Atualizado às 12h22 de 03/04 com o vídeo
“A onda de agressividade militar que varreu o país, as expressões de ódio mútuo, e a conversa vazia sobre eliminar o terror e criar um impedimento foram o gatilho primordial para minha recusa”. Quem diz isso é Nathan Blanc, israelense de 19 anos, preso pela oitava vez em quase cinco meses por ser contra o ingresso obrigatório na IDF (sigla para Forças Armadas Israelenses). As informações são do The Guardian.
O termo “conscientious objector” é usado para alguém que conscientemente se recusa a prestar serviço militar e é isso que Nathan justifica toda vez que vai para uma base militar perto de Tel-Aviv. Depois disso, o jovem é preso e sentenciado a entre 10 e 20 dias na Prisão Militar Número 6. Quando liberado, o ciclo recomeça. E assim acontece há 19 semanas, durante as quais ele já permaneceu 100 dias preso. Houve uma vez em que saiu em uma terça-feira e foi novamente detido na quinta da mesma semana.
A difícil decisão, segundo ele, de recusar o serviço militar se consolidou durante a Operação Chumbo Fundido em 2008, cujas três semanas na Faixa de Gaza deixaram cerca de 1400 palestinos e 13 israelenses mortos. “O governo não está interessado em achar uma solução para a situação atual, mas apenas em preservá-la… Falamos sobre ações dissuasivas, matamos alguns terroristas, perdemos alguns civis de ambos os lados, e preparamos terreno para uma nova geração cheia de ódio. Nós, como cidadãos e seres humanos, temos o dever moral de recusar a participar desse jogo cínico”, diz.
NULL
NULL
Em uma guerra “que poderia ter terminado há muito tempo, mas em que os dois lados dão espaço para extremistas e fundamentalistas”, o Estado judeu mantém as pessoas “sob nosso controle” sem direitos democráticos e palestinos são sujeitos a “punição coletiva” para a ação de poucos.
Dos 300 ou 400 internos da Prisão Número 6, Nathan diz que é o único “conscientious objector”. Isso porque a noção de serviço militar é algo enraizado na experiência coletiva da identidade nacional israelense. Três anos para homens e dois para mulheres são obrigatórios após a escola. Seus amigos acabaram aceitando, e alguns, admirando sua decisão. Apesar da ansiedade, seus pais também o apoiam.
Vários sugeriram que ele se esquivasse do serviço militar, mas o jovem prefere se manter a seus princípios. Alegar condição médica desfavorável ou procurar isenção por motivos pacifistas não condizem com o que pensa.
“Eu não tenho ideia de quanto isso vai durar”, diz. “O cenário ruim seria eu ir à corte militar e ser sentenciado a algo como um ano de prisão. O cenário bom seria eles se cansarem disso e me deixarem fazer outro serviço nacional”, alternativa que o Exército de seu país rejeita.
Sem comentar o caso em questão, a instituição declarou que a obrigatoriedade militar é resultado da situação de segurança do país e todos os chamados “estão conscientes de sua responsabilidade e as consequências de falhas”.
Nathan sente uma forte conexão com seu país, do qual tem orgulho em vários aspectos. “Mas tenho uma aversão a nacionalismo”, explica. De qualquer modo, afirma não querer “lidar com política e conflitos minha vida toda”. O jovem quer estudar ciência ou tecnologia na universidade e sabe que pode ter prejudicado de algum modo seu futuro. “Mas isso é pequeno quando comparado aos meus princípios em risco”, conclui.