O posicionamento do Brasil diante da controvérsia envolvendo a Argentina, o Reino Unido e as Malvinas não se alterou desde a guerra de 1982, quando o governo do general João Batista Figueiredo se colocou a favor do país vizinho, na época também governado por militares. Na última segunda-feira (22), a diplomacia brasileira se manifestou a favor da Argentina no atual impasse com os britânicos, envolvendo a exploração de petróleo nas Ilhas Malvinas. A postura adotada pelo Itamaraty foi semelhante à adotada na Guerra das Malvinas, explicaram especialistas em entrevista ao Opera Mundi.
Em 1982, após um período político de instabilidade interna e crise econômica, o então presidente argentino, general Leopoldo Galtieri, ordenou a ocupação militar das Malvinas. Segundo o historiador Pedro Paulo Abreu Funari, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), especialista em estratégias na América Latina, a ação argentina recebeu apoio político brasileiro.
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“Na época, o Brasil se manifestou favoravelmente à Argentina, mas não entrou em guerra, assim como não entraria em guerra com a Inglaterra hoje. Nesse sentido, a situação não mudou”, disse Funari ao Opera Mundi. “O Brasil defende que os territórios do Atlântico Sul sejam dos países da região. Além disso, a política do Itamaraty é concentrada na América do Sul”
Já a pesquisadora Cristina Patriota de Moura, da UnB (Universidade de Brasília), pondera que é difícil fazer uma comparação entre a situação da época e a atual, porque são diferentes “em tudo”.
“Naquela época, a Argentina e o Brasil passavam por regimes militares cruéis que precisavam alcançar popularidade. Era uma guerra; agora, temos um fogo cruzado. Mas, mesmo naquele momento, a posição da diplomacia brasileira foi de apoio à Argentina”, afirma.
Além disso, segundo Cristina, o atual posicionamento pró-argentino do Brasil constrói um “perfil próprio e de aspiração por autonomia ideológica e política da América Latina. O mesmo aconteceu em 1982, num período em que a América do Sul vivia à deriva dos Estados Unidos”.
“O Brasil se torna um protagonista fundamental de uma crise envolvendo um país da América Latina”, conclui a pesquisadora, autora do livro O Instituto Rio Branco e a Diplomacia Brasileira.
Só na diplomacia
A posição brasileira, ressalta o diplomata Paulo Roberto de Almeida, foi uma intervenção favorável à Argentina, porém apenas no âmbito diplomático, uma “característica da diplomacia brasileira”.
“O país tem uma postura de defesa dos territórios latino-americanos, mas tenta manter o princípio anti-intervencionista”, afirmou o diplomata, que serviu na embaixada brasileira em Buenos Aires de 1999 a 2003
Para Almeida, o apoio brasileiro pode ajudar a Argentina a dificultar a ação de empresas britânicas que pretendem explorar petróleo no arquipélago. Pode contribuir também para que a América Latina tenha uma “voz unificada na defesa dos recursos naturais”.
Batalha aérea
Ao contrário do Brasil, o Chile adotou uma postura favorável aos ingleses devido a um conflito ocorrido com a Argentina sobre o canal de Beagle, no extremo sul do continente, cinco anos antes. O general Augusto Pinochet permitiu que o Reino Unido pousasse seus aviões de guerra em território chileno.
Mas, apesar de ter sido simpático ao vizinho, o Brasil deixou de ajudar a Argentina quando um avião inglês passou por seu espaço aéreo, em 4 de junho de 1982.
Naquele dia, os radares brasileiros detectaram o bombardeiro britânico Vulcan, da RAF (Royal Air Force), voando a 340 quilômetros ao sul do Rio de Janeiro. O avião voltava das Malvinas para uma base na Ilha de Ascensão, no Oceano Atlântico, mas teve um defeito mecânico que o impediu de fazer um reabastecimento aéreo e ficou sem combustível. Como o bombardeiro não respondeu ao contato por terra, dois caças F-5 Tiger II da FAB interceptaram-no e conduziram-no à base aérea do Galeão. O Brasil não autorizou a passagem de nenhum avião do Reino Unido em seu espaço aéreo num primeiro momento, quando a aeronave foi apreendida. Mas, em seguida, a aeronave foi liberada e seguiu para Ascensão.
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