Os dois principais partidos de esquerda da Alemanha – o Socialdemocrata (SPD) e o A Esquerda (Die Linke) – aumentaram o número de cadeiras a que têm direito na eleição para o Bundestag realizada neste domingo (23/09). O crescimento se deveu, principalmente, à saída do Partido Democrático Liberal (FDP) do parlamento, por não ter atingido os 5% mínimos para conseguir representação.
Em comparação com a última eleição, em 2009, os dois partidos juntos conseguiram 34 cadeiras a mais e formaram, respectivamente, a segunda e a terceira forças do Bundestag –somente atrás da União, bloco formado pela União Democrata-Cristã, a CDU, e pela União Social-Crista, a CSU, e que sustenta a chanceler Angela Merkel, também reeleita neste domingo. Por sua vez, a União por pouco não conseguiu ter a maioria absoluta.
Se Die Linke, SPD e Verdes tentassem fazer uma coligação, teriam a maioria no Bundestag e poderiam eleger o chanceler – no caso, o candidato Peer Steinbrück (SPD). Ele, no entanto, já descartou uma aliança com A Esquerda. Os socialdemocratas tendem a se coligar com Merkel para formar maioria, a exemplo do que aconteceu em 2005.
Agência Efe
A vice-presidente do Die Linke, Sahra Wagenknecht; partido virou a terceira força no parlamento
Melhor desempenho em Berlim
A melhor votação do Die Linke, partido resultante do antigo SED (Partido Socialista Unificado da Alemanha), que governava a Alemanha Oriental (RDA) até pouco antes da reunificação, foi nas regiões a leste de Berlim – exatamente onde ficava a capital do antigo país. Bairros como Lichtenberg, Marzahn-Hellersdorf, Pankow e Treptow-Köpenick, mais pobres, voltaram a eleger já no primeiro voto candidatos do Die Linke.
Em comparação com 2009, no entanto, o partido conquistou menos mandatos diretos. Há quatro anos, só em Brandenburg (ainda na região da antiga RDA), o Die Linke havia conseguido 28,5% dos votos, mais que SPD e União. O partido também havia conseguido outros bons resultados no seu antigo território – caso da Turíngia e da Saxônia-Anhalt.
Como é
É importante entender como se dá a eleição. Cada alemão tinha direito a dois votos neste domingo. No primeiro, votou-se no candidato do distrito a que o eleitor pertencia (cada distrito compreende cerca de 250 mil eleitores). Esse primeiro voto preencheu 299 cadeiras. Na segunda vez, a população votou em uma lista de candidatos indicada por cada partido. Na prática, o segundo voto serve para escolher quais agremiações serão representadas no parlamento. Com essas escolhas, são preenchidos outros 299 assentos.
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Caso, no segundo voto, um partido tenha conseguido menos assentos que os obtidos no primeiro voto (o chamado “mandato direto”), a agremiação pode conseguir ainda mais cadeiras, em um total variável em cada eleição. Ou seja: se o partido A ganhou 15 assentos no primeiro voto, mas só dez no segundo, são acrescentados outros cinco na contabilidade final. Por isso, desta vez, foram preenchidas, no total, 630 vagas.
Existe, também, uma cláusula de barreira: se o partido não atinge 5% do segundo voto ou não consegue obter mandatos diretos em pelo menos três distritos, não vai para o Bundestag.
Quase lá
Foi o que aconteceu com o FDP e com o Alternativa para a Alemanha (AfD). Com 4,8% e 4,7% dos votos, respectivamente, os dois partidos não elegeram parlamentares. Apesar da semelhança nos números, o fato de eles não terem ido para o Bundestag teve consequências diferentes.
Sem o FDP, Merkel perdeu o partido com quem estava coligada desde 2009. Os liberais tiveram o melhor resultado da história nesse ano, quando bateram a marca dos 14% dos votos. Somados com a União, tinham 332 cadeiras no parlamento, uma maioria confortável entre os 622 assentos.
Agência Efe
Angela Merkel garantiu sua reeleição, mas precisará se coligar com oposição para poder governar
A própria chanceler já dava sinais de que abandonaria seu parceiro de coalizão. Enquanto o FDP tentava conquistar o segundo voto dos eleitores, com o argumento de que a esquerda poderia voltar a mandar no país, Merkel pedia que ele fosse dado diretamente à CDU. “Nós gostaríamos de continuar a coalizão, mas a CDU não tem votos para dar de presente. Cada um luta por sua política”, afirmou, durante um comício em Potsdam (a 35 km de Berlim). Em outro evento, em Duderstadt (a 350 km da capital), ela foi ainda mais direta: “Os dois votos para a CDU, esse é o lema”.
Já o resultado da AfD surpreendeu muitos analistas. Nas primeiras projeções do domingo, o resultado estava tão apertado que as redes de TV ARD e ZDF davam cadeiras no parlamento ao partido. O Alternativa para a Alemanha é conhecido por sua proposta central de abolir o euro.
“Vejo isso como uma nostalgia do marco alemão”, afirma Argemiro Procópio Filho, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e ex-docente da Universidade Livre de Berlim. Esse resultado é, segundo ele, “o preço de ser a locomotiva da Europa” – o que vem cansando alguns alemães, já que boa parte da ajuda a países em crise tem saído da Alemanha.