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Iniciativa tem o objetivo de ensinar crianças a trabalhar com documentários
“Quem são os maus deste país?”, pergunta a repórter. “Esse Bárcenas, Mariano Rajoy, Ana Botella, Cospedal e Angela Merkel”, responde o manifestante. A cena seria normal no atual contexto de crise econômica e social na Espanha, porém o que chama a atenção dos espectadores são os personagens do diálogo. Tanto a repórter quanto o entrevistado que cita os nomes dos principais políticos do governista PP (Partido Popular) e da chanceler alemã são crianças de menos de dez anos e que participam do documentário “Menuda Estafa”, elaborado pela Associação Audiovisual Educar desde a Infância.
“Ensinamos as crianças a gravar com minicâmeras e a roteirizar o projeto. O resultado é um documentário desde o ponto de vista delas, com uma pequena ajuda de nossos profissionais”, explica Mar Domínguez, presidente da associação. Ela conta que a entidade que dirige está habituada a trabalhar em países onde a situação das crianças é de grande vulnerabilidade, como Colômbia e Haiti, mas que devido aos problemas de ordem econômica dos últimos anos, Mar percebeu que já era hora de começar um projeto na Espanha.
“Decidimos escolher alguns jovens e ir às manifestações para entrevistar outras crianças e alguns adultos”, conta a presidente da associação. Dois dos protagonistas do documentário são Leyre e Alex, ambos têm nove anos e são as estrelas dos trailers publicados na internet. “Não fazemos casting nem nada parecido. Quando começamos a contar aos nossos amigos [sobre o projeto], em seguida apareceu gente disposta. No caso de Leyre e de Alex, ela era filha de uma amiga da associação e Alex era seu amigo”, explica Mar.
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Associação espera que trabalho com crianças possa ajudar a Espanha a sair da crise econômica
Os trechos do documentário publicados na internet causaram grande repercussão na Espanha e foram alvo de reportagens nos principais jornais de oposição ao governo. “Tivemos muita repercussão social, as pessoas nos animam a seguir. Mas sabemos que também tem gente que nos critica”, assume. Ela afirma que a preparação das crianças é puramente técnica e que elas não recebem nenhum tipo de orientação política ou indicação de perguntas. “Nossas crianças jornalistas nunca se envolvem, nunca criticam nem citam um político, mas obviamente as afirmações que encontramos em uma manifestação antigoverno não são de crianças que falam bem de quem está no poder”, explica a presidente da associação.
Apesar do sucesso com o documentário, o próximo projeto da Educar desde a Infância será no Haiti. “Nós já gravamos um outro documentário no Haiti e também criamos uma escola audiovisual onde ensinamos as crianças a gravar. Nós queremos começar a segunda parte deste nosso projeto”, afirma. Ainda assim, Mar diz que gostaria de realizar outros projetos na Espanha, mas devido à crise sua associação tem dificuldade em encontrar financiamento. Para ela, as crianças podem ajudar a mudar o panorama de crise espanhol: “Isso é o que buscamos e o que queremos, porque não é lógica a situação deste país”.
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