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Política e Economia

Riquezas minerais, além do combate ao terror, explicam intervenção francesa no Mali

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Ao mesmo tempo em que é julgada como necessária, fatores como a riqueza natural malinesa são levados em conta por críticos

João Novaes

2013-01-19T12:40:00.000Z

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O Mali, país localizado na região da costa oeste africana, está desde o dia 11 de janeiro sob intervenção das Forças Armadas da França, país de quem foi colônia até 1959. O país enfrenta uma guerra civil iniciada no ano passado por rebeldes separatistas de origem tuaregue e que, posteriormente, teve o envolvimento de uma coalizão de milícias de orientação religiosa que se aproximava rapidamente da capital, Bamako, sudoeste do país.

Oficialmente, a justificativa do presidente francês François Hollande para a ação militar é que ele recebeu um pedido de emergência do presidente malinês, Dioncounda Traoré, e que o único objetivo do país europeu seria assegurar a segurança do país africano, afastando-o do risco de ser tomado por forças militares terroristas.

Leia aqui o processo histórico que levou aos conflitos na atual região do Mali
Conheça aqui os principais atores envolvidos na guerra malinesa

Por um lado, a versão oficial é apoiada pela população francesa, pelo governo do Mali e pelos países vizinhos. No entanto, os críticos apontam outros motivos (como a riqueza dos recursos naturais malineses) para que a intervenção seja interpretada como uma nova ofensiva neocolonialista da França na região. Outro aspecto levado em conta para criticar a iniciativa é a baixa popularidade de Hollande, que poderá reverter a tendência de queda livre em caso de sucesso militar.

Especialistas africanos entrevistados pela reportagem de Opera Mundi afirmam que a medida era necessária, mas poderá trazer problemas para as tropas francesas caso a ofensiva se prolongue ou a relação entre as tropas e os civis malineses se deteriore.

Opera Mundi publica um especial em que mostra as origens do conflito, os prós e os contras da intervenção francesa e quais podem ser suas possíveis repercussões.

As razões da França e o subsolo do Mali

“Temos um único objetivo: assegurar que, quando sairmos, ao fim de nossa intervenção, o Mali esteja seguro, com autoridades legítimas, um processo eleitoral em curso e sem mais terroristas ameaçando seu território”. Essa declaração é de um dos trechos em que Hollande justifica os motivos da França ter entrado no conflito.

"O Mali enfrenta uma agressão de elementos terroristas que vêm do norte [do país] e que todo o mundo conhece pela brutalidade e pelo fanatismo. Está em jogo a própria existência deste Estado amigo, a segurança de sua população e a de nossos seis mil cidadãos que estão lá", acrescentou o presidente francês.

“A intervenção no Mali é completamente legal e legítima: acima de tudo, ela pretende combater uma coalizão de grupos terroristas que tomou o norte do país e impôs a sharia a essa população, submetendo-os a violações graves dos direitos humanos. As tropas do Mali não tinham condição alguma de combate-los, era impossível. Se a França não tivesse entrado, as forças rebeldes já teriam tomado em Bamako”, afirma o senegalês Hamidou Anne, especialista em Relações Internacionais e membro do think tank africano Teranga em entrevista a Opera Mundi.

Ele lembra que, diferentemente de outras ocasiões, essa ofensiva foi solicitada pelo presidente malinês e teve apoio do Conselho de Segurança da ONU.

Agência Efe (11/01)

O presidente francês, François Hollande, no discurso em que anunciou o envio de tropas francesas ao Mali

O marfinense Joel Te-Lessia, especialista em Relações Internacionais, lembra também que um dos principais argumentos justificados por Hollande, a integridade territorial do Mali, “não é verdadeiro. Tanto que seu antecessor, Nicolas Sarkozy, no início do conflito, havia orientado o governo malinês a negociar, não com os terroristas, mas com o MNLA (Movimento Nacional de Libertação de Azawad, grupo separatista secular). Quando os rebeldes perderam o controle para os islamistas, a situação mudou”.

Te-Lessia lembra que, inicialmente, estava previsto que a ofensiva seria comandada por países africanos, coordenados pela Cedeao (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental), com os franceses apoiando na logística. “No mês desde outubro (quando o CS da ONU deu o sinal verde), eles não se mostraram prontos. Acredito que Hollande não tinha o desejo que a França interviesse, não era interessante para ele que a imagem da França como estado policial voltasse ao imaginário africano, mas as forças do Mali não podiam fazer mais nada, nem as africanas ; e os outros países vizinhos estariam em perigo”.

Ana Carolina Marques/Opera Mundi


No entanto, para o jornalista suíço Gilles Labarthe, fundador da agência de notícia Datas, as intenções da França passam longe de termos como “guerra ao terror” e “ajuda humanitária”. Especialista em colonialismo francês e autor de livros como "L'or africain. Pillages, trafics & commerce international" (em tradução livre "O ouro africano: pilhagens, tráfico e comércio internacional"; editora Agone, 2007), ele afirma, em entrevista ao site espanhol Publico.es, que parece “claro que a França e o resto dos países implicados no Mali estão se movendo pelo interesse de assegurarem os recursos minerais da região, como já ocorreu há dois anos na Líbia”.

O jornalista admite que “é mais difícil identificar que o lobby industrial está por trás de tudo”, mas ele aponta que importantes companhias extrativistas como a Aréva possuem o direito de explorar o urânio no Níger e estão a apenas 200 quilômetros da fronteira com o Mali. A empresa fechou 2012 com um crescimento de 4% a 6% no faturamento, e há perspectiva de crescimento em 2013. A França tem a energia nuclear como principal fonte de sua matriz energética, e seu governo é proprietário de 14,33% da companhia.

Sobre as intenções francesas, Anne lembra uma frase do general Charles de Gaulle: “Os estados não têm amigos, tem interesses”. “Ninguém duvida que, caso as forças oficiais vençam, os franceses terão interesses nesses recursos. Não será surpresa se a França tiver uma maior presença no setor de extração mineral”, afirmou ele.

“Se o Mali cair nas mãos dos terroristas, estes terão ao leste a fronteira com o Níger, aberta e completamente vulnerável. Lá estão situadas minas de urânio, com companhias francesas instaladas por lá. Claro que esse fator teve uma importância na decisão”, diz Le-Tessia.

Carlos Latuff/Opera Mundi


Apesar de possuir extensa superfície desértica, o Mali é uma vasta fonte de recursos minerais, muitos deles ainda não explorados. 

As prospecções de urânio no país são animadoras, principalmente na região de Kidal (leste, zona reivindicada por separatistas e controlada pela coalizão insurgente islâmica), próximas ao Niger.

O Mali é também o terceiro maior extrator de ouro na África. No entanto, a maioria das minas de ouro do país está localizada no sul, próxima à fronteira com o Senegal, não havendo consequência imediata para o processo de extração.

Além do urânio e ouro, o país também possui destacadas reservas de cobre, diamante, manganês, ferro, fosfato, bauxita, zinco, lítio, entre outros metais (ver infográfico acima), além da possibilidade de se tornar importante exportador de petróleo – com a maioria das reservas localizadas na região norte.

Tempo indeterminado

Hollande afirmou que a França ficará no Mali "o tempo que for preciso". E, nos primeiros dias, os oficiais franceses se surpreenderam com a organização e os equipamentos das forças rebeldes.

Agência Efe (18/01)

Manifestantes egípcios protestam contra a ofensiva en frente à embaixada francesa no Cairo

A possibilidade de a operação se prolongar poderá ser o principal fator, no futuro, a transformar a aprovação inicial da ofensiva em revés. “Se a França ficar muito tempo, o problema é que inevitavelmente começaremos a contabilizar muitas vítimas civis. Quando isso começar a ocorrer, o papel da França será questionado”, dizTLe-Lessia.

Apoio interno

Na França, a intervenção francesa no Mali contou com apoio da população. Uma pesquisa realizada na última terça-feira (15/01) pelo instituto BVA aponta que 75% dos franceses aprovaram a decisão de Hollande – 82% entre os eleitores que se declaram de esquerda e 69% dos que se declaram de direita. No mesmo dia, o Ifop registrou aprovação de 63%.

A maior parte da classe política francesa, em um primeiro momento, também se manifestou favoravelmente à ação, como fizeram publicamente a UMP (União por um Movimento Popular), principal rival na oposição de direita; a Frente Nacional, de extrema-direita; e o centrista Movimento Democrático. A exceção entre as principais agremiações políticas ficou com o líder do Partido de Esquerda, Jean-Luc Mélenchon, considerou essa decisão “discutível” e condenou o fato de a ação não ter sido sequer discutida no Parlamento.

Os números e o apoio são bem diferentes das pesquisas de opinião em torno da aprovação do governo durante todo o mês de 2012. De acordo com o Ifop, Hollande fechou o ano com pífios 37% (4 pontos percentuais a menos que o levantamento de novembro), enquanto o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault foi ainda pior: 35% (queda de oito pontos). Resta saber como serão os primeiro resultados após a intervenção.

Pós-intervenção

Para Te-Lessia, a intervenção militar francesa não irá resolver a disputa política no Mali nem livrar a região do terrorismo. “O Mali tem um território vasto, a França não tem condições de vigiar e revistar todas as cidades e vilas. E os terroristas poderão se esconder na Líbia ou na Argélia. O problema não é esse, terroristas aparecem o tempo todo. O que se deve fazer é impedir que eles tenham acesso a a reservas, armas , bases, munição, abastecimento”, afirma. Ele lembra que também será preciso fazer com que os malineses reconstruam suas Forças Armadas. “Não puderam fazer antes nem durante a crise, veremos no futuro, em caso de vitória”.

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Política e Economia

Justiça dos EUA multa Twitter em US$ 150 milhões e acusa rede de fornecer dados para anunciantes

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Anunciantes estariam usando números de telefone e endereços de e-mail fornecidos por usuários para monetizar

Redação

RFI RFI

Paris (França)
2022-05-26T17:56:29.000Z

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O Departamento de Justiça norte-americano anunciou nesta quarta-feira (25/05) que o Twitter irá pagar uma multa de US$ 150 milhões, após suspeitas de que a plataforma teria facilitado o acesso a dados privados de seus usuários para anunciantes.            

A Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês) e o Departamento de Justiça acusaram a rede social de deixar os anunciantes usarem os números de telefone e endereços de e-mail fornecidos por seus usuários para monetizar.   

"O Twitter obteve dados de usuários com o pretexto de aproveitá-los para fins de segurança, mas acabou utilizando para segmentar usuários com anúncios", disse a presidente da comissão, Lina Khan.

As informações pessoais que os usuários fornecem às empresas de tecnologia e como esses dados são usados são uma frente recorrente de conflito entre os reguladores e empresas poderosas, como Meta, Twitter e outras.

Os confrontos em torno da privacidade resultam em processos ou acordos periódicos, mas os críticos pedem uma atualização exaustiva das normas nacionais sobre como são tratados os dados dos indivíduos no ambiente virtual.

Sem informar aos usuários, o Twitter permitiu que os anunciantes usassem suas informações pessoais para direcionar as propagandas, destacou a FTC, que trabalhou com promotores federais para abrir um processo contra a empresa de tecnologia.

 Além de concordar com o pagamento de US$ 150 milhões, o Twitter irá implementar outras medidas, entre elas a avaliação periódica de seu programa de privacidade por um assessor independente, segundo o acordo. O pacto, que precisa da aprovação de um juiz, também exige que o Twitter informe a todos que ingressaram na plataforma antes do fim de 2019 sobre o acordo e as opções para proteger sua privacidade.

     

Musk reduz crédito bancário para compra do Twitter

Elon Musk elevou a US$ 33,5 bilhões a quantia aportada diretamente pelo empresário e por seus sócios para a compra do Twitter, reduzindo ainda mais o valor do crédito bancário. Após o anúncio, que foi bem recebido pelos investidores, a ação da empresa subiu nas negociações posteriores ao fechamento de Wall Street.

Musk, que inicialmente havia assinado empréstimos da ordem de US$ 25,5 bilhões, reduziu esses créditos para US$ 13 bilhões, segundo o documento registrado nesta quarta-feira (25/05) pela Comissão de Valores Mobiliários norte-americana (SEC), o que suaviza consideravelmente sua carga financeira.

No começo de maio, vários acionistas do Twitter haviam se comprometido a aportar seus títulos na operação e seguir sendo minoritários no capital uma vez que se retirasse a sociedade da bolsa. A valorização de seus títulos reduzia na mesma quantidade o dinheiro que Musk devia aportar.

Nesta quarta-feira, Musk anunciou que havia recebido novos compromissos diretos, que lhe permitiram reduzir em US$ 6,25 bilhões adicionais o montante de seus empréstimos subscritos para a aquisição. Ele não especificou se o valor vinha, parcial ou totalmente, de seu patrimônio pessoal ou se outros investidores se uniram a ele.

Os US$ 12,5 bilhões em empréstimos, que, no fim, não foram necessários, preocuparam parte dos analistas, uma vez que se tratavam de empréstimos respaldados por títulos da Tesla, o que criaria uma relação com a montadora que desagradava ao mercado.

Segundo a CNBC, Musk negocia com várias pessoas, entre elas o cofundador e ex-diretor geral do Twitter, Jack Dorsey, para que se unam ao projeto e contribuam, seja em dinheiro ou ações da empresa.

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