Leia abaixo a íntegra do texto de Fidel Castro divulgado nesta segunda-feira (11/03), sobre a morte do presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Perdemos nosso melhor amigo
Em 5 de março, no período da tarde, faleceu o melhor amigo que o povo cubano teve ao longo de sua história. Uma ligação por satélite comunicou a amarga notícia. O significado da frase empregada era inconfundível. Se bem conhecíamos o estado crítico de sua saúde, a notícia nos golpeou com força. Recordava as vezes que brincou comigo dizendo que quando ambos concluíssemos nossa tarefa revolucionária, me convidaria a passear pelo rio Arauca no território venezuelano, que lhe fazia recordar o descanso que nunca teve.
Coube-nos a honra de haver compartilhado com o líder bolivariano dos mesmos ideais de justiça social e de apoio aos explorados. Os pobres são os pobres em qualquer parte do mundo.
“Dê-me a Venezuela, em que posso servi-la: ela tem em mim um filho”, proclamou o Herói Nacional e Apóstolo de nossa independência, José Martí, um viajante que ainda sem limpar o a poeira do caminho, perguntou onde estava a estátua de Bolívar.
Martí conheceu o monstro porque viveu em suas entranhas. Seria possível ignorar as profundas palavras que verteu em carta inconclusa a seu amigo Manuel Mercado na véspera de sua queda em combate?: ” Encontro-me todos os dias em perigo por entregar minha vida pelo meu país, e por ser meu dever – posto que assim entendo e me animo a assim agir— de impedir a tempo, com a independência de Cuba, que os Estados Unidos se estendam pelas Antilhas e caiam, com mais essa força, sobre nossas terras da América. O que fiz até hoje, e o que farei, é para esta finalidade. Teve de ser em silêncio, portanto indiretamente, porque existem coisas que para serem alcançadas têm de andar ocultas”.
Havia transcorrido então 66 anos desde que o Libertador Simón Bolívar escrevera: “Os Estados Unidos parecem destinados pela Providência a infestar a América de misérias em nome da Liberdade”.
Em 23 de janeiro de 1959, 22 dias depois do triunfo revolucionário em Cuba, visitei a Venezuela para agradecer a seu povo e ao governo que assumiu o poder após a ditadura de Pérez Jiménez, o envio de 150 fuzis no final de 1958. Disse então:
“A Venezuela é a pátria do Libertador, onde se concebeu a idéia da união dos povos da América. Logo, a Venezuela deve ser o país líder da união dos povos da América; nós os cubanos respaldamos nossos irmãos da Venezuela”.
“Tenho falado destas ideias não porque me mova qualquer ambição de cunho pessoal, tampouco ambição de glória, porque, afinal de contas, a ambição de glória não deixa de ser uma vaidade e como disse Martí: ‘Toda a glória do mundo cabe num grão de milho”
“De modo que, ao vir falar assim ao povo da Venezuela, o faço pensando honradamente e profundamente, que se quisermos salvar a América, se quisermos salvar a liberdade de cada uma de nossas sociedades, que, no fim das contas, fazem parte de uma grande sociedade, que é a sociedade da América Latina; se se trata de salvar a revolução de Cuba, a revolução da Venezuela e a revolução de todos os países de nosso continente, teremos de nos juntar e teremos de nos apoiar solidamente, porque sozinhos e divididos iremos fracassar.”
Disse isto naquele dia e hoje, 54 anos depois, o ratifico!
Devo apenas incluir naquela lista os demais povos do mundo que durante mais de meio século têm sido vítimas da exploração e do saque.
Esta foi a luta de Hugo Chávez.
Nem sequer ele mesmo suspeitava de quão grande era.
‘Hasta la victoria siempre’!, inesquecível amigo!
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