Agência Efe
Rússia Unida, o partido do presidente da Rússia Vladimir Putin (foto acima), é o favorito nas eleições municipais e regionais do país
Os russos de mais de quarto mil cidades do país foram às urnas neste domingo (14/10) para escolher seus novos líderes locais, num pleito que está sendo considerado como o primeiro teste ao Kremlin desde as eleições presidencias de março deste ano, que colocaram Vladimir Putin pela terceira vez como presidente do país.
As eleições do início deste ano foram marcadas por inúmeros protestos em todo a Rússia, com críticas ao crescente autoritarismo de Putin e às fraudes eleitorais denunciadas durante a campanha e na contagem de votos. As manifestações chegaram a ser chamadas de “Primavera Russa”, em referência aos protestos no mundo árabe, mas a heterogeneidade dos participantes e o controle cada vez mais rigoroso (que alguns chamam de censura) dos meios de informação russos foram pouco a pouco dissipando a oposição.
Agência Efe
Polícia russa prende manifestante que protestava contra o governo de Vladimir Putin no dia de seu 60º aniversário em Moscou
As eleições deste domingo (14/10) são a grande prova da popularidade (e talvez da capacidade de controle) do Kremlin. Mais uma vez o partido Rússia Unida, que apoia Putin, é o grande favorito nestas eleições regionais, as primeiras desde 2004.
Há oito anos, Putin promulgou uma lei que acabou com as eleições diretas para governadores das províncias russas, alegando que seria uma “maneira de evitar separatismos e crimes”. A medida foi tomada após o ataque a uma escola na cidade de Beslan, no mesmo ano, quando um grupo terrorista manteve 1127 pessoas como reféns durante dois dias e o episódio terminou com a morte de 331 cidadãos.
NULL
NULL
A lei foi amplamente criticada pela oposição, mas somente no início de maio deste ano o ex-presidente e atual primeiro-ministro, Dmitry Medvedev, aprovou uma nova resolução que garantiu eleições regionais diretas.
Apesar destas eleições serem a única conquista concreta dos protestos que tomaram conta na Rússia no último inverno, esta primeira reforma política não parece animar os russos. O partido Rússia Unida deve ganhar em quase todas as regiões do país, com pouco (ou nenhum) espaço para a oposição.
“Eleições? Na Rússia? Não, não sabia. Mas sei que nada vai mudar. Putin controla todos os meios de comunicação e as pessoas nem sabem que existem outras opções que não sejam a Rússia Unida”, declara o jovem Aleksey, de 27 anos, que participou das manifestações anti-Putin. “Eu não tenho mais interesse na política deste país. Temos um czar e ele não vai sair do poder. De Kaliningrado a Vladivostok, ele conseguiu colocar pessoas próximas a ele no poder ou controlando as principais instituições”.
Nas redes sociais, as eleições deste domingo refletiram o apoio a Vladimir Putin, com a hashtag #ЯзаЕдинуюРоссиюПотомуЧто (Eu apoio a Rússia Unida porque) entre as mais populares da semana.
Apesar da popularidade de Vladimir Putin ter caído vertiginosamente, dos 80% em 2008 para não mais de 50% hoje, este descontentamento não deve ser expressado nas urnas. O comparecimento médio dos eleitores nas seções eleitorais não chegou a 50%, com algumas províncias registrando ínfimos 15% de participação.
Nas eleições presidenciais do último mês de março, Putin ganhou no primeiro-turno com 63% dos votos, não tendo alcançado a maioria absoluta dos votos apenas em Moscou.
“O partido governista aprendeu a ganhar com medidas mais suaves que as falsificações”, declarou a jornalistas Roman Udot, coordenador do grupo de monitoramento eleitoral Golos, financiado pelos Estados Unidos.
Na região de Ryazan, por exemplo, um candidato que parecia poder competir com o partido Rússia Unida abandonou a disputa sem maiores explicações, mas rumores apontam para uma troca política entre o candidato e o partido governista.
Khimki: a cidade que já era revolucionária antes dos protestos anti-Putin
Muito antes de que dezenas de milhares de russos fossem às ruas no final de 2011 para protestar contra o governo de Vladimir Putin e exigir eleições livres, a cidade de Khimki, um subúrbio do norte de Moscou, já havia se tornado um ponto de encontro para os opositores do Kremlin. Desde 2007, ativistas ambientais, jornalistas independentes e líderes da sociedade civil vêm protestando contra a decisão do governo de destruir parte da floresta da cidade (a única do norte da capital russa) para abrir caminho para uma via expressa ligando Moscou a São Petersburgo. A empresa que venceu a licitação para a construção da auto-estrada pertence ao bilionário Arkady Rotenberg, amigo de longa data de Putin e antigo parceiro de judô do presidente. De acordo com uma pesquisa de 2010 do Centro Levada, 76% dos residentes Khimki apoiam os manifestantes.
Apesar do descontentamento, o prefeito de Khimki Oleg Shakhov, apoiado pelo partido governista Rússia Unida, deve vencer as eleições na cidade. As pesquisas de boca-de-urna apontam que o candidato pode alcançar 44% dos votos, quase o dobro da candidata da oposição, Eugenia Chirikova, uma ecologista que ficou popular pelos embates travados para defender a floresta de Khimki.
No entanto, o especialista Nikolay Petrov, do Centro Carnegie de Moscou, alerta: “A vitória de praticamente todos os candidatos apoiados pelo Kremlin pode reascender os protestos anti-Putin pelo país. Temos que esperar para ver as consequências a longo prazo”.
Este ano, o governo central elevou contas de serviços públicos para os cidadãos russos em média de 5 a 6%. As contas de água aumentaram em 12% e as contas de gás em 15%. O inverno russo que se aproxima pode ser mais uma vez testemunha de calorosos protestos contra o regime de Vladimir Putin.
Durante todo o dia, as plataformas de oposição denunciaram com vídeos e fotos as fraudes eleitorais e a compra de votos em inúmeras regiões da Rússia. Os resultados finais devem ser anunciados durante a madrugada, noite de domingo no horário de Brasil.