Os presidentes latino-americanos presentes na reunião extraordinária da Unasul, realizada na noite desta quinta-feira (04/07), após França, Itália, Portugal e Espanha impedirem que o avião que transportava Evo Morales e sua comitiva sobrevoasse ou pousasse em seus territórios, pediram esclarecimentos e desculpas dos governos europeus. Segundo esses governos, o veto se deveu a uma informação de que o ex-agente da CIA, Edward Snowden, estava a bordo da aeronave.
Efe (04/07/2013)
Maduro, Cristina, Evo e Correa, em reunião na Unasul em Cochabamba para tratar bloqueio ao avião presidencial bolivano
Na declaração final da reunião em Cochabamba, os presentes denunciam que a situação com Morales configura um ato “insólito, inamistoso e hostil”, além de “ilícito”, que representa uma “flagrante violação” dos tratados internacionais, a “falta de transparência sobre as motivações das decisões políticas que impediram o trânsito aéreo de aeronave presidencial boliviana e de seu presidente”, e “as práticas ilegais de espionagem que colocam em risco os direitos cidadãos e a convivência amistosa entre nações”.
A declaração exige que os governos da França, de Portugal, da Itália e da Espanha expliquem as razões do sucedido e apresentem as desculpas públicas correspondentes, denuncia a “grave violação de Direitos Humanos e a exposição a perigo concreto da Vida do Presidente Evo Morales” e apoia o direito do Estado boliviano para “realizar todas as ações que considere necessárias nos tribunais e instâncias competentes”.
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Por fim, o documento estabelece a criação de uma Comissão de Acompanhamento para esclarecer o episódio e convoca a ONU (Organização das Nações Unidas) a apoiar a declaração e que não só a ONU, mas organismos regionais que se pronunciem sobre o fato, que classifica como “injustificável e arbitrário”.
Argentina
Em discurso durante a reunião, Cristina Kirchner afirmou que a situação é de caráter humanitário e legalmente grave, pela violação à imunidade de um chefe de Estado e dos acordos concedidos para voos. “O relato do presidente Morales revela um grau de violação de normas de direito interacional da carta das Nações Unidas e um grau de insegurança jurídica muito grave para qualquer país do mundo e para qualquer cidadão”, afirmou.
Efe (04/07/2013)
Cristina, acompanhada por Evo, durante reunião da Unasul em Cochabamba: “que peçam perdão, alguma vez em sua vida”
A presidente argentina também ironizou os altos gastos dos “países desenvolvidos” com aparatos de inteligência e agências de segurança. “No final, essas agências de segurança informaram mal seus governos, porque evidentemente informaram que no avião do presidente Morales viajava uma pessoa, que inclusive estaria fazendo uso do direito de asilo. Vocês sabem que embaixadas ou naves militares são extensão do território, ou seja, gastar tanto dinheiro para tão má informação?”, questionou.
Cristina expressou ainda, como também expressado na declaração de Cochambamba, que Evo foi mantido como “refém” durante 13 horas em Viena. “Aqui na América do Sul, quando cometemos algum erro ou equívoco, nos ensinaram desde pequenos a reconhecê-lo e pelo menos pedir desculpas a quem ofendemos”, disse em um ato com movimentos sociais antes da reunião, pedindo “muito serena, mas seriamente, as que violaram o direito, que superem isso e se responsabilizem pelos erros cometidos. É o mínimo que podemos pedir, que peçam perdão, alguma vez em sua vida, pelo que fizeram”.
Uruguai
O líder uruguaio Pepe Mujica afirmou que a situação foi “papelão” e um erro dos países europeus, e que a resposta dos mesmos “é quase um infantilismo”. “Já não somos colônias (…) merecemos respeito. Quando um país, um governante é agredido, todos na América Latina nos sentimos agredidos. Então, em nome da civilização, pedimos altura, decência. Errar é uma lei da vida, cometer erros é inevitável, quando se procede assim, é preciso mostrar a cara e assumir a responsabilidade”, expressou durante a reunião.
Efe (04/07/2013)
Mujica ao desembarcar no aeroporto de Cochabamba, na Bolívia, falou em “papelão” e erro dos países europeus com Morales
Equador
Para Rafael Correa, a situação com Evo Morales representa um “tremendo agravo” e seria motivo de guerra se ocorrido com os Estados Unidos ou algum país europeu. “Se o Snowden ia ou não avião é irrelevante”, garantiu, explicando que como aviões presidenciais são uma extensão do território nacional, o ex-agente da CIA poderia estar dentro da aeronave. Segundo ele, o impedimento ao pouso e voo no espaço aéreo europeu viola não somente a carta de constitucionalidade das Nações Unidas como a amizade entre os Estados.
Venezuela
Antes da reunião, o presidente venezuelano Nicolás Maduro qualificou o líder espanhol como “indigno” e “abusador”, afirmando que avaliará as relações de seu país com a Espanha. “Quem o presidente [Mariano] Rajoy acha que é, que vivemos em um mundo colonialista?”, questionou, sobre a pretensão de revista ao avião de um presidente da região. De acordo com ele, a situação, que obrigou Morales a ficar na Áustria por cerca de 13 horas representa “o abuso, o desprezo ao povo latino-americano”.
“Temos que avaliar nossa relação com a Espanha, com o governo de Mariano Rajoy, não com o povo da Espanha que são nossos irmãos”, disse. Na tônica dos demais líderes que se dirigiram à Cochabamba, Maduro exigiu que os países europeus envolvidos no veto ao avião de Morales peçam desculpas e disse que se Rajoy sobrevoar o espaço aéreo venezuelano “poderíamos fazer ele descer e revisá-lo para ver se traz drogas ou os euros que roubam do povo espanhol”.
Maduro confirmou ainda a informação difundida por seu vice, Jorge Arreaza, de que a ordem de restringir o voo a Morales teria vindo da CIA. O presidente boliviano, por sua vez, que não “tremeria a mão para fechar a embaixada dos Estados Unidos” em seu país. “Temos dignidade, temos soberania, sem Estados Unidos estamos melhor politicamente, democraticamente, nosso pecado é ser um presidente indígena, e mais que nada, anti-imperialista”, garantiu.