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Partido Pirata não tem uma plataforma política, pois cada questão é votada e discutida por seus membros quando necessário
Durante as últimas eleições em Israel, somente 12 partidos estavam disputando as vagas ao parlamento Knesset. Mas, neste ano, contrastando com a apatia eleitoral de muitos israelenses, uma miríade de pequenos grupos se jogou na arena política, aumentando o número de competidores para 34 no pleito da próxima terça-feira (22/01).
Como na maioria dos países democráticos, com a proximidade das eleições, novos partidos são formados. Alguns deles são sérios, outros, uma piada que não deve durar até o próximo pleito no país.
Provavelmente, o Brit Olam (Alinça Eterna), partido de Opher Lipshitz, vai ser um deles, mesmo com seu fundador sendo otimista. De acordo com Lipshitz, sua experiência política é “divina”. Nove meses atrás, quando ele estava trabalhando como eletricista em Los Angeles, nos Estados Unidos, ele vivenciou uma revelação divina que mudou sua vida.
“Eu estava trabalhando em alguns fios, quando, de repente, senti o que pode ser descrito como um fogo intenso passando pelo meu corpo por cerca de 15 minutos. Então, Deus revelou-se a si mesmo para mim e me disse que eu tinha de salvar o mundo”, disse Lipshitz, esclarecendo que o fogo intenso que ele sentiu não foi uma eletrocução. “Eu então decidi voltar a Isreal e criar esse partido, esse que eu fundei alguns meses atrás para redimir o povo judeu e promover o retorno do Messias.”
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Ainda que sem uma agenda política clara, o Brit Olam promete aos seus eleitores assistência médica e educação gratuitas, menos taxas e o fim dos juros bancários. “A Torá diz que é pecado cobrar juros sobre empréstimos”, disse o visionário.
[Opher Lipshitz]
Em se tratando do conflito de uma década com os palestinos, Lipshitz tem uma ideia muito clara do que deve ser feito. “É a terra de Israel, então definitivamente sou contra uma solução de dois Estados. Israel deveria retomar a terra para si, e se os árabes quiserem ficar, eles podem. Eu tenho certeza de que eles seriam mais felizes conosco do que sob o Hamas ou o Fatah e dessa maneira nós acabaríamos com o conflito”, disse ele.
Uma ideia ainda mais estranha sobre como trazer paz para a terra do leite e do mel vem de outro partido criado recentemente, o Finance Party [Partido Financeiro, em inglês], uma ideia dos irmãos Goldstein.
O Finance acredita que a construção de shoppings e de outros centros de recreação na fronteira com Gaza e Cisjordânia promoverá negociações entre os dois lados.
“Veja por esse lado se nós tivermos esses centros dos dois lados, e se eles forem áreas livres de impostos, pessoas dos dois lados vão enchê-los. Então eles vão se misturar e conhecer o outro melhor enquanto ativam a economia das duas terras, porque esses lugares vão criar empregos para árabes e judeus”, disse Benny Goldstein à agência de notícias Xinhua.
“Nós precisamos abrir canais de comunicação, e uma coisa que todo mundo quer é colocar comida na mesa no final do dia”, disse. Goldstein também chama os israelenses de esnobes que não querem fazer certos tipos de trabalho, o que termina aumentando o preço pago por tais serviços.“Se nós fossemos eleitos, abriríamos as fronteiras e deixaríamos os palestinos virem e trabalharem, porque dessa forma nós levantaríamos a economia israelense e também a palestina.”.
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Uma das principais questões na agenda política do Finance Party é, obviamente, a economia. Os irmãos Goldstein acreditam que, ao copiar leis e sistemas econômicos de países bem sucedidos, Israel vai crescer e tornar-se uma florescente economia global.
“Uma das principais mudanças que nós faríamos seria mudar o salário para semanal, em vez de mensal. Já foi provado que as pessoas cuidam do seu dinheiro muito melhor assim e o governo pode coletar impostos de uma maneira mais eficiente. Nesses países, existem hipotecas semanais e outros serviços adaptados a esse sistema, que funcionam melhor que o estipêndio mensal. Dessa forma, todos poderiam sobreviver até o final do mês”, ele explicou, fazendo piada.
Mas a economia do partido Finance não sai de graça, segundo Goldstein. “Nós não estamos oferecendo às pessoas populismo barato, como educação e transporte público gratuito, porque não é viável oferecer tudo de graça. Nós acreditamos em uma maneira racional e estudada de fazer economia”, disse o estudante de direito de 30 anos de idade.
Esquerda
Do outro lado do prisma político, especialmente no que se trata de economia, está o Hadash, ou “Novo”, em hebreu, um partido que se define como socialista e comunista, cujo líder é o árabe-israelense MK Mohammed Barakeh.
“Nós somos o último partido realmente socialista em Israel”, diz Dov Hanin, número três do partido, à Xinhua. “Nós acreditamos que, ao nacionalizar recursos, como as reservas de gás no Mediterrâneio e de fosfato no deserto de Negev, a economia vai melhorar”.
O Hadash defende um “socialismo radical”, como diz o próprio Hanin, como uma solução aos problemas econômicos de Israel.
“Nosso país, como muitos outros no mundo, está sendo governado por um pequeno grupo de magnatas da economia, que controlam a economia do estado. Está na nossa agenda desmantelar os monopólios que estão fazendo os preços irem às alturas, como os da indústria de laticínios”, disse Hanin.
A proposta do Hadash para o conflito é também seu principal slogan. O partido acredita firmemente em uma solução de dois estados, também para o bem de Israel.
“Solucionar esse conflito não é apensas uma questão de solidariedade ou de interesse próprio, porque se o Oriente Médio explodir, também será problema nosso e de todo mundo, porque se a distribuição de petróleo é interrompida, então todos vão sofrer”, disse Hanin.
Outro partido pequeno, criado apenas há um ano, é o Partido Pirata. Ele é parte do Partido Pirata Internacional, um movimento que se originou na Suécia e se espalhou por outros países europeus. A rede global do movimento usa o que eles chamam de “feedback líquido” [plataforma online], no qual membros do partido podem votar diretamente qualquer iniciativa a ser discutida.
“Com o feedback líquido, a corrupção política é apagada, já que não é possível chantangear um membro do partido porque ele é literalmente a voz do povo, e não é possível ao partido tomar suas próprias decisões porque são os membros que decidem, por votação online”, disse Ohad Shem-Tov, chefe do PP em Israel.
Parte da agenda política do PP israelense é tornar-se um membro de pleno direito da União Europeia, já que, disse Ohad, Israel recebeu ofertas para fazer parte do grupo em diversas ocasiões. “Muitos líderes europeus nos convidaram a ser parte da UE, mas Israel declinou as ofertas”, explicou Shem-Tov. “Nós acreditamos que fazer parte dessa união traria paz a Isreael e nós também dividiriamos nosso potencial com a UE.”
O PP israelense se classifica como um partido liberal, que luta por legalização da maconha e assistência médica, educação e transporte totalmente subsidiados.
“Nosso objetivo principal é transformar a democracia, já que, uma vez que o público votou, ele não tem mais voz nas decisões que afetam sua vida diária. Nós sugerimos um sistema no qual todo membro partidário pode sugerir ideias e votar, além de ter delegações ou membros que o represente em diversos temas”, disse Shem-Tov.
É por isso que o partido em si não tem opinião própria em temas como a possibilidade de uma solução de dois estados, uma vez que seriam os membros não-oficiais que votariam sobre a questão.
“Em se tratando de coisas do tipo, eu posso ter minha própria ideia, mas se os membros do partido elegem algo diferente, terei de aceitar. Nós somos israelenses e podemos nos preocupar com os interesses dos israelenses e os dos árabes, nossos vizinhos, e é claro que nós continuaríamos a doutrina de Isreal de tentar encontrar paz com seus vizinhos. Mas depende dos dois lados”, disse ele.