A Anistia Internacional confirmou nesta terça-feira (04/06) que gás lacrimogênio produzido no Brasil e em outros países tem sido usado pela polícia turca para dispersar manifestantes nos protestos dos últimos dias. A organização condenou o uso do gás contra os manifestantes.
Özgür Korkmaz
“Canhões de água e gás lacrimogênio não deveriam ser usados contra manifestantes pacíficos. Estamos particularmente preocupados com o uso de gás lacrimogênio em ambientes confinados, que representa um grande risco para a saúde”, disse o diretor da Anistia Internacional para Europa e Ásia Central, John Dalhuisen, em comunicado divulgado nesta segunda-feira (03/06).
(à esquerda, cápsula de gás lacrimogêneo com selo “made in Brazil” encontrada durante protestos no 1° de maio deste ano)
A empresa Condor Tecnologias Não Letais, sediada na Baixada Fluminense, confirmou que fornece gás lacrimogênio para a polícia turca e que é a única fornecedora brasileira desse tipo de armamento para a Turquia.
Segundo a assessoria de imprensa da empresa, há uma recomendação das ONU para que polícias de todo mundo usem equipamentos desse tipo, já que armas não letais reduzem as possibilidades de morte em confrontos. Ainda de acordo com a empresa, os compradores são treinados e orientados a usar corretamente o equipamento.
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No final de 2011, ativistas já haviam relatado que gás lacrimogênio brasileiro estava sendo usado contra manifestantes no Bahrein, provocando inclusive vítimas fatais. A Condor negou que vendesse o produto ao país, apesar de “fornecer produtos para mais de 35 países, inclusive países árabes”. No entanto, “por obrigações contratuais de confidencialidade, a empresa não pode informar detalhes de seus fornecimentos”. De acordo com a empresa, naquela ocasião, o equipamento foi provavelmente usado por tropas de outros países árabes que são clientes da empresa brasileira e ajudaram o governo baremita.
“A Turquia não tem uma produção local de gás lacrimogêneo, apesar de algumas tentativas frustradas, e importa tanto o gás quanto spray de pimenta para uso das forças de segurança”, explica Özgür Korkmaz, editor do jornal turco Hürriyet Daily News, a Opera Mundi. Ele mesmo encontrou cápsulas do gás com escritos em turco durante os protestos no Dia do Trabalho deste ano que mostram a procedência do Brasil, EUA e Coreia do Sul, e também cápsulas com a marca Condor. “Até mesmo o RedHack, grupo de hackers esquerdista turcos, derrubou o site da empresa no fim de semana por algumas horas”, adiciona.
Özgür Korkmaz
Cápsula encontradas por Korkmaz mostram origem dos EUA (com sigla ABD em turco) e da Coreia do Sul
Korkmaz cita os últimos números oficiais de junho, exigidos por um parlamentar da oposição ao ministro de Alfândega Hayati Yazıcı: o país importou 628 toneladas de gás de pimenta e gás lacrimogêneos nos últimos 12 anos, que totalizam US$21,3 milhões, principalmente dos EUA e do Brasil. A fonte dessas importações, porém, não foi revelada pelo ministro, por ser “informação comercial confidencial”.
A atuação da polícia turca contra manifestantes foi criticada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que pediu nesta terça-feira às autoridades daquele país que investiguem abusos cometidos pelos agentes.
“O que fez com que as coisas saíssem de controle foi a utilização de gás lacrimogêneo pelas forças de segurança, por uma ou outra razão, contra pessoas que tinham inicialmente exigências legítimas”, disse o vice-premiê Bülent Arinç em uma entrevista coletiva após uma reunião com o presidente Abdullah Gül. Arinç pediu desculpas nesta terça-feira “aos que sofreram a violência por serem sensíveis às questões ambientais”, mas “não acredito que devamos pedir desculpas aos que provocaram danos nas ruas e tentaram bloquear a liberdade das pessoas”, pedindo também o fim imediato das manifestações.
Desde o início dos protestos, Gül e Arinç, ambos do partido AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento) do preimê Tayyip Erdogan, se mostraram mais conciliadores que o chefe de governo.Erdogan prosseguia nesta terça-feira em uma viagem pelo norte da África. No Marrocos, afirmou que a situação “estava se acalmando” no país, apesar da convocação de greve pela influente Kesk (Confederação de Sindicatos do Setor Público).
“A princípio, os problemas com as árvores [que seriam derrubadas para a construção de um centro comercial na praça Gezi, em Istambul) provocaram alguns protestos. Mas depois os manifestantes foram controlados por pessoas que não ganharam as eleições”, disse. Dois ativistas morreram desde o início dos protestos, nesta sexta-feira (31/05).
* Com informações de Agência Brasil e AFP