O jurista norte-americano Michael Ratner, 70 anos, construiu a sua vida na luta por Direitos Humanos e pela defesa da população contra crimes de estado. É atualmente presidente de honra do CCR (sigla em inglês para Centro Constitucional de Direitos) e presidente do Centro Europeu de Constituição e Direitos Humanos. Ratner tem também longa obra destinada ao estudo das relações humanas ao redor do mundo. No entanto, foi como advogado e representante legal de Julian Assange que seu nome ficou mundialmente conhecido. Em entrevista a Opera Mundi, dá seu ponto de vista sobre Wikileaks e revela dificuldade nas negociações com o Reino Unido para trazer Assange ao Equador.
Opera Mundi: Como está Julian Assange, física e juridicamente, após um ano preso na embaixada equatoriana em Londres?
Michael Ratner: Julian Assange está bem. Wikileaks continua fazendo o seu trabalho, publicando documentos. Inclusive arquivos GIF e documentos relacionados à Síria. Essa é a melhor forma de dizer que ele está bem. Assange tem falado e escrito todo esse tempo sobre espionagem, internet e o abuso de poder do Estado. O seu livro Cyberpunks descreve precisamente o que aconteceu: o massivo estado de espionagem em que vivemos. Fisicamente ele está bem, apesar que algum banho de sol e algumas caminhadas longas poderiam fazer muito bem a ele.
Wikicommons
Reconhecido pelo seu trabalho no âmbito do Direito Internacional, Michael Ratner defende Assange de acusações de crimes virtuais
Em relação à questão jurídica, estamos trabalhando para que ela possa ir para o Equador o mais rápido possível. Apesar dos esforços de EUA, Reino Unido e Suécia para frea-lo, Assange continua a trabalhar para que o Wikileaks permaneça importante. Já passou da hora do governo sueco – entre outros – parar de interrogar e pressionar o Assange. Caso eles (governo sueco) parem com isso, ele poderia tranquilamente pegar um avião e ir para o Equador, onde tem asilo político. Mas isso, é claro, sem contar os EUA, que desejam colocá-lo na prisão.
OM: Qual o papel do governo norte-americano para frear o trabalho do Wikileaks? Chega a existir um conflito ou queda de braços nos bastidores acerca da atuação de Assange?
Michael Ratner: Não existe realmente um confilto entre os EUA e o Wikileaks. A verdadeira guerra que existe é o que o Wikileaks representa: transparência dentro de governos, corporações e a privacidade dos indivíduos. O governo norte-americano deseja esconder seus crimes e hipocrisia. O Wikileaks deseja fornecer uma plataforma em que as pessoas possam entender o que os governantes estão fazendo e fazer disso um local democrático. É bom lembrar: a democracia morre atrás de portas fechadas.
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Estamos no meio de uma grande batalha entre forças obscuras representadas pelos EUA, que desejam suprimir a verdade e a democracia. Eles querem calar pessoas como Julian Assange, que representa a força da luz. Essa luta é feita todos os dias por pessoas corajosas como Bradley Manning, Edward Snowden, Jeremy Hammond, Barret Brown e Julian Assange. Acredito que essa possa ser a maior luta da nossa geração. Nós esperamos que aqueles que representam a luz possam vencer. Os EUA desejam controlar a internet, que é um grande instrumento democrático de nossa geração. É por isso que apoiar Julian Assange e outros é tão crucial e importante.
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OM: Como as acusações a Julian Assange dialogam com a questão de liberdade de expressão e liberdade de imprensa?
Ratner: As questões legais nos EUA que preocupam é se vamos ter uma imprensa livre ou uma imprensa que jornalistas e pessoas que falam a verdade serão perseguidos. Até o momento, o governo norte-americano está punindo todo mundo. No entanto, é evidente que, em algum momento, a verdade virá a tona e mais pessoas que falam a verdade, como Snowden, irão aparecer. No momento esperamos tentando fazer com que o governo do Reino Unido cumpra aquilo que a lei prevê: que Julian Assange possa ter uma passagem segura para o Equador e que a liberdade de imprensa seja respeitada.