Tendo como tema dominante a crise do capitalismo, delegados de mais de 40 países apresentam nesta semana em São Paulo alternativas socialistas no evento “Tendências da situação internacional”, organizado pelo PC do B (Partido Comunista do Brasil). Baseado nas experiências do século XX, há um consenso entre os participantes de que a transição para o socialismo se dará a longo prazo e respeitando características nacionais. Para os mais de 20 representantes latino-americanos, foi enaltecido o processo de integração da região e o papel dos governos progressistas nesse processo.
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Após a apresentação dos participantes por Ricardo Alemão, secretário de Relações Internacionais do PC do B, a quarta-feira (13/11) começou com o discurso do presidente do partido, Renato Rabelo. Segundo ele, o quadro geopolítico internacional apresenta tendências preocupantes e está cheio de “incertezas, instabilidade, conflitos e ameaças à paz”.
Brenda Leal/divulgação
O presidente do PCdoB, Renato Rabelo (à direita, no púlpito), na abertura do seminário em São Paulo
“Há mais de cinco anos se impõe uma ofensiva do capital sobre o trabalho, e dos países imperialistas centrais contra os países em desenvolvimento. A resolução de conflitos pela guerra voltou a ser tendência. Ações de mudança de regimes, disfarçadas por motivações supostamente ‘humanitárias’, têm sido cada vez mais frequentes”, afirmou o dirigente, citando os casos da Líbia e da Síria.
A crise atual do capitalismo, segundo Rabelo, também reafirma as contribuições dos princípios básicos do marxismo e do leninismo.
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Os participantes do encontro aplaudem ao final de mais um discurso
O seminário internacional integra o 13º Congresso do PCdoB, que se realizará até sexta-feira (15) no Centro de Convenções do Anhembi, zona norte da capital paulista. São esperadas as presenças da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cerimônia de encerramento. Já o seminário continuou até o início da tarde desta quinta-feira (14), onde se esperam explanações de representantes de países como China, Venezuela, Cuba, Vietnã e Síria, entre outros.
Os países
Entre os mais de 30 delegados que participaram do primeiro dia do encontro, um dos discursos mais emocionados foi o do palestino Fawzi El Mashni, do Fatah, que homenageou a memória do ex-presidente Yasser Arafat. Na semana passada, estudos revelaram que sua morte, em 2004, foi causada por envenenamento. Ele lembrou o apoio da maioria dos países latino-americanos à causa palestina e disse esperar que seu país seja definitivamente reconhecido como uma nação independente e soberana na ONU já neste mês de novembro.
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Pela França, Obey Ament e Cécile Dumas, ambos do PCF (Partido Comunista Francês), criticaram a “otanização” da União Europeia (em referência à Organização do Tratado do Atlântico Norte) e defenderam a saída do país desse grupo militar multilateral.
Dumas contestou as medidas tomadas pela diplomacia francesa desde a posse, em 2012, do Partido Socialista. “O governo de François Hollande resume sua política internacional em interesses comerciais e militares. Não apoiamos a pressa com que ele intercedeu no Mali ou a postura militarista em relação à Síria”, disse ela a Opera Mundi. Ela afirma que a teme o avanço da extrema-direita anti-imigração do país, comandada pelo Fronte Nacional, além dos crescentes casos de racismo, como o ocorrido no mês passado com a ministra da Justiça, Christiane Taubira.
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Ainda no continente europeu, Lefteris Nikolau [foto à esquerda], do KKE (Partido Comunista da Grécia), também fez duras críticas a UE, OTAN e aos partidos de centro-esquerda. Em entrevista a Opera Mundi, ele disse considerar o Syriza (Aliança da Esquerda Radical, maior partido de oposição no Parlamento grego) uma coligação “oportunista” em seu discurso, por, no fundo, defende as mesmas posições dos partidos da social-democracia, tradicionalmente representada em seu país pelo Pasok (Partido Socialista Pan-Helênico), atualmente no governo.
Ele critica as ações do Syriza junto aos sindicatos, por aceitarem cortes salariais, desde que menores do que os propostos pelo governo, e de não se posicionarem sobre a saída da Grécia da OTAN e da UE, ambas defendidas pelos comunistas gregos. “Chega uma hora em que fica impossível termos algum terreno em comum”, afirmou.
Segundo Nikolau, é preciso que o movimento comunista consiga responder ao povo uma questão básica: “Com qual estratégia poderá expressar com eficácia os interessas da classe trabalhadora? Para mim, é necessário tratar o socialismo não como um objetivo futuro, mas como uma questão e atividade cotidiana”, afirmou.
Por sua vez, o representante do CPUSA (Partido Comunista dos Estados Unidos), Gary Dotterman, propôs a criação de uma universidade internacional marxista na internet, além da reconstrução da Comunidade Internacionalista de Defesa Trabalhista.
Já Pak Kun Gwang, delegado da Coreia do Norte, fez duras críticas ao imperialismo norte-americano e protestou contra as sanções da ONU na recente crise diplomática envolvendo seu país em junho. “Hoje, a Península Coreana é uma região efervescente, onde o perigo de uma guerra nuclear é maior do que em outras regiões. Os EUA (…) não abandonaram suas ambições de invadir nosso país. Eles insistem em dizer que nosso satélite, lançado no ano passado, é um míssil de longo alcance”, afirmou, defendendo a capacidade militar de seu país como forma de proteger sua soberania.
Pela Colômbia, Pietro Alarcón (Partido Comunista da Colômbia) destacou a importância das negociações de paz entre o governo de seu país e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). “Temos grande quantidade de expressões populares atualmente e o centro da dinâmica politica constitui os diálogos ocorridos em Havana (local das negociações). Isso estimula a criação e o aparecimento de seminários e debates, além do ressurgimento de um movimento pela paz”, afirmou.