Estados Unidos e Inglaterra montaram uma equipe de 550 especialistas para analisar dados de cidadãos interceptados a partir de cabos de fibra óptica, segundo nova leva de documentos publicados pelo jornal britânico The Guardian, entregues à publicação pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden. Apesar de a quantidade de informação a que esses países têm acesso ser considerada “colossal”, um filtro automático faz com que a maior parte dela seja descartada sem análise.
A princípio, essa atividade é legal, apesar de, como o Guardian colocou, estar sendo “conduzida sem nenhum tipo de conhecimento ou debate público”. A prática é favorecida por uma interpretação flexível de leis que foram redigidas em uma época em que não se podia imaginar tamanho avanço da comunicação e das ferramentas que estariam ao dispor de serviços secretos.
Os documentos a que o jornal teve acesso descrevem os esforços dos serviços secretos para se adaptar ao imenso crescimento do volume de informação que circula pela internet. O GCHQ (Government Communications Headquarters), serviço de inteligência britânico, lançou dois programas com esse objetivo: Mastering the Internet, sobre como dominar internet, e Exploração das Telecomunicações Globais.
Grande parte dos fios de fibra óptica que conduzem a telecomunicação mundial passa pelo território do Reino Unido e os britânicos, juntamente com a NSA (Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, na sigla em inglês), se aproveitaram disso para interceptá-los com sofisticados programas de informática.
Segundo o Guardian, “uma inovação chave é a capacidade do GCHQ de interceptar e armazenar enormes volumes de dados obtidos dos cabos de fibra óptica por até 30 dias para que possam ser crivados e analisados”. De acordo com eles, essa operação tem o nome de Tempora e está sendo realizada há 18 meses.
Agência Efe
Foto de 2000 mostra o que podem ser antenas eletrônicas de inteligência reunidas em base da RAF (Royal Air Force)
Sendo assim, o GCHQ e a NSA têm acesso a informações de milhões de pessoas, entre completamente inocentes e suspeitas, mas, segundo uma fonte secreta do Guardian, “não olhamos cada fio de palha”.
“Há certos gatilhos que permitem descartar ou não examinar uma série de dados porque você está procurando uma agulha. Se você tem a impressão de que estamos lendo um milhão de e-mails, saiba que não o estamos fazendo”, disse a fonte não revelada.
A pessoa acrescentou que “os critérios são segurança, terrorismo, crime organizado. E bem-estar econômico”. Segundo ela, a maioria dos dados é descartada sem que sequer sejam vistos, simplesmente porque a inteligência “não tem recursos para fazer isso”.
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De acordo com essa e outras fontes do jornal britânico, as informações obtidas dessa maneira permitiram às agências de segurança descobrir novas técnicas usadas por terroristas e ajudaram a identificar terroristas que estivessem planejando atentados.
Exemplos citados foram a “detenção e encarceramento de uma célula nos Midlands que estava planejando um ataque coordenado, a prisão em Luton de cinco indivíduos que planejavam atentados terroristas e a prisão em Londres de três pessoas que planejavam ataques antes dos Jogos Olímpicos”.
Como explica o Guardian, o GCHQ se apoia na Lei de Serviços de Inteligência de 1994 para justificar a legalidade de suas ações. É a mesma lei que serviu como base para espionarem delegações estrangeiras durante várias reuniões do G-20 realizadas no Reino Unido.
O documento revelado enfatiza que o Reino Unido tem o maior acesso à internet entre os chamados Cinco Olhos, os cinco países anglo-saxões que colaboram em matéria de inteligência: Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia e Canadá.
Snowden afirmou que “não é só um problema dos EUA. O Reino Unido tem um cachorro enorme nessa briga. Eles [GCHQ] são piores do que os EUA”.
Os documentos também revelam que, no ano passado, o GCHQ estava lidando com 600 milhões de “casos de telefone” por dia, tinha peneirado mais de 200 cabos de fibra óptica e conseguia processar dados de pelo menos 46 deles ao mesmo tempo.