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Política e Economia

Sul da Índia tem aumento de 70% no índice de estupros em dois anos

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Oito meses após comoção por estupro coletivo que matou estudante dentro de ônibus, debate não diminui número de vítimas

Luis A. Gómez

2013-08-31T11:00:00.000Z

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Sonali Mukerjee era estudante em Dhanbad, uma pequena cidade do nordeste. No dia 22 de abril de 2003, três jovens a assediaram sexualmente ao sair do colégio. A jovem se defendeu e chegou a sua casa ilesa. Durante a noite, os atacantes invadiram a casa dela e jogaram ácido em seu rosto e em boa parte de seu corpo enquanto dormia. Sua pele ardeu, seus olhos e orelha desapareceram quase por completo. Tinha 18 anos e hoje ainda necessita de cirurgias para continuar vivendo. Seus agressores passaram dois anos na cadeia.

Leia mais: Perfil - Sonali Mukherjee: Nem todos os sonhos morreram

Tal como Sonali, a famosa heroína de Déli que morreu em dezembro passado se defendeu de seus agressores. O nível de violência exercido pelos seus cinco estupradores, em um ônibus em movimento, escandalizou a sociedade hindu, que protestou e exigiu a suspensão das agressões. Não apenas os militantes e as feministas participaram: a classe média profissional e os estudantes marcharam na capital, em Mumbai e em uma dúzia de cidades.

Leia mais: Execuções e extrativismo são rotineiros em territórios indígenas da Índia

O dia a dia da jovem estudante de fisioterapia de 22 anos, em coma em um hospital, era transmitido ao vivo por emissoras de televisão e rádio de todo o mundo. Logo depois de sua morte, com os cinco acusados detidos (um deles menor de idade), seu pai e vários políticos pediram a pena de morte deles.

Leia mais: Índia - Energia nuclear coloca em risco pescadores e camponeses em Tamil Nadu

Deste então, há nos meios de comunicação um debate sobre a agressão contra as mulheres, com os estupros em primeiro plano. Paradoxalmente, algumas semanas depois, pelo menos oito adolescentes indígenas foram estupradas em um internato para mulheres no estado de Orissa — caso que mereceu alguns parágrafos em um dos diários nacionais em fevereiro.

Leia mais: 2011 - Afegã é perdoada, mas terá que se casar com estuprador para ficar com a filha

Mas o papel dos meios ou a frequência dos estupros (cuja incidência aumentou até 70% no sul da Índia nos últimos dois anos) não explicam por que as agressões masculinas são tão violentas. 

Tirtharaj Paul
Sonali, que percorre o país defendendo vítimas como ela, acredita que em parte isso acontece porque as mulheres ainda acreditam estar indefesas, e luta para que se fortaleçam e aprendam defesa pessoal. “Se uma mulher ou uma jovem acredita ser frágil, talvez não possa se proteger”, explica.

[Sonali atualmente. Seus agressores passaram dois anos na cadeia]

Boski Jain, jovem profissional do centro do país, e Abenla Ozükum, trabalhadora social indígena do nordeste, coincidem em uma coisa: as formas de domínio masculino são antigas, os homens, na Índia, “têm visto as mulheres desde sempre como mercadorias, se considerando superiores e depreciando-as”, explica Ozükum.

Estigma de ser mulher

Aqui, as demonstrações físicas de afeto em público são escassas. Os jovens raramente se dão as mãos e não se beijam nos parques ou centros comerciais. Os meios de transporte coletivo reservam, por lei, uma porção de seus assentos para as mulheres e as penas por delitos sexuais incluem o enforcamento.

Por outro lado, os casos de agressões e abusos são comuns. Na rua e em casa, nos ônibus e nas escolas. “Talvez devessem torná-los impotentes pelo resto da vida, castigá-los com toda severidade”, afirma Boski Jain, de 25 anos.

Leia em espanhol: Mujeres de India reclaman mano dura contra ataques con ácido

No entanto, a possibilidade de contar com a polícia é insignificante. Um ano atrás, a revista Tehelka realizou uma reportagem escondida em diversas delegacias. Mais de doze oficiais explicaram frente a uma câmera que as mulheres quase sempre provocavam (ou desejavam) o estupro. Talvez por isso o nível de condenações por estupro é de 26% dos casos denunciados.

Alguns costumes masculinos

Pode ser pior: muitas vezes, sobretudo em comunidades ou famílias muito religiosas, independentemente de crenças, classe ou casta, as mulheres violentadas são obrigadas a se casar com seus agressores, como reparação pelo dano e para restituir sua honra, que de outra forma perderiam para sempre (junto com o respeito dos demais).

Ou se poderia buscar alguma causa no assassinato das recém-nascidas (na Índia, a lei proíbe que um ultrassom determine o sexo do feto para prevenir o aborto ou posterior assassinato). Ou nos casamentos arranjados que incluem crianças e adolescentes.

Arquivo pessoal
Talvez na falta de educação sexual nas escolas e lares, como aponta Abenla Ozükum, porque sem ela “é impossível mudar a mentalidade do povo”. Para Sonali Mukherjee, esse processo necessário levaria tempo “se começamos agora, mas o cenário seria mais favorável em 10 ou 15 anos”.

Mas os estupros e a impunidade masculina não são exclusividade da Índia. Na África do Sul, por exemplo, uma garota de 17 anos foi estuprada em um bar de Soweto em dezembro, enquanto seu namorado de Déli lutava pela sua vida. Ninguém no bar fez nada, nem mesmo chamou a polícia. Poderíamos mencionar a China, onde morrem o dobro de bebês meninas que neste país (cerca de 10 mil em 2010). Ou os Estados Unidos, onde uma mulher é violentada a cada minuto...

[Sonali quando era cadete militar] 

Cifras oficiais do governo indicam que na Bengala Ocidental houve ao menos 30 mil denúncias de crimes contra mulheres em 2013, algo que a governadora Banerjee nega, “como se eu tivesse culpa dos estupros”.

A estatística dos estupros é de quase 25 mil por ano em toda a Índia (um a cada 20 minutos). Três de cada quatro estupradores saem livres “e a prisão não ajuda porque seguem sendo parte de uma comunidade”, diz Sonali. “Deveriam ser condenados à prisão perpétua em completo isolamento, sem nem contato com seus familiares.”

Há algumas semanas, Sonali fez 29 anos. E Rubi Gupta, de 28, morreu no dia 21 de julho em um hospital na cidade de Bhopal, queimada com ácido pelo seu ex-namorado.  Uma semana mais tarde, cinco jovens sequestraram uma garota de 12 anos em sua comunidade, a estupraram e a abandonaram no caminho; não há ainda detidos. A lista de crimes e abusos parece interminável, as causas e as explicações também.

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Sociedade

Número de vítimas de pedofilia dentro da Igreja pode chegar a 10 mil na França

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Em parceria com o Ministério da Justiça, uma linha telefônica foi colocada à disposição em 2019 para receber testemunhos de vítimas de todo o país

Redação

RFI RFI

Paris (França)
2021-03-02T22:41:00.000Z

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Desde 1950, 10.000 crianças e adolescentes podem ter sido vítimas de violências sexuais cometidas por membros da Igreja Católica na França. Essa é a estimativa do presidente da comissão independente que investiga a pedofilia dentro da maior instituição religiosa no país. 

A comissão foi criada em 2018 pelo episcopado francês e institutos religiosos após diversos escândalos no país. Em parceria com o Ministério da Justiça, uma linha telefônica foi colocada à disposição em 2019 para receber testemunhos de vítimas de todo o país. A estimativa foi feita a partir dos relatos recolhidos.

O número de crianças e adolescentes sexualmente abusados, no entanto, ainda pode mudar. “Nossa campanha está pedindo testemunhos, certamente não reuniu a totalidade [de vítimas]”, afirmou o presidente da comissão Jean-Marc Sauvé nesta terça-feira (02/03). “A grande pergunta neste momento é qual o percentual de vítimas que atingimos. 25%? 10%? 5%?”, completou.

O presidente da comissão não informou quantos são os possíveis agressores envolvidos. Segundo ele, no entanto, "em várias instituições católicas ou comunidades religiosas, tem havido um verdadeiro sistema de abuso, mas esta situação representa uma minoria muito pequena dos casos de que ouvimos falar".

Pxhere
Cerca de 10.000 possíveis vítimas de pedofilia cometida por membros da Igreja Católica na França foram identificadas desde 1950

O relatório final com recomendações de práticas de combate à pedofilia na Igreja deve ser divulgado em setembro. 

Responsabilidade pelo passado

Em fevereiro, a Conferência de Bispos da França reuniu 120 representantes ao longo de três dias para discutir a responsabilidade nos casos de pedofilia do passado. A discussão terminou sem nenhuma decisão prática.

"Nós concordamos todos que, no passado, houve falhas na gestão das coisas, sem falar dos crimes cometidos", afirmou o Monsenhor Luc Ravel. "Mas ainda estamos divididos sobre a noção de responsabilidade coletiva em relação ao passado. Alguns acreditam que é preciso solidariedade em relação às gerações precedentes", disse na ocasião da conferência.

Os 120 bispos devem se encontrar novamente no final deste mês para votar um dispositivo de reconhecimento do sofrimento vivido pelas vítimas que, se aprovado, pode prever medidas financeiras, criação de monumentos e políticas de prevenção à pedofilia.

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