O primeiro-ministro egípcio, Hazem Beblawi, afirmou nesta quarta-feira (14/08) que a polícia agiu com “toda moderação” durante a dispersão dos partidários do presidente deposto Mohamed Mursi, que estavam reunidos em duas praças do Cairo. Em pronunciamento transmitido pela televisão, Beblawi agradeceu à polícia pela atuação.
A ação policial resultou em pelo menos 235 mortes e cerca de 2 mil pessoas feridas, segundo dados do Ministério da Saúde egípcio repassados à agência de notícias Efe. Não está confirmado se nesse número estão incluídos os 43 policiais mortos nos enfrentamentos com os islamitas, uma informação que foi divulgada anteriormente pelo Ministério do Interior.
Membros da Irmandade Muçulmana, grupo que apoia Mursi, afirmam que o número de mortos passa de duas mil, com oito mil feridos.
Leia mais:
Governo interino declara estado de emergência por um mês no Egito
Ao justificar a intervenção das forças de ordem, o premiê considerou que “nenhum Estado que se respeite teria conseguido tolerar” a ocupação das praças Rabaa al Adawiya e Nahda por milhares de manifestantes durante um mês e meio.
Mortes
O responsável pelo departamento de Primeiros Socorros do país, Mohamed Sultan, citado pela agência oficial “Mena”, explicou que há vítimas que apresentam ferimentos causados por balas de chumbo e armas de fogo.
Os feridos, alguns com sintomas de asfixia pelo lançamento de gás lacrimogêneo, foram internados nos hospitais para receber tratamento.
Agência Efe
Apoiadores de Mohamed Mursi lançam pedras contra forças de segurança egípcias
Sultan não determinou quais os lugares onde houve mais vítimas, mas os últimos números do Ministério da Saúde indicavam que o maior número foi registrado na praça de Rabea al Adauiya no Cairo, local de um dos acampamentos desmantelados.
Os distúrbios também foram especialmente violentos nas províncias de Al Fayum, Al Buhaira, Dakahlia, Suez, Luxor, Qena e Alexandria.
A violência se estendeu por todo o país depois que as forças de segurança iniciaram uma operação para acabar com os dois acampamentos de protesto dos partidários do presidente deposto Mohamed Mursi no Cairo.
Mortes de jornalistas
Nestes enfrentamentos foram registradas duas mortes de jornalistas: a primeira é a egípcia Habiba Ahmed Abd Elaziz, 26 anos, que trabalhava para a publicação XPRESS, vinculada ao portal de notícias Gulf News, baseado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Ela foi morta enquanto acompanhava os confrontos na praça Rabaa Al Adawiya, no Cairo.
Leia mais:
Por segurança dos funcionários, Embaixada do Brasil no Egito está de plantão
Segundo a Gulf News, Habiba não havia sido enviada para cobrir os confrontos, já que havia viajado para sua terra natal em função das férias de verão.
O cinegrafista britânico Mick Deane, que trabalhava na cobertura dos confrontos no Egito para a rede de TV britânica Sky News, foi morto no Cairo durante os enfrentamentos.
NULL
NULL
Segundo o site da emissora, o chefe da Sky News, John Ryley, descreveu Deane como um “ótimo cinegrafista, um jornalista brilhante e uma fonte de inspiração para muitos na rede de TV”. Já o editor de notícias internacionais do canal, Tim Marshall, disse que Deane era “um amigo, bravo como um leão mas com o coração humano”, acrescentando que ele era “bem-humorado e sábio”.
A notícia da morte de Deane repercutiu também em Downing Street. O premiê britânico, David Cameron, lamentou no Twitter a morte do jornalista da Sky News.
Estado de emergência
O governo decretou nesta quarta estado de emergência nacional e um toque de recolher regional. O banho de sangue provocou uma crise governamental, com a renúncia do vice-presidente, o Prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei. “Para mim é dificil continuar a assumir a responsabilidade de tomar decisões com as quais não estou de acordo”, escreveu na carta.
Agência Efe
Manifestantes lutam contra policiais nas ruas do Cairo
As autoridades tinham prometido um retirada “gradual” dos manifestantes das praças de Rabaa al-Adawiya e Nahda, no Cairo, ocupadas há um mês e meio por milhares de partidários de Mursi, derrrubado no dia 3 de julho pelos militares. Mas as tropas policiais e militares surpreenderam as pessoas acampadas nas duas praças, realizando um cerco ao amanhecer, e começaram a avançar com escavadeiras e disparando bombas de gás lacrimogêneo contra as barracas, que abrigavam várias mulheres e crianças.
Repercussão internacional
Os Estados Unidos condenaram energicamente a violência contra os manifsetantes no Egito e criticaram a imposição de um estado de emergência no país, afirmou a Casa Branca. O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, pediu que os militares egípcios mostrem moderação na operação de dispersão dos partidários do presidente destituído Mohamed Mursi.
A União Africana condenou enfaticamente “os atos de violência que causaram a perda de várias vidas humanas” no Egito e pediu às partes envolvidas, especialmente ao governo interino, que exerçam a “máxima contenção”.
Em comunicado oficial, o Conselho de Paz e Segurança da UA, que analisou hoje em reunião o conflito egípcio, pediu às partes para “evitar qualquer ato de violência e abraçar o espírito de diálogo, respeito e tolerância mútua”.
O Conselho se referiu à violência contra manifestantes partidários do presidente deposto, Mohamed Mursi, em diversas províncias do Egito e que deixaram, por enquanto, 149 mortos e 1.403 feridos, de acordo com dados do Ministério da Saúde egípcio.
A União Africana exigiu também o “fim urgente de todas as declarações inflamatórias, assim como das ações que sabotam a ordem pública, para que possam ser criadas condições para um diálogo frutífero”.