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Política e Economia

Portugal venderá Correios na quarta grande privatização exigida pela troika

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Brasil deve concorrer, de acordo com vice-presidente Michel Temer; China tem sido compradora de diversas vendas

Marana Borges

2013-10-14T12:16:00.000Z

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Com a oficialização de que o governo português venderá os Correios até dezembro, o país avança para a quarta privatização de grande escala desde 2011, seguindo as exigências da troika (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), que emprestaram a Portugal 78 bilhões de euros (230 bilhões de reais).

O objetivo do governo é equilibrar as contas públicas, e para isso as estatais ou as empresas onde o Estado é o principal acionista servem de alavancas para as arrecadações. O Executivo considera decisiva a venda dos Correios (CTT pelas suas siglas) para reduzir o déficit em 1,6 ponto percentual este ano e, assim, atingir a meta de 5,5% do PIB. Já foram vendidas empresas nas áreas de energia, gestão de aeroportos e saúde. Ainda estão na mira a companhia aérea TAP e as seguradoras do banco Caixa Geral de Depósitos -o maior do país-, entre outras.

Marana Borges/Opera Mundi

Imagem de uma das agências dos Correios em Portugal


A oposição de esquerda e sindicatos têm criticado duramente o governo de centro-direita por deixar setores estratégicos em mãos estrangeiras. Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, a maior central sindical portuguesa, classificou de “crime contra a economia” a privatização dos Correios. Os sindicalistas alertam para o risco de mais desemprego num país com a terceira maior taxa da União Europeia (16,4%). Esse receio cresceu ainda mais depois da declaração do ministro da economia, Antonio Pires de Lima, que disse não poder “assegurar que não haja demissões”.

Geografia das privatizações

O maior negócio do Estado português até o momento foi a gestora de aeroportos ANA. O grupo francês Vinci a comprou por 3 bilhões de euros (9 bilhões de  reais) e hoje controla 23 aeroportos em França,  Camboja e Portugal.

Porém, é a China que tem se colocado como principal ator no mercado das privatizações. A estatal State Grid adquiriu 25% da transportadora energética portuguesa REN por 400 milhões de euros (1,2 bilhões de reais). A segunda maior fatia (15%) ficou com os árabes Oman Oil Company.

Em dezembro de 2011, a também chinesa Three Gorges transformou-se na maior acionista da EDP, empresa do setor energético com posição consolidada na Península Ibérica e crescente presença no Brasil, especialmente no setor das renováveis. O negócio foi fechado em 2,7 bilhões de euros (8 bilhões de reais). As brasileiras Eletrobrás e a Cemig concorreram por uma fatia da empresa, mas perderam a disputa.

Os brasileiros também não se saíram bem na corrida pela compra da TAP. À época, o favorito era o dono da Avianca, o brasileiro-colombiano Germán Efromovich, que ofereceu 1,5 bilhão de euros (4,5 bilhões de reais). Contudo, em meio à falta de garantias bancárias, a proposta foi recusada e o processo de venda, adiado. 

Por enquanto somente a operadora brasileira de saúde Amil foi bem-sucedida. O grupo comprou a rede portuguesa de hospitais HPP Saúde por 85 milhões de euros (251 milhões de reais) em março deste ano. Porém, ela não figura entre as gigantes estatais. Agora, a nova aposta do Brasil é os Correios, avaliado em 600 milhões de euros (1,8 bilhões de reais). O vice-presidente Michel Temer afirmou durante visita na semana passada que os Correios do Brasil seguem interessados no negócio. Foi a segunda viagem de Temer a Portugal em um ano para tratar de temas ligados à privatização.

Mudança de planos

As recentes mudanças no modelo de venda dos Correios tomaram os interessados de surpresa, pois dificultam a aquisição de uma posição majoritária na empresa. O governo decidiu colocar 70% do CTT na Bolsa, reservando uma parte a pequenos investidores e outra a investidores institucionais, além de 5% destinados por lei aos trabalhadores da companhia. Os restantes 30% devem ser vendidos a médio prazo, ainda não se sabe por meio de qual modelo.

O método de venda a vários acionistas foi utilizado com sucesso pelo Reino Unido, que na semana passada colocou 52% do capital da Royal Mail na Bolsa e conquistou 700 mil pequenos investidores. Em Portugal, o modelo desapontou grupos empresariais. Alguns especialistas apontam a mudança como uma estratégia do governo para valorizar a empresa na Bolsa e, assim, vender os restantes 30% por um preço mais elevado.

O processo de privatizações em Portugal é uma exigência expressa no memorando assinado entre o Estado português e os credores da troika em maio de 2011. Mas o enxugamento do Estado não para na venda de estatais. O governo do primeiro-ministro Passos Coelho ainda planeja mais cortes na despesa pública, depois das medidas já em voga de aumento de impostos, redução em salários, aposentadorias e postos de trabalho. Ainda esta semana os detalhes do Orçamento de 2014 serão apresentados ao Parlamento.

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Análise

Patentes na OMC é uma derrota para os países do Sul Global

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Pandemia de covid-19 reativou a debate sobre a quebra de patentes para medicamentos e vacinas. Apesar de sua união em torno do tema, países subdesenvolvidos sofreram uma derrota

Alessandra Monterastelli

Outras Palavras Outras Palavras

2022-07-06T22:35:00.000Z

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No dia 17 de junho, saiu fumaça branca das chaminés da Organização Mundial do Comércio (OMC). A entidade, responsável pela regulação de patentes internacionais, anunciou que chegara a uma conclusão sobre as vacinas contra o coronavírus. Tratava-se do pedido de isenção do acordo TRIPS – sigla em inglês para Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio. Firmado na virada do século, tal compromisso obriga os países-membros da OMC a adotar padrões mais rigorosos de proteção patentária. Consequentemente, encarece o acesso às inovações tecnológicas, inclusive no setor farmacêutico. Mas a decisão final foi amplamente criticada por ativistas da saúde e movimentos populares em todo o mundo, já que a OMC rejeitou a isenção total do TRIPS. 

Em 2020, diante da disseminação do novo coronavírus, África do Sul e Índia protocolaram a proposta de isenção do Acordo, que obteve amplo apoio dos países em desenvolvimento e de baixa renda – com exceção do Brasil. A nova decisão foi saudada pelo Secretariado da OMC e por representantes de países ricos como um resultado sem precedentes, mas ativistas condenam que, na prática, a decisão não atende as necessidades mínimas da maior fatia do mundo. “Houve um esvaziamento da proposta pelos países mais ricos. O texto perdeu totalmente sua força, não trouxe nada novo”, explica Felipe Carvalho, Coordenador Regional da Campanha de Acesso do Médicos Sem Fronteiras ao Outra Saúde.

A conclusão do órgão concedeu uma exceção temporária à restrição das quantidades de vacinas que podem ser exportadas sob licença compulsória; diagnósticos e tratamentos não estão incluídos e devem obedecer ao limite de exportação durante o tempo de licença compulsória – decretada durante emergências sanitárias, como é o caso da pandemia. Além disso, a concessão vale apenas para responder à covid-19 e não tem validade diante de outras crises de saúde. O acordo final não inclui o compartilhamento de segredos comerciais e know-how de fabricação, o que prejudicará a produção de vacinas com tecnologia avançada por países de baixa renda – como é o caso dos imunizantes de RNA.

Carvalho conta que o problema é abordado com frequência em reuniões escpecais da OMS e da ONU.  “Existe um consenso entre especialistas e órgãos multilaterais de que as patentes causam constantes crises de acesso e inovação na saúde”. Em maio, o The Guardian divulgou que a Pfizer lucrou 25,7 bilhões de dólares só no início de 2022 – mais da metade do valor está relacionado à venda de vacinas contra a covid-19. Tim Bierley, ativista do Global Justice Now, denunciou ao jornal britânico que apesar do apelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de outras organizações, a farmacêutica seguia se recusando a compartilhar a tecnologia de produção do imunizante. O diretor da OMS, Tedros Adhanon, afirmou em 2021 que a pandemia estava sendo prolongada por uma “escandalosa desigualdade” diante do acúmulo de doses de imunizantes por países ricos enquanto países pobres não conseguiam avançar em sua meta de vacinação em massa. 

“Desde a criação do acordo TRIPs nós temos um cenário de constantes crises de acesso a medicamentos essenciais”, conta Felipe. Ele relembra o caso emblemático da epidemia de HIV/AIDS, na década de 1990. “Em 1996 surgiu a primeira terapia para a doença. As pessoas pararam de morrer e passaram a conviver com o vírus. Mas essa terapia não chegou nos países onde o cenário era mais grave”, explica. O ano de 1996 foi também quando o acordo TRIPS entrou em vigor, após sua criação em 1994 e preparação em 1995. “A partir daí se criou uma coalizão na sociedade civil, da qual fazemos parte, chamada Movimento de Luta pelo Acesso a Medicamentos. A pergunta era: por que os preços eram tão altos e o tratamento se tornava inacessível para milhões de pessoas? Nos aprofundamos no sistema de patentes e entendemos que o monopólio era a causa”, relembra.

Apesar do TRIPS possuir cláusulas que permitem flexibilizações, elas são de difícil utilização devido a dois fatores principais: sua não-incorporação completa em leis de países-membros e a pressão que as farmacêuticas exercem sobre as decisões da OMC. Na década de 1990, diante da grave situação vivida na África do Sul – país com maior número de mortes pela AIDS na época – o governo então liderado por Nelson Mandela aprovou uma das medidas previstas no TRIPS para importar genéricos. Na ocasião, Mandela sofreu o processo de 39 farmacêuticas que se opuseram à decisão tomada para conter a crise de saúde pública. Apesar da derrota das corporações na justiça, “esse é um exemplo de como essas empresas e seus países-sede tentam barrar as normas legítimas existentes no TRIPS”, exemplifica Carvalho.

A OMC é uma instituição formada por 164 membros e opera com base na tomada de decisões por consenso. “A OMC falhou em fornecer uma isenção. O acordo coloca os lucros à frente das vidas e mostra que o atual regime de propriedade intelectual falha em proteger a saúde e promover a transferência de tecnologia. Essa não-renúncia estabelece um mau precedente para futuras pandemias e continuará a colocar vidas em risco” declarou Lauren Paremoer, médica e integrante do Peoples’ Health Movement na África do Sul. 

A Health Action International, referência no trabalho para expandir o acesso a medicamentos essenciais, argumentou em nota que a decisão da OMC impõe obstáculos ao licenciamento compulsório, uma das poucas flexibilidades existentes no TRIPS, em troca de uma abertura tímida para a facilitação da exportação de vacinas. Outras entidades representantes da sociedade civil já denunciaram a atuação dos países ricos e vêm aumentando a pressão sobre os governos. O objetivo, segundo seus porta-vozes, é que sejam tomadas medidas concretas para desafiar as regras de monopólio farmacêutico da OMC e garantir mais acesso a medicamentos e tecnologias. 

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