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Política e Economia

Memórias de uma radialista guerrilheira às vésperas da eleição em El Salvador

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María Mejía, hoje com 51 anos, lutou nas montanhas ao lado do agora candidato da FMLN, Salvador Sánchez

Paula Rosales

2014-01-29T08:00:00.000Z

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María Mejía vive nas profundezas da cordilheira de Chalatenango, um dos departamentos mais castigados pela guerra em El Salvador e o lugar onde se formaram as primeiras unidades guerrilheiras no país centro-americano. A vida austera no campo hoje contrasta com o importante papel no conflito, já que, nos momentos mais críticos, María se encarregou de transmitir por códigos as mensagens do ex-comandante Salvador Sánchez Cerén – agora candidato favorito à Presidência.

Leia entrevista exclusiva feita por Fernando Morais:
Quero aprofundar mudanças em El Salvador, diz candidato governista à Presidência

Paula Rosales/Opera Mundi

María Mejía: "quando começamos a ver os massacres, fomos obrigados a pegar em armas e responder”

A mulher de rosto afável, corpo esbelto e um sorrido à flor da pele, guarda em sua memória as mais duras lembranças da guerra (1980-1992), dos combates contra o Exército e de sua luta constante para sobreviver. A entrada nas filas da guerrilha da FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional) não teve nada a ver com aspectos ideológicos. María decidiu se alistar depois de o Exército assassinar seus pais e três de seus irmãos durante operativos supostamente contrainsurgentes.

Leia mais sobre a eleição em El Salvador:
"Campanha do medo" marca processo eleitoral salvadorenho

Eram os anos 1980 e o país vivia uma das etapas mais difíceis de sua história: a população era marginaliza, os altos índices de pobreza extrema eram altos e estava em vigor um sistema de governo repressivo, que mantinha a população sob a bota militar.

“Aqui as pessoas não seriam comunistas se tivessem vivido em paz e os militares não tivessem vindo matar as pessoas. Quando começamos a ver os massacres, fomos obrigados a pegar em armas e responder”, disse a Opera Mundi. Depois do assassinato de seus familiares, María teve de fugir e refugiar-se nas montanhas para não morrer durante os operativos militares que espreitavam as populações mais vulneráveis.

Da cozinha ao “Chile”

María abandonou seu nome oficial e o substituiu pelo pseudônimo “Delmy”. Sua primeira missão dentro dos acampamentos foi a árdua tarefa de cozinhar para os combatentes. Seu estilo ameno de conversar fez com que seus companheiros de armas vissem nela aptidão para o ramo da comunicação, motivo pelo qual a enviaram para um curso, onde aprender a manusear transmissores de rádio e no qual concluiu em segundo lugar.

Efe

Homem segura cartaz em El Salvador da campanha do candidato da FMLN às eleições salvadorenhas, Salvador Sánchez

Seu papel de destaque no curso de comunicação foi suficiente para que fosse transferida para o “Chile”, como era chamado o acampamento de operações dos comandantes das FPL (Forças Populares de Libertação), uma das cinco organizações que formaram o FMLN. “Para que eu tenha ido de onde estava para o acampamento da seção que correspondia ao comando, é porque tinham confiança em mim”, lembra.

No “Chile”, María foi encarregada dos trabalhos de transmissão das mensagens do comandante em chefe das FPL, Salvador Sánchez Cerén, cujo pseudônimo era Leonel González. Por meio de chaves numéricas, ela traduzia e enviava mensagens às diferentes unidades guerrilheiras situadas em outras regiões do país.

Nessa etapa, María lembra-se do semblante tranquilo e comedido do agora candidato do FMLN. “Ele demonstrou nos acampamentos que não está acima de ninguém, nunca viu os companheiros como inferiores. Quando fazíamos fila para a comida, ele sempre foi o último a pedir e isso, na minha opinião, diz muito de sua grandeza”.

A mulher de brilhantes olhos cor de café e pele bronzeada foi uma das milhares de mulheres camponesas, estudantes e operárias, que deixaram suas famílias para tomar as armas e participar ativamente das frentes de guerra.

El Salvador manteve uma guerra durante 12 anos, durante a qual o FMLN enfrentou o Exército, financiado pelos Estados Unidos, e na qual morreram cerca de 75 mil pessoas e outras 8 mil desapareceram.

Apesar de, atualmente, as mulheres representarem 52,7% da população do país, muito poucas participam da política nacional, segundo relatório do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

O estudo indica que a representação feminina é numericamente inferior aos homens que ocupam cargos políticos. Dos 84 deputados que compõe o Congresso, cerca de 23 mulheres são legisladoras — as mulheres também ocupam cargos marginais no governo e no sistema judiciário.

Mãe e combatente

María hoje é dona de casa, solteira, tem 51 anos e dois filhos. O mais velho deles nasceu em meio aos combates cruéis e atualmente vive e estuda engenharia na capital salvadorenha.

Poucos meses depois do nascimento dele, María foi denunciada e capturada pelos órgãos repressores do temido Batalhão Belloso, motivo pelo qual foi separada de seu primogênito — que amamentava no momento da captura. “Tiraram o menino dos meus braços e me disseram palavras horríveis, ‘o menino já não é seu e você vai morrer’”, lembrou-se, triste.

Paula Rosales/Opera Mundi

Apesar de, atualmente, as mulheres representarem 52,7% da população do país, muito poucas participam da política nacional

Durante sua captura, ela suportou torturas extenuantes: foi obrigada a permanecer em pé durante três dias para que delatasse os chefes guerrilheiros com quem dividia o acampamento. Sem vacilar, María manteve o silêncio e, como os militares não conseguiram comprovar seus crimes, foi posta em liberdade.

María foi incorporada novamente às operações da guerrilha até que, em janeiro de 1992, o governo e o comando do FMLN assinaram os Acordos de Paz de Chapultepec – conjunto de acordos que pôs fim à guerra no país. Ela pôde voltar a seu povoado devastado, situado nas montanhas de Chalatenango, onde, sem sua família, começou uma nova vida.

A mulher, que sofre constantes enxaquecas, vive atualmente com sua filha Abigail, de 16 anos. Ambas sobrevivem de uma pequena criação de galinhas e da produção de tamales – pratos feitos de uma massa à base de milho, em trouxinhas, parecidos com pamonhas.“Sinto orgulho porque sei que ela foi guerrilheira e lutou para que o país esteja melhor, me sinto bem, gosto que me conte histórias diariamente”, sorri Abigail. 

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Constituinte no Chile

'Base de um Chile mais justo', diz presidente da Constituinte na entrega de texto final

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Ao cumprir um ano de debate, Convenção Constitucional encerra trabalhos com entrega de nova Carta Magna a voto popular

Michele de Mello

Brasil de Fato Brasil de Fato

São Paulo (Brasil)
2022-07-04T21:39:54.000Z

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Aconteceu a última sessão da Constituinte chilena nesta segunda-feira (04/07) com a entrega de uma nova proposta de Constituição para o país. 

"Esta proposta que entregamos hoje tem o propósito de ser a base de um país mais justo com o qual todos e todas sonhamos", declarou a presidente da Convenção Constitucional, María Elisa Quinteros. 

Após um ano de debates, os 155 constituintes divulgaram o novo texto constitucional com 178 páginas, 388 artigos e 57 normas transitórias.

O presidente Gabriel Boric participou do ato final da Constituinte e assinou o decreto que convoca o plebiscito constitucional do dia 4 de setembro, quando os chilenos deverão aprovar ou rechaçar a nova Carta Magna.

"Hoje é um dia que ficará marcado na história da nossa Pátria. O texto que hoje é entregue ao povo marca o tamanho da nossa República. É meu dever como mandatário convocar um plebiscito constitucional, e por isso estou aqui. Será novamente o povo que terá a palavra final sobre o seu destino", disse.

No último mês, os constituintes realizaram sessões abertas em distintas regiões do país para apresentar as versões finais do novo texto constitucional. A partir do dia 4 de agosto inicia-se a campanha televisiva prévia ao plebiscito, que ocorre em 4 de setembro. 

Embora todo o processo tenha contado com ampla participação popular, as últimas pesquisas de opinião apontam que a nova proposta de constituição poderia ser rejeitada. Segundo a pesquisa de junho da empresa Cadem, 45% disse que votaria "não", enquanto 42% dos entrevistados votaria "sim" para a nova Carta Magna. No entanto, 50% disse que acredita que vencerá o "aprovo" no plebiscito de setembro. Cerca de 13% dos entrevistados disse que não sabia opinar.

Reprodução/ @gabrielboric
Presidente da Convenção Constitucional, María Elisa Quinteros, e seu vice, Gaspar Domínguez, ao lado de Gabriel Boric

"Além das legítimas divergências que possam existir sobre o conteúdo do novo texto que será debatido nos próximos meses, há algo que devemos estar orgulhosos: no momento de crise institucional e social mais profunda que atravessou o nosso país em décadas, chilenos e chilenas, optamos por mais democracia", declarou o chefe do Executivo. 

Em 2019, Boric foi um dos representantes da esquerda que assinou um acordo com o então governo de Sebastián Piñera para por fim às manifestações iniciadas em outubro daquele ano e, com isso, dar início ao processo constituinte chileno.

Em outubro de 2020 foi realizado o plebiscito que decidiu pela escrita de uma nova constituição a partir de uma Convenção Constitucional que seria eleita com representação dos povos indígenas e paridade de gênero.

"Que momento histórico e emocionante estamos vivendo. Meu agradecimento à Convenção que cumpriu com seu mandato e a partir de hoje podemos ler o texto final da Nova Constituição. Agora o povo tem a palavra e decidirá o futuro do país", declarou a porta-voz do Executivo e representante do Partido Comunista, Camila Vallejo.

A composição da Constituinte também foi majoritariamente de deputados independentes ou do campo progressista. Todo o conteúdo presente na versão entregue hoje ao voto público teve de ser aprovado por 2/3 do pleno da Convenção para ser incluído na redação final.

Com minoria numérica, a direita iniciou uma campanha midiática de desprestígio do organismo, afirmando que os deputados não estariam aptos a redigir o novo texto constitucional. Diante dos ataques, o presidente Boric convocou os cidadãos a conhecer a fundo a nova proposta, discutir de maneira respeitosa as diferenças e votar pela coesão do país, afirmando não tratar-se de uma avaliação do atual governo, mas uma proposta para as próximas décadas. 

"Não devemos pensar somente nas vantagens que cada um pode ter, mas na concordância, na paz entre chilenos e chilenas e pela dignidade que merecem todos os habitantes da nossa pátria", concluiu o chefe de Estado.

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