Atualizada às 20h20
O prisioneiro palestino Samer Issawi chega nesta quinta-feira (11/04) à marca impressionante de 264 dias em greve de fome. Preso em 2004, ele cumpria pena de 30 anos até ser solto no acordo entre Hamas e Israel, no fim de 2011, na troca de 1.027 presos palestinos pelo soldado Gilad Shalit.
No entanto, em julho de 2012 ele foi preso novamente baseado no artigo 186 da Ordem Militar 1651 (Sobre Provisões de Segurança), efetivada em maio de 2010.
A Ordem diz que “se o condenado viola a condição da mitigação condicional de sua punição dada sob a Seção 184, o comitê deve ordenar o cancelamento da mitigação da punição”. Assim, o Artigo 186 do Capítulo E (Julgamentos e Procedimentos) indica que “o comitê deve obrigar o condenado a servir um termo de prisão igual ao período que começa com o dia de sua soltura e vai até o fim do termo de prisão que ele teria servido caso sua punição não tivesse sido mitigada”.
Agência Efe
Manifestações dos prisioneiros também gera protestos nas ruas da Cisjordânia
Sahar Francis, coordenadora da Addameer (Associação de Direitos Humanos e Apoio a Prisioneiros), em entrevista a OperaMundi, disse que na prática esta é uma forma de permitir ao Governador Militar prender os libertados em acordos de troca, mesmo que não tenham cometido nenhum crime. No caso de Issawi, palestino de al Issawiya, bairro de Jerusalém Leste, ele violou sua soltura entrando na Cisjordânia. “Samer afirmou que tinha o direito de visitar amigos em cidades ao redor de Jerusalém. Mas por isso ele pode ter que cumprir os 20 anos restantes da pena original. Legalmente é ridículo. Foi feito um ano antes para minar o acordo de troca”, diz Sahar.
Boletins desde sábado mostram crescente receio de que Issawi possa morrer em breve. Na terça, médicos da Sociedade de Prisioneiros Palestinos demonstraram preocupação com seu coração, cérebro, pulmões e rins. Sua morte seria a primeira do movimento de greve de fome que se iniciou em dezembro de 2011, com Khader Adnan, em protesto contra o uso de detenção administrativa por parte de Israel (prisão sem acusação ou procedimentos de julgamento). E seria mais uma das faíscas que ligam as prisões israelenses à rua palestina.
O início de 2013 viu a escalada de erupções da resistência violenta nos territórios ocupados ligada às prisões, como na primeira semana de abril, após o falecimento por conta de um câncer do prisioneiro Maysara Abu Madyieh (dia 2 de abril), que trabalhou para as forças de segurança da Autoridade Palestina (AP), preso desde 2002. Ele servia prisão perpétua e, segundo disse Issa Qarage, Ministro de Assuntos de Prisioneiros da Autoridade Palestina, à MaanNews, na semana de sua morte, a autópsia mostrava que o Serviço Prisional Israelense (SPI) foi negligente no tratamento de seu câncer. A acusação era que apenas lhe davam antibióticos e analgésicos.
A organização Médicos Pelos Diretos Humanos de Israel (PHR-Israel) lançou hoje o relatório “Os desafios políticos, morais, médicos e éticos encontrados no tratamento de prisioneiros palestinos em greve de fome em prisões israelenses”. Este destaca que os serviços médicos e de saúde dados a prisioneiros e detidos não são regulados sob a lei Nacional de Proteção de Saúde, mas sob a Ordem Pública 1940.
“Como resultado, a equipe médica nas prisões é empregada pelo SPI. (…) Estando sob a autoridade do Sistema de Segurança em vez de sob o Ministério da Saúde, o seu senso dúbio de lealdade se intensifica, como resultado de pressões diretas ou implícitas do sistema de segurança”. E, no fim, a “greve de fome confirmou o que estava na cabeça de todo o prisioneiro, que a primeira lealdade dos médicos é à prisão e não ao paciente”.
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Em Hebron, na cidade natal de Abu Madyieh, no segundo dia após a sua morte, durante 6 horas, jovens palestinos duelaram com o exército israelense em H2, sua parte ocupada. Jovens ateavam fogo em pneus e os chutavam o mais longe que podiam, formando uma barreira de fumaça preta que os escondiam dos olhos dos soldados. “Protegidos”, jogavam pedras em direção à posição israelense. Os soldados respondiam com bombas de percussão, balas de borracha e de gás lacrimogênio. Até uma nova leva de pneus serem queimados.
No dia anterior à morte (03/04), aconteceram confrontos mais violentos perto de Tulkarem, mais ao norte da Cisjordânia. Dois jovens palestinos foram mortos, Amer Nassar, 17, e Naji Belbisi, 18.
A morte de Abu Madyieh não gerou o primeiro levante de protestos em 2013. Um mês antes, morreu nas prisões israelenses Arafat Jaradat, também de Hebron, sob suspeita de tortura. “Ainda não há resultado dos exames israelenses, mas o médico palestino que acompanhou a autópsia relatou que viu marcas que mostravam sinais de que foi torturado”, revela Sahar.
Após a morte de Jaradat, 3 dias de confrontos levantaram a pergunta entre israelenses e palestinos se uma nova Intifada estava a caminho. Essa obsessão sobre a possibilidade de uma nova erupção nos territórios se mantém há pelo menos dois anos, quando se iniciou o atual movimento de greve de fome, ligada aos prisioneiros, que ameaçam ser o impulso de ruptura da atual ordem estável da Ocupação.
Para Sahar, a pressão sobre os palestinos pode levar a um confronto final para estabelecer as bases do domínio israelense na Cisjordânia. “Há mais prisões desde o final de 2012. Há mais ataques de colonos, confisco de terras, demolição de casas, todas as diferentes violações aumentam. Devem acreditar que em certo momento será a última chance para eles. Eles sabem que chegará a um ponto em que terão que dar respostas, talvez não na questão de fronteiras, mas definitivamente na questão de assentamentos e de prisioneiros. O aumento nas detenções está relacionado a esse quadro”.