estava contente com os rumos do projeto. O movimento no Brasil está sem propostas, sem perspectivas, sem embasamento teórico. O Femen Brazil está perdido, sem rumo algum.

Bruna Themis (à direita) e Sara Winter (à esquerda) durante primeira reunião do Femen Brazil em São Paulo (Foto: Reprodução/Facebook)
A questão do envolvimento político do grupo também pesou para a minha saída. O Femen se apresenta como apartidário, mas eu não sabia que o Andrey (Russo, assessor da Sara Winter, líder do grupo, e do Femen Brazil) era candidato a vereador. Eu perguntei à Sara quem era o Andrey, qual era a relação que eles tinham, mas não tive resposta. Os dois estão enganando muita gente e tenho provas. Não quero prejudicar ninguém, mas não quero que mais pessoas caiam na mesma história.

(Andrey Cuia ou Andrey Russo é candidato a vereador em Santo André pelo PMN, o Partido da Mobilização Nacional, que apoia a candidata Soninha Francine para a prefeitura de São Paulo. Em seu perfil do Twitter, ele se apresentava como “assessor voluntário do Femen Brazil”, mas já não coloca o “cargo” na descrição do perfil)

Tive muito pouco contato com o Andrey. Ele aparecia somente quando dávamos entrevistas. Há muita falta de comunicação no grupo. Tudo é passado diretamente à Sara e ela repassa à equipe. Passei uma semana na casa dela em São Carlos e as conversas que tivemos me fizeram ter ainda mais certeza de que queria deixar o movimento. Muitas coisas me desagradaram, como a maneira que ela enxerga o projeto e o futuro dele. Também questionei as inúmeras revistas com a figura de Hitler que ela tem em casa. A Sara disse que admira Hitler como pessoa, que ele foi um bom marido, que amava os animais, mas que não admira o Hitler público. Achei meio estranho.

OM: Mas vocês tiveram alguma formação teórica, algum curso? Qual é a relação do Femen Brazil com a sede na Ucrânia?

BT: Não sei o que elas querem, por que elas criaram o Femen. O Femen Ucrânia me escreveu somente agora, quando eu saí do movimento. Eles não sabem quem é a líder, quem é a Sara Winter. E nós não sabemos nada delas. A Sara foi a Kiev (capital da Ucrânia) sozinha.

Funcionamos quase de maneira independente. Sou contra muitas das ações do grupo. Não concordei com o protesto pela banda punk russa Pussy Riot, por exemplo, na porta da embaixada. Não estou de acordo com a sentença das meninas, obviamente, mas acho que no Brasil temos muitos problemas, temos muitos assuntos para serem debatidos. O assunto das Pussy Riot é menos relevante para nós. Precisamos falar de números, de estatísticas e apresentar propostas ao governo. Fui contra também quando as meninas cortaram a cruz lá na Ucrânia. Achei desnecessário.

OM: O Femen Ucrânia é muitas vezes classificado como conservador por posicionar-se contra a prostituição, mesmo quando a mulher quer exercer a atividade. A Sara declarou em uma entrevista que pensa igual. Essa era a posição do Femen Brazil?

BT: O Femen Brazil não se posiciona sobre o assunto. O Femen Ucrânia acredita que a mulher escolhe a prostituição por falta de opção, mas não acho que seja sempre a verdade. Os membros do Femen Brazil nunca sentaram para falar sobre isso, porque toda e qualquer opinião vem da Sara.

Sou a favor do direito de escolha da mulher. Já conversei com algumas meninas que se dedicam à prostituição e inclusive tenho uma amiga que já trabalhou neste ramo, mas se ela chegar pra mim e disser que é realmente a escolha dela, eu não tenho nada a dizer. É a decisão dela. Eu ouvi histórias de meninas que disseram que não tinham opção e caíram nesta vida, mas outras que realmente preferiam vender o corpo. A decisão tem que ser sempre da mulher, é o corpo dela.

Integrantes do Femen Brazil em entrevista no programa televisivo Superpop (Foto: Reprodução/Facebook)

OM: Mas qual é a proposta do Femen?

BT: O Femen não tem proposta, isso eu posso afirmar. Elas não gostam nem de ler as críticas nos jornais ao movimento. Eu sempre lia e queria saber o porquê de falarem isso ou aquilo.

A sociedade ucraniana é diferente da nossa e o discurso do Femen deveria ser adaptado ao nosso contexto. As meninas da Ucrânia não sabem o que acontece no Brasil. Na Ucrânia, elas são o primeiro movimento feminista do país. No Brasil, não. Como podemos ser um movimento feminista no Brasil se não dialogamos com os outros movimentos que compartilham a mesma luta?

Muitas pessoas se ofereceram para ajudar, para nos dar formação, para nos explicar um pouco a história do movimento feminista no país, mas a Sara sempre recusou. O Femen é um movimento feminista que não trabalha com as feministas. E o Femen não é nem um movimento social porque não desenvolve e nem tem projeto para realizar nenhum trabalho social. Nenhum.

OM: E como é a seleção das meninas? Quem pode participar do grupo?

BT: O processo seletivo tem três etapas. Primeiro, fazemos uma entrevista, depois pedimos para que a candidata coloque um foto de topless no Facebook, para receber a reação de amigos e família e, por último, para que faça um topless em público, para que ela sinta o corpo dela. Mas muitas pessoas entraram no Femen sem entrevista. Não sabemos nem o que a pessoa buscava no movimento. A Sara estava mais preocupada com quantidade do que com a qualidade.

Bruna Themis, ex-integrante do Femen Brazil, e Sara Winter em protesto em favor do parto em casa em São Paulo (Foto: Fernando Lessa)

OM: Muita gente critica o movimento dizendo que as meninas só querem ficar famosas. Dizem que é um produto para ser consumido pelos meios de comunicação de massa, mas sem profundidade.

BT: Quando fui detida, uma das meninas me empurrou porque queria aparecer na câmera. É engraçado e triste. O Femen não é um movimento feminista. Ninguém lá sabe o que é feminismo. Eu sugeri que a gente buscasse vínculos com outros coletivos ou outros grupos feministas, mas a Sara recusou.

OM: Mas o movimento da Ucrânia também é assim? Elas também só querem estar na televisão ou essa crítica é somente ao grupo no Brasil?

BT: Da Ucrânia a gente sabe muito pouco. Mas segundo a Sara, nós recebemos criticas porque colocamos meninas gordinhas nos protestos. Elas querem somente meninas que se enquadrem no padrão de beleza delas. Nem sei se eu deveria estar falando sobre isso, mas enfim… As meninas da sede do Femen reclamaram dizendo que não seria bom para o movimento colocar meninas acima do peso no grupo.

Sara Winter posa para ensaio fotográfico de Fernando Lessa (Reprodução/Facebook)OM: E quem administra a parte financeira?

BT: Eu nunca me envolvi com a questão de dinheiro, mas não há nenhuma prestação de contas. O dinheiro vai pra conta da Sara e pelo que a gente ficou sabendo agora, para a conta de PayPal do Andrey. Não sei como ela gasta o dinheiro. Eu disse pra Sara que o dinheiro das camisetas poderia ser usado para cobrir nossos gastos, mas as doações poderiam ser revertidas a organizações e ONGs que trabalham, por exemplo, com mulheres que são vítimas de violência domestica. A Sara não se posicionou. Não sei se ela vai considerar esta ideia.

OM: Você era a número 2 do movimento. Por que você saiu do grupo sem nenhuma explicação prévia?

BT: Eu já sabia que não ia fazer o protesto em Brasília. Não falei nada com a Sara. Fiz o check-in no aeroporto, fomos para a praça de alimentação e, enquanto a Sara cochilava, eu resolvi dar uma volta. Precisei de uns minutos pra tomar coragem, cancelei o meu voo e não falei nada para ela. Fiquei na sala de desembarque e desliguei o celular.  Liguei para o Andrey e avisei que estava me desligando do movimento. Ele me disse que a Sara estava me procurando, mas que depois nós podíamos conversar, quando ela voltasse de Brasília. Fui para casa, dormi e não liguei o computador nem chequei as redes sociais. Às 22h, a minha mãe me ligou perguntando o que havia acontecido, que história era aquela de sequestro. Eu não sabia de nada, estava em casa. A Sara inventou isso pra imprensa e deixou todo mundo preocupado. Eu nunca recebi ameaça nenhuma.

OM: E você não recebeu ameaças da Sara ou do Andrey, depois de ter saído do grupo?

BT: Ainda não. Talvez depois desta entrevista (risos). Eu não quero prejudicar ninguém. Eles vão se destruir sozinhos. Cada um querendo comer o outro. O Femen não conversa nem mesmo sobre o que a líder ou os membros vão falar em público. A única preocupação é em aparecer. A palavra final é sempre da Sara, sem nenhuma discussão prévia. Não éramos uma equipe. Temos uma líder que não sabe pra onde ir. A Sara me disse que eu estou recebendo dinheiro de alguém pra prejudicá-la, mas eu só quero mesmo é alertar as pessoas que acreditam na história do Femen.

OM: Você é feminista ou neofeminista?

BT: Eu perguntei à minha psicanalista esta semana algo parecido, mas a minha dúvida é se eu sou feminista ou humanista. Quero continuar com trabalhos sociais, mas quero ver que estou mudando algo. Não entrei no Femen buscando fama e não tenho intenção de participar de nenhum programa de televisão, mesmo se me chamarem.

OM: E posar nua?

BT: Quando eu estava no Femen, não fazia sentido posar nua. Agora eu não sei se teria coragem de fazer isso.

OM: Você se arrependeu de ter feito parte do movimento?

BT: Não estou frustrada. Estou magoada. Conheci pessoas erradas.

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Javier Milei nomeia ‘rabino pessoal’ como embaixador da Argentina em Israel

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Shimon Axel Wahnish foi responsável por apresentar a Torá ao novo presidente argentino, que não é judeu; sem experiência diplomática, o religioso desembarcará no Oriente Médio em meio à intensa guerra israelo-palestina

Redação Opera Mundi

São Paulo (Brasil)
2023-12-11T22:10:00.000Z

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O presidente da Argentina, Javier Milei, nomeou seu “rabino pessoal”, Shimon Axel Wahnish, como o embaixador do país em Israel que desembarcará no Oriente Médio em meio à intensa guerra do Estado israelense contra o povo palestino.

No último domingo (10/12), dia da posse, Wahnish foi apresentado ao ministro das Relações Exteriores israelense, Eli Cohen, que também esteve presente no evento, em Buenos Aires.

À noite, durante a cerimônia inter-religiosa que aconteceu na Catedral Metropolitana, Wahnish confirmou a notícia ao entregar sua mensagem a Milei, diante de representantes de outras religiões. O rabino citou os Salmos. “A coragem humana consiste na capacidade de cair e levantar-se. E, como argentinos, sabemos disso. É preciso levantar e começar de novo”, afirmou.

O novo embaixador, sem experiência diplomática, foi o responsável por apresentar o estudo da Torá ao novo mandatário argentino e é membro reconhecido da comunidade judaico-marroquina no país sul-americano.

Milei não é judeu, mas estuda o livro sagrado do judaísmo desde 2021.

Twitter/Urgente24.com
Shimon Axel Wahnish, "rabino pessoal" de Milei, é o nomeado embaixador da Argentina em Israel

Após vencer as eleições presidenciais, no final de novembro, o presidente argentino visitou o túmulo de um rabino em um cemitério no bairro do Queens, em Nova York, em forma de “agradecimento” pelo triunfo. O local é onde estão enterrados os restos mortais do rabino de origem ucraniana Menachem Mendel Schneerson.

A embaixada da Argentina em Israel estava vaga desde que o ex-governador de Entre Ríos, Sergio Urribarri, foi condenado por corrupção e renunciou ao cargo em abril de 2022.. Agora Wahnish assumirá a função em um momento delicado em virtude da guerra de Israel contra o povo palestino.

Durante a campanha eleitoral, Milei havia anunciado planos para declarar o Hamas como uma "organização terrorista" e transferir a embaixada argentina para Jerusalém. No último debate realizado antes das eleições presidenciais, o novo mandatário havia também  manifestado “solidariedade com Israel e seu pleno direito de proteger seu território dos terroristas”.

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