George Kennan, o encarregado de negócios norte-americano em Moscou, enviou no dia 22 de fevereiro de 1946 um longo telegrama ao Departamento de Estado dos EUA detalhando sua visão sobre a União Soviética no imediato pós-guerra e sobre a política que o país deveria praticar em relação ao Estado socialista. A análise de Kennan, de oito mil palavras, proporcionou uma das mais influentes indicações quanto à política de contenção do país no decurso da Guerra Fria. Este documento é também o que melhor ilustrou o anti-comunismo norte-americano.
Kennan estava entre os diplomatas norte-americanos que ajudaram a estabelecer a primeira embaixada de Washington na União Soviética em 1933. Embora expressasse respeito pelo povo russo, sua avaliação sobre a liderança soviética tornou-se crescentemente negativa e dura.
Ao longo da Segunda Guerra Mundial, Kennan esteve convencido de que o espírito amistoso e de cooperação com Joseph Stalin não deveria existir. Menos de um ano após a morte de Franklin Roosevelt, Kennan, então servindo como encarregado de negócios em Moscou, tornou público suas opiniões valendo-se daquilo que passou a ser historicamente conhecido como “o longo telegrama”.
O extenso memorando começa com a asserção de que, com a União Soviética, não se poderia pressagiar uma “coexistência pacífica permanente” com o Ocidente. Essa “neurótica visão dos negócios mundiais” era uma manifestação da “instintiva sensação de insegurança russa.” Como resultado, os russos nutriam profundas suspeitas de todas as demais nações e acreditavam que sua segurança só poderia estar alicerçada numa “paciente, porém, mortal luta pela total destruição da potência rival”.
Kennan estava convencido de que a União Soviética tentaria expandir sua esfera de influência e apontou o Irã e Turquia como as mais prováveis áreas de imediata preocupação. Kennan também acreditava que os soviéticos fariam de tudo para “debilitar o poder e a influência das potências ocidentais sobre suas colônias ou povos dependentes.” Afortunadamente, embora a União Soviética fosse “impenetrável à lógica da razão” era altamente “sensível à lógica da força.” Por conseguinte, cederia “quando encontrasse forte resistência em qualquer ponto.” Os EUA e seus aliados, concluiu, terão de oferecer esta resistência.
Reações
O telegrama de Kennan causou comoção em Washington. Segundo a Casa Branca, os discursos ameaçadores de Stalin em relação ao Irã e à Turquia em 1945 e 1946, levaram o presidente a decidir por uma postura mais rígida e confiar na musculatura militar e econômica das nações em vez da diplomacia no relacionamento com a União Soviética.
A cálida recepção à análise de Kennan levou os EUA a levarem em conta esses fatores. A opinião de que o expansionismo soviético precisaria ser contido mediante uma política de “forte resistência” propiciou as bases da diplomacia da Guerra Fria de Washington no curso das duas décadas subseqüentes, A carreira diplomática de Kennan certamente recebeu um empurrão – ele foi nomeado embaixador norte-americano em Moscou em 1952.
Após ter deixado o serviço diplomático, Kennan atuou como consultor do Instituto de Estudos Avançados até sua morte em 2005, aos 101 anos.
Wikicommons
Cópia do telegrama enviado por Kennan ao Departamento de Estado
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