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Política e Economia

A luta de uma líder camponesa paraguaia contra o agronegócio

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Perla Alvarez representa paraguaios que são quase invisíveis, dentro e fora do país: os trabalhadores rurais

Daniella Cambaúva e Murilo Machado

2013-06-01T11:20:00.000Z

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O centro de Assunção é repleto de antigos casarões situados entre construções recentes que, em sua maior parte, dão lugar a shoppings centers e a condomínios empresariais. Na capital paraguaia, a impressão é a de que uma cidade histórica convive com outra, uma metrópole global. Em uma dessas ruas, uma porta estreita e comprida leva a uma casa antiga, com tacos de madeira, teto alto e porão. Ali funciona a sede do Conamuri (Coordenação Nacional de Mulheres Rurais Indígenas), articulação de esquerda que, desde outubro de 1999, reúne trabalhadoras rurais.

Quem dá as boas-vindas é Perla Alvarez Britez. Dirigente do Conamuri, ela representa um Paraguai quase imperceptível para quem visita Assunção ou Cidade do Leste: o camponês e indígena, distribuído nos 38% da população que vive na zona rural, segundo dados oficiais.

Arquivo pessoal

Perla Alvarez, líder camponesa e rural paraguaia: "acreditamos que a luta pela terra não deve se arrefecer"

Apesar de se expressar bem em espanhol, sente-se mais à vontade para falar em guarani, idioma co-oficial do país, língua materna de cinco milhões de paraguaios – ao todo são 6.623.252. Em poucos minutos, se destaca na conversa o golpe de Estado que destituiu o presidente Fernando Lugo, em 22 de junho de 2012.

Perla critica a forma como Lugo foi retirado do poder, e o posterior governo do liberal Federico Franco. Para ela, o golpe mostrou o rosto da política do agronegócio que afeta diretamente os camponeses indígenas. “O golpe, para nós, significou o aniquilamento total dos nossos direitos. Era como se, a cada dia, recebêssemos uma nova bofetada, um novo pisão. Sentimos a dor quase na própria carne, o derramamento de tanto sangue, de gente que estava na luta por um direito; pelo direito à terra, à alimentação”, diz Perla.

O desabafo emocionado tem origem na decepção. “Com a queda de um presidente eleito de forma legítima, houve no país a ruptura de um processo que foi tão lentamente construído”, explica a ativista, “o processo da democracia”. Mais além das convicções ideológicas – Perla é opositora aos partidos Colorados e Liberal –, está a experiência cotidiana. Ela mora em Itauguá, pequena cidade a 30 quilômetros da capital, mas nasceu no departamento de Caaguazú, no povoado de Pastoreo, em área rural. Lá cresce o monocultivo de soja e outros cereais. “Isso, é claro, causa desequilíbrio na natureza, mas também nas comunidades. Há comunidades inteiras que desapareceram nos últimos cinco anos”, conta.

As causas são principalmente econômicas, sociais e de saúde, relata a dirigente. “Por um lado, a necessidade de expandir o modelo de monocultivo faz com que [essas comunidades] sejam pressionadas. Por outro, muita terra é vendida, porque a presença dessas empresas da região eleva o custo dos terrenos. Mas os camponeses vêm e se instalam na periferia da cidade e não conseguem comprar outra casinha com esse dinheiro”, argumenta, lembrando que em seguida surgem dificuldades para conseguir trabalho.

Perla conta histórias de pessoas que, com o avanço do agronegócio no Paraguai, não conseguiram mais obter renda trabalhando no campo, especialmente jovens. “Isso acontece em todos os lugares onde há esse modelo. Os benefícios vistos em outros países não são refletidos aqui, porque somos um país de cultura rural disseminada por todo o território. E isso incomoda esse modelo. Simplesmente, eles não nos querem no campo”, afirma.

Fumigação

Nas paredes da sala de reunião do Conamuri, há mapas do América Latina e do Paraguai, além de uma dezena de cartazes de combate ao machismo, contra a monocultura da soja e também de campanha pela reforma agrária. Destaca-se, entre eles, a foto em preto e branco de um garoto: Silvino Tavalera, morto aos 11 anos por intoxicação devido ao uso inadequado de agrotóxicos. Ele foi, segundo Perla, a primeira “vítima comprovada” de fumigação da produção extensiva de soja, trigo e milho.

Arquivo Pessoal
Uma das denúncias do Conamuri é que a fumigação tem sido utilizada para “envenenar” pequenas produções e facilitar a compra das terras pelos grandes produtores.

Isso porque aqueles que a aplicam não respeitam os intervalos, nem as condições climáticas recomendadas. “Vi frutas que não podem ser consumidas porque estão todas envenenadas. Os pássaros as comem e morrem”, diz.

Silvino morreu em 2003 e ficou comprovado que a intoxicação foi causada pelo Roundup, praguicida usado na produção de soja transgênica. Os produtores foram condenados pela Justiça do Paraguai como responsáveis diretos.

“O caso Silvino levou à descoberta dessa questão. Nos hospitais, passou a ser proibido falar de intoxicação química. Colocava-se ‘desnutrição’, ‘mal-estar’, ‘tontura’, mas nunca intoxicação”, revela.

Resistência

Além de militante, Perla é professora da língua e cultura guarani. A jovem, de fartas sobrancelhas e longos cabelos negros, já teve um programa na televisão, o Tembi'u Rape, transmitido pela TV Pública Paraguay. Nele, ela visitava comunidades para mostrar sementes nativas e aspectos da cultura gastronômica típica do país. Após o golpe, no entanto, com a reformulação na direção e na grade de programação da emissora, perdeu o espaço.

Mesmo diante da vitória de Horácio Cartes, do Partido Colorado, Perla se mostra otimista. Ela diz acreditar no poder de organização do setor popular. “Acreditamos que a luta pela terra não deve se arrefecer, mas se potencializar sob uma perspectiva da produção com um novo modelo. Nosso trabalho deve ser afiançar as bases, fazer alianças para poder defender os territórios que ainda temos e avançar até a recuperação das terras que nos foram roubadas.”

Para a paraguaia, é preciso retomar os trabalhos iniciais com o meio ambiente, principalmente de resistência ao uso indiscriminado de agrotóxico, além de mobilização social. “Caso contrário, não há como continuar sendo trabalhador rural indígena. E vêm aí períodos duros porque se afiança cada vez mais esse modelo. Mas não há mal que dure 100 anos”, define.

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Política e Economia

Guaidó é acusado de pedir desbloqueio de US$ 53 milhões aos EUA para governo paralelo

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Valor seria 'orçamento anual' do gabinete do líder opositor, denuncia Jorge Rodríguez, presidente do Poder Legislativo

Michele de Mello

Brasil de Fato Brasil de Fato

Caracas (Venezuela)
2021-04-13T22:50:00.000Z

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O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, denunciou nesta terça-feira (13/04) que o ex-deputado Juan Guaidó pode desbloquear US$ 53, 2 milhões (cerca de R$265 milhões) nos Estados Unidos para manter a estrutura do governo paralelo. 

Segundo Rodríguez, Guaidó e seus aliados enviaram um orçamento anual ao Escritório de Controle de Bens Estrangeiros (OFAC - sigla em inglês), unidade do Departamento do Tesouro, que libera os dólares diretamente das contas venezuelanas em bancos nos EUA.

O montante seria dividido entre o gabinete da presidência de Guaidó, os seus escritórios de Assuntos Exteriores, deputados da antiga Assembleia Nacional, que seriam parte do seu “Conselho Administrativo”, e o canal TV Capitólio, responsável por cobrir atividades da oposição.

Somente para gastos pessoais do ex-deputado Juan Guaidó teriam sido indicados US$ 2 milhões. Os repasses atingem membros dos quatro maiores partidos da oposição, chamado G4: Vontade Popular, Primeiro Justiça, Ação Democrática e Um Novo Tempo.

Com base em gravações telefônicas do ex-deputado Sergio Vergara, assessor de Guaidó, a AN pode ter acesso aos detalhes do esquema de desvio de dinheiro público venezuelano.

Vergara foi um dos assessores de Guaidó que assinou o contrato com a empresa militar Silverscorp para colocar em prática a Operação Gedeón – tentativa de invasão paramilitar de maio de 2020.

Desde 2019, a Casa Branca reconhece o opositor Juan Guaidó como presidente encarregado da Venezuela, deixando sob sua responsabilidade o gerenciamento dos ativos públicos venezuelanos nos Estados Unidos, incluindo a maior empresa pública da Venezuela no exterior: Citgo Petroleum, filial da Pdvsa. 

A Citgo é avaliada em US$ 7 bilhões e tem uma capacidade de refino de 759 mil barris de petróleo anualmente.  Entre 2015 e 2017, teve um lucro de cerca de US$ 2,5 bilhões (R$ 10 bilhões). No esquema revelado por Jorge Rodríguez, a diretoria da Citgo teria acesso a US$ 1,15 milhão do orçamento.

Presidente da AN apresentou detalhes do esquema de desvio do dinheiro público venezuelano por parte da oposição aliada a Guaidó

O valor depositado nas contas dos opositores deveria servir para pagar gastos com transporte, alimentação, segurança e seus salários, como assessores políticos nomeados pelo autoproclamado Guaidó. 

"Esse dinheiro tem servido para comprar suas mansões em Miami. Roubar é a única atividade na qual Guaidó teve êxito", declarou o presidente do Legislativo.  

Neste ano, a OFAC solicitou ao setor guaidosista recortar o "orçamento" e este seria o motivo da reunião liderada por Vergara, que detalhou o passo a passo do repasse do dinheiro no exterior à oposição.   

Em resposta ao pedido do Departamento do Tesouro, Guaidó teria encerrado o programa "Heróis da Saúde", criado em 2020, para oferecer um bônus de US$ 100 como recompensa aos profissionais que trabalham no combate à pandemia na Venezuela. 

"Eles se roubam entre eles mesmos", acusa Rodríguez e aponta que, neste momento, há uma disputa dentro da oposição venezuelana entre Juan Guaidó e Leopoldo López, do partido Vontade Popular, contra Júlio Borges (Primeiro Justiça) e Henry Ramos Allup (Ação Democrática), para liderar o bloco opositor de extrema-direita e ter prioridade no acesso aos recursos financeiros. 

A Venezuela denuncia que possui US$ 7 bilhões bloqueados em entidades bancárias nos Estados Unidos e na União Europeia.

O governo venezuelano denuncia que Guaidó não cumpre com acordos assinados no ano passado para o desbloqueio de parte do dinheiro público que seria destinado para um fundo de combate à pandemia, gerenciado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

Na última semana, Guaidó conseguiu sacar cerca de US$ 30 milhões (aproximadamente R$ 150 milhões) dos fundos depositados em Londres para cobrir gastos pessoais, mas se negou a liberar as reservas de ouro venezuelano retidas no Banco da Inglaterra.

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