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Cerca de 800 mil pessoas compareceram ao comício em apoio a Henrique Capriles, segundo coalizão opositora
Os apoiadores de Henrique Capriles, do MUD (Mesa de Unidade Democrático) avaliam como um “triunfo” o comício de domingo (7/4) em apoio ao candidato.
“As ruas cheiram a triunfo e a Venezuela pede uma mudança”, afirmou o chefe da campanha de Capriles, Henri Falcón, segundo o site Globovisión.
A oposição a Nicolás Maduro (PSUV) avalia que mais de 800 mil pessoas participaram do evento e destaca que o público teve de pagar as passagens de metrô – que não foram liberadas, o que ocorre com frequência nas manifestações em apoio ao governo. Muitos manifestantes foram à avenida Bolívar, local do encontro, caminhando. “Foi uma marcha histórica”, disse Falcón.
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A contadora Ana González (direita) diz que sua empresa tem enfrentado dificuldades para importar insumos
Entre os apoiadores de Capriles, derrotado por Hugo Chávez nas eleições de outubro de 2012, “os altos índices de violência, a escassez de produtos básicos e a polarização do país” foram as principais críticas ao governo.
Aplaudindo representantes da oposição, a arquiteta Maria, de 50 anos, que preferiu não revelar seu sobrenome, afirmou ter ido ao ato de Capriles porque quer “uma mudança para a Venezuela”. Segundo ela, “no governo chavista, todo o dinheiro do país foi para o exterior”. “Não acho ruim ajudar outros países, mas somente se a Venezuela estiver melhor”, afirma, criticando os índices de violência na capital. “Queremos andar nas ruas sem medo de que nos assaltem. Antes saíamos de noite, agora não podemos nem ir ao cinema”, disse.
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Para a arquiteta, a insegurança decorreu da “grande divisão que teve entre os venezuelanos nos últimos anos”. “Se você sai de casa, te atropelam, gritam pra você, te batem, isso não acontecia antes”, diz, ressaltando, no entanto, que nunca foi vítima deste tipo de violência. “O venezuelano se caracteriza por ser amável, amigo, hospitaleiro, e queremos que nosso país volte a ser assim”, explica.
Rosa Vivas, de 58 anos, disse que o combate à insegurança era o ponto que mais a atraía no plano de governo de Capriles. Quando questionada sobre quais seriam as medidas do candidato da MUD para enfrentar o problema, a moradora do bairro caraquenho de classe média Paraíso foi evasiva: “Ele irá à raiz do problema”, afirmou.
Sua amiga, Marisol Evangel, de 38 anos, contou que era chavista e integrou a polícia metropolitana de Caracas. Apesar de reconhecer que o falecido presidente “Hugo Chávez fez coisas boas”, disse querer mudança. “Estou cansada de tanta insegurança e de desabastecimento”.
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A contadora pública Ana González, de 43 anos, reconhece que mesmo com uma mudança de governo será difícil combater a escassez. “Tem que ser pouco a pouco”, afirma, complementando que o problema se deve à falta de divisas para os empresários, que foram “golpeados”. “Trabalho em uma empresa privada que tem muitas dificuldades para importar, trazer insumos para produzir”.
Pró-Maduro
Perto dali, um estande destoava da marcha opositora. O verso “Chávez coração do Povo”, da música que marcou a campanha eleitoral de outubro do ano passado, se propagava através de alto-falantes. Venezuelanos vestidos de vermelho da cabeça aos pés dançavam e cantavam, enquanto distribuíam panfletos que incentivavam o voto no atual presidente interino do país.
Apoiadores de Capriles que saíam da marcha se entreolhavam ao se aproximar da esquina pelo pequeno punhado de governistas. “Ignore”, sugeriu uma mulher de cerca de 40 anos a outra de similar idade, que pegava em sua mão com força. “Eles estão em seu direito”, afirmou um senhor, que cantava as estrofes da canção entoada pela equipe de vermelho.
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Chavistas permaneceram em estande de propaganda de Maduro enquanto opositores se reuniam na avenida Bolívar
“Estamos aqui desde segunda da semana passada e ficaremos até quinta”, disse Tomás Villorín, técnico de som do grupo que fazia campanha a favor de Maduro. “Se acontecer alguma coisa, pego meu aparelho e vou embora. De qualquer forma, conversei com os policiais e eles me disseram não tinha problema, que eles [apoiadores de Capriles] não vão se meter com a gente”, afirmou, sobre o fato de estarem em minoria no local.
Agindo por conta própria, Ines Caro, de 70 anos, se arriscou ainda mais. Munida com um cartaz de Chávez e a bandeira venezuelana, a idosa perseguiu opositores que passavam ao lado do estande de campanha de Maduro aos gritos de “golpistas!”. Bastava um grupo usando camisetas com o slogan opositor “Há um caminho” pisar na calçada para a chavista empreender a caçada. “Quero que eles nunca se esqueçam que jamais voltarão”, explicou.
* Colaborou Marina Terra