O mea culpa do FMI (Fundo Monetário Internacional) sobre a catastrófica crise na Grécia, com seus altos índices de desemprego, suicídio, descrença na democracia e levante neonazista, comprova que o órgão foi cúmplice de uma ação criminosa no país, afirmou o economista grego Yanis Varoufakis, da Universidade de Atenas, a Opera Mundi.
Na quarta-feira passada (06/06), o FMI admitiu em relatório que cometeu erros na condução da crise econômica grega. Já são cinco anos de recessão, protestos e demissões em massa. Suas estimativas para recuperação do país passaram longe do resultado atual.
Roberto Almeida/Opera Mundi
Toalhas com estampas que imitam notas de euros, em Atenas. FMI admitiu que cometeu erros na condução da crise grega
O fundo disse em 2009 esperar 5,5% de retração até 2012, mas a economia grega retraiu robustos 17% e espirrou o desemprego para 27% da população. “Esses erros [de cálculo] foram motivados”, disse Varoufakis, por telefone. “Eles sabiam que as estimativas nunca seriam atingidas. A situação atual do país mostra que o FMI é cúmplice de uma ação econômica criminosa na Grécia.”
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Segundo o relatório do fundo sobre a economia grega, houve “falhas notáveis” na condução da crise. O FMI operou em conjunto com a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu, a chamada troika. “A confiança do mercado não se restabeleceu, o sistema bancário perdeu 30% de seus depósitos e a economia encontrou uma recessão muito mais profunda do que a esperada com um índice de desemprego excepcionalmente alto”, diz o texto.
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“A dívida pública continuou alta demais e eventualmente teve de ser reestruturada, com danos colaterais para saldos bancários que também saíram enfraquecidos pela recessão. A competitividade melhorou um pouco pela queda nos salários, mas reformas estruturais emperraram e os ganhos de produção se provaram ilusórios”, continua o FMI.
[Varoufakis: “situação atual do país mostra que o FMI é cúmplice de uma ação econômica criminosa na Grécia”]
De acordo com Varoufakis, a razão pelo mea culpa tem relação direta com um desentendimento entre FMI e a Alemanha. Enquanto o fundo estava cada vez mais preocupado em não sair com a imagem arranhada da desastrosa reestruturação da dívida grega, os alemães passaram a deixar claro que a iniciativa para a união bancária europeia não passava de fogo de palha – contrariando os desejos do fundo.
Otimismo “venenoso”
O relatório melancólico do fundo contradiz a série recente de manchetes otimistas sobre a economia grega, baseada em relatórios de agências de risco, como Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch, que elevaram as notas dos títulos públicos da Grécia. Segundo Varoufakis, isso faz parte de uma “propaganda venenosa”, como a exaltada pelo FMI durante o processo de reestruturação da dívida grega.
“Nada vai mudar. O atual premiê, Antonis Samaras [do partido de centro-direita Nova Democracia], não sairá tão cedo, apesar da falta de representatividade. Nem quem vota nele acredita mais nele. O nível da credibilidade da democracia grega está muito baixo e o neonazismo [institucionalizado no partido Aurora Dourada, de extrema-direita] tem se aproveitado disso”, afirmou o economista. Para Varoufakis, a partir de agora milhões de europeus, assim como latinos e asiáticos, também vão “cuspir no chão” ao ouvir a sigla FMI.