A nove dias do segundo turno das eleições presidenciais chilenas, Michelle Bachelet e Evelyn Matthei se enfrentaram, na manhã desta sexta-feira (06/12), no primeiro debate que as colocou frente a frente. O evento, realizado pela ARCHI (Associação de Radiodifusores do Chile), mostrou de forma clara tanto as diferenças programáticas como as estratégias eleitorais das duas candidatas para o pleito decisivo.
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Favorita, Bachelet reforçou o discurso utilizado desde as primárias, em julho, enfatizando as reformas educacional, constitucional e tributária, que pretende realizar no país caso volte à presidência – ela foi a primeira mulher a governar o Chile, entre 2006 e 2010.
Agência Efe
Primeiro debate do segundo turno das eleições presidenciais foi feito pelo rádio, nesta sexta-feira
Segundo a candidata socialista, que obteve 46,69% dos votos no primeiro turno, “o confronto direto mostra claramente que não dá no mesmo quem governa, porque nosso projeto busca transformações no país, enquanto o outro visa manter as mesmas estruturas de poder, as mesmas incorreções e as mesmas desigualdades”.
Já a governista Evelyn Matthei (25,01% no primeiro turno) apresentou novas propostas, o que representou uma reformulação de seu programa de governo. Em suas primeiras intervenções, a ex-ministra do Trabalho do governo de Piñera fez menção ao compromisso com líderes religiosos, de tomar medidas “de acordo com os princípios estabelecidos pela Bíblia, sobretudo em temas de valores como o aborto e o matrimônio homossexual, sobre os quais serei contra”.
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As declarações causaram polêmica, já que Matthei sempre foi tida como liberal nesses temas e é, inclusive, autora de um projeto de lei sobre o aborto terapêutico. Ao ser perguntada sobre sua mudança de opinião, a candidata teve sua primeira gafe, ao dizer que “temos que fazer uma reflexão filosófica para não atentar contra a vida. Se um feto que tem seu coração batendo se forma sem cérebro, pode-se declarar sua morte cerebral?”.
Estratégias eleitorais
Em suas intervenções, Evelyn Matthei fez diversos chamados ao eleitorado de classe média, dizendo que “não podemos entregar recursos às pessoas mais pobres indiscriminadamente ou através de critérios que excluem a classe média, que se esforça por ter uma vida melhor e depois é excluída das políticas de proteção social”.
Ao insistir na analogia de que seu programa de governo “representa a Alemanha de Merkel, enquanto o de Bachelet é o retrato da Alemanha Oriental”, Matthei titubeou diante da pergunta do moderador, que lembrou que a Alemanha de Merkel tem educação pública gratuita e um orçamento sustentado por altos impostos. “O importante da Alemanha de Merkel é que é um sistema que recompensa o esforço, os mais esforçados, que foi sempre um dos princípios da sociedade alemã, e nisso estamos totalmente de acordo e queremos reproduzir aqui no Chile”, respondeu a candidata.
Por sua parte, Michelle Bachelet demonstrou a preocupação do seu comando de campanha em evitar que a abstenção eleitoral seja novamente um problema para sua candidatura. Na primeira resposta do debate, a candidata disse que “é importante que as pessoas entendam que essa é uma grande oportunidade de alcançar um país mais justo para todos, e que diante disso não podemos nos omitir”.
A taxa de abstenção de 50%, registrada no primeiro turno das eleições chilenas, prejudicou principalmente a candidata oposicionista, segundo os principais analistas chilenos. Os números oficiais divulgados pelo Servel (Serviço Eleitoral do Chile) demonstraram isso, revelando que nas zonas onde registaram maior índice de abstenção (algumas delas com mais de 60% de evasão eleitoral), Bachelet teve vitórias por grande margem de diferença, enquanto Matthei conseguiu igualar e até superar Bachelet nas zonas onde se verificou menos abstenção.