Segundos depois de ser declarada vencedora do concurso Miss Estados Unidos e receber a coroa reservada às vencedoras da competição, a norte-americana Nina Davuluri começou a ser alvo de uma avalanche de comentários racistas na internet, em especial no microblog Twitter, principalmente em razão de sua etnia.
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Nina, de 24 anos, eleita na noite de sábado (14/09) em Atlantic City (estado de Nova Jersey), nasceu na cidade de Fayetteville (Nova York). Primeira norte-americana de origem indiana a ganhar o prêmio, ela não comentou os ataques que recebeu. Filha de um médico, contou em sua rede social que teve de combater a bulimia quando era mais jovem e que sua aspiração é estudar medicina no futuro.
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Um dos comentários mais repercutidos no microblog foi do jornalista Todd Starnes, da rede de TV conservadora Fox News. Ele afirmou que “não reconhece o julgamento liberal do [concurso] Miss America, mas a Miss Kansas perdeu porque representa realmente os valores americanos”. Starnes se refere a Theresa Vail, uma das candidatas derrotadas, branca e loira, que se apresentou em trajes militares e disse, durante entrevistas, que gosta de realizar ensaios com temáticas de caça.
Reprodução
Nina Davuluri no momento em que é coroada Miss Estados Unidos 2013
Muitos explicitaram seu preconceito através da xenofobia – aparentemente, para estes internautas, a vencedora do concurso deveria ser de origem “genuinamente local”. “Miss America é indiana… com todo respeito, aqui é América!”, disse a internauta identificada como @Savannah_Dale97. “Juro que não sou racista mas aqui é America”, diz @JAyres15 (Jessica Ayres). “Dança Egípcia? Aqui é América. #MissAmerica”, esbraveja @ColtonSEvans.
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Outros comentários questionavam: “Se você é Miss America então você não deveria ser americana?”; ou “Quando uma mulher branca ganhará um Miss America?”.
A ignorância geográfica também esteve muito presente entre os críticos. Muitos, sem demonstrar menor conhecimento sobre a origem dos povos, a classificaram como árabe, e não indiana. “E uma árabe vence a Miss América… Clássico”, retrucou @Granvil Colt. “Como o Ca&@#%$ de uma estrangeira vence o Miss América? Ela é árabe! #Idiotas”, diz @jakeamick5 (Jake Amick).
Muitos demonstravam confusão entre árabe, muçulmano, indiano ou estrangeiro: “”Eleger uma muçulmana para Miss America deve ter feito [o presidente Barack] Obama muito feliz”, foi outro comentário muito repercutido. Nina, que não é muçulmana, recebeu o mesmo preconceito de que Obama é alvo desde quando era candidato pela primeira vez à Presidência por opositores radicais – ser muçulmano e não ter nascido em território norte-americano.
Muitos comentário relacionavam a ganhadora com referências à proximidade do 11 de Setembro. “Miss America ou Miss Al Qaeda?”, escreveu @Shann_Wow (Shannon McCann). “Felicitações, Al Qaeda. A Miss America é uma de vocês”, disse @Blayne_MkltRain (De la Rutheford). Já outros questionavam o fato dela ter sido eleita poucos dias após o aniversário do atentado. “11 de Setembro foi há quarto dias e ela ganha o Miss America?”, disse @Luke Brasili (Luke Brasili)”.
No entanto, ela foi defendida por um grande número de internautas norte-americanos, que se indignaram com os comentários preconceitos contra Nina. “Gostaria de pedir desculpas ao mundo, eu juro que nem todos de nós são tão estúpidos”, disse @farGar (Faress Jouejati). E muitos dos que proferiram comentários preconceituosos foram intensamente trolados.
Em 2010, o mesmo episódio se repetiu quando Rima Fakih, de origem libanesa, foi eleita Miss América. Nessa ocasião, os comentários tentaram associá-la ao grupo militante islâmico Hezbollah. A miss universo angolana Leila Lopes, recebeu comentários duríssimos de racismo ao ser coroada em 2011.