A decisão de Netanyahu de atacar a Faixa de Gaza a apenas poucos meses das eleições gerais de Israel é vista por setores da esquerda local como uma possível estratégia para acumular popularidade nas urnas.
Políticos e imprensa se questionam se Netanyahu iniciou a operação aérea (que pode vir a se tornar também terrestre) na tentativa de desviar a atenção da opinião pública de outras questões prementes, como, por exemplo, a economia e a deterioração do estado de bem-estar social.
No histórico das últimas sete eleições gerais de Israel, a operação batizada de Pilar Defensivo já é a quinta ofensiva militar sobre a Palestina que eclode às vésperas do início dos comicios.
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“Em 2009, a apenas dois meses das eleições, o então primeiro-ministro Ehud Olmert decidiu iniciar a operação Chumbo Fundido, que matou 1400 palestinos”, explica Ahmed Tibi, membro da bancada do Partido da Lista Árabe Unida no parlamento israelense.
“O mesmo ocorreu em 1981, quando Menachem Begin atacou Badgá a apenas meses dos comicios. Simón Peres também estava a alguns meses das eleições durante a operación Uvas da Ira no Líbano. E a lista continua. O padrão de atacar antes das eleições é muito frequente em Israel”, comenta Tibi.
Efe
“Agora Netanyahu não terá que responder a perguntas incômodas, como a razão pela qual um quarto dos israelenses vive abaixo da linha de pobreza, ou o porquê de a maioria dos bens de consumo custarem o dobro aquí do que na Europa, e mesmo a origen da escassez de moradias a preços acessíveis para jovens. Essa é uma estratégia incrível para ele: ganha um mês sem ter de oferecer explicações”, alegou Tibi.
Outros políticos de esquerda ou centro, como Shelly Yehimovich, líder do Partido Trabalhista, comentaram à imprensa que essa operação é muito “oportuna” para incrementar a popularidade de Netanyahu. Até Tzipi Livni, que liderou o partido oposicionista Kadima e se aposentou da política antes das eleições, criticou a decisão de iniciar uma ofensiva contra Gaza.
O governo israelense defende a ideia de que a operação Pilar Defensivo é necessária para garantir a segurança dos cidadãos do sul do país. “Não, definitivamente não. A proximidade das eleições é meramente uma coincidencia” disse ao Opera Mundi Mark Regev, porta-voz do gabinete de Netanyahu. “Esta é uma operação rápida. Não queremos que se prolongue por muito tempo. O objetivo é debilitar o Hamas para alcançar uma calma relativa para a população do sul”.
Einat Wilf, parlamentar do Partido Independência, que é liderado pelo ministro da Defesa, Ehud Barak, concorda com Regev e assegura que esta operação foi iniciada principalmente devido à oportunidade que surgiu para acabar com a vida de Ahmed Jabari, o chefe do braço militar do Hamas.
Efe
“Houve uma oportunidade para eliminar Jabari e, assim, dar um golpe se não fatal, ao menos forte na estrutura militar do Hamas em Gaza”, comenta Wilf. “Além disso, Netanyahu estava sendo pressionado por todos os lados para que colocasse um fim à situação no sul de Israel, onde desde sábado, choveram mais de 100 foguetes. Não acredito que isso tenha algo a ver com as eleições”.
Mas as coincidências com outras operações militares israelenses antes das eleições são muitas. Também em 2002 Israel iniciou uma ofensiva contra a Cisjordânia para responder aos atentados terroristas em seu território justamente meses antes de Sharon ser reeleito pelo Likud. Nessa mesma época, argumentou-se que seria necessário proteger cidadãos israelenses da Segunda Intifada. Em 2006, foi lançada outra operação em Gaza, logo após o Hamas conseguir o controle da Faixa de Gaza. Isso fez com que Ehud Olmert fosse reeleito pelo partido Kadima, que Ariel Sharon havia fundado pouco tempo antes.