Os Estados Unidos passaram a adotar o sistema de vigilância eletrônica da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA), exposto pelo informante Edward Snowden, como o principal método de espionagem para a identificação dos alvos dos ataques letais com drones. A revelação foi feita pelos jornalistas Glenn Greenwald e Jeremy Scahill, no lançamento da plataforma de jornalismo investigativo chamada The Intercept nesta segunda-feira (10/02).
É a primeira vez em que há uma ligação clara entre o abrangente sistema de espionagem digital vazado por Snowden — que inclui, entre outros pontos, a coleta de metadados de chamadas telefônicas, controle do tráfego e do conteúdo de grande parte da internet e o acesso a informações armanezadas pelos gigantes da web — e o método de assassinatos extrajudiciais praticado pelos EUA por meio de bombardeios com drones ou operações militares da elite dos marines norte-americanos, a exemplo da que matou Osama bin Laden em maio de 2011. Sabia-se que a NSA cooperava com outras agências de inteligência dos EUA, mas não de qual jeito.
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Ex-militar: “Nós não vamos atrás de pessoas, mas de seus aparelhos, na esperança de que a pessoa na outra ponta do míssil seja o ‘bad guy'”
Segundo a reportagem, o Departamento de Defesa dos EUA está dando menos importância à coleta de informações por meio dos agentes secretos norte-americanos espalhados pelo mundo. Agora, o banco de informações digitais da NSA — que contém metadados obtidos a partir do sistema de vigilância dos telefones celulares — é vasculhado por uma complexa ferramenta que fornece as coordenadas para o ataque.
Os jornalistas argumentam que o método é controverso: ele se baseia apenas na localização do telefone que o alvo supostamente está usando. Como dispensa a confirmação física de um espião local, o sistema não é confiável e pode causar a morte de civis inocentes que acabam não sendo identificados.
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A fonte da reportagem é, além de documentos do próprio Snowden, um ex-militar e operador de drones da JSOC (Joint Special Operations Command), grupo de elite das forças armadas dos EUA, que também já trabalhou com a NSA. Ele diz que a mudança do método para a identificação dos alvos dos ataques “com certeza” resultou em mais mortes de pessoas inocentes.
Para ele, o problema é que muitos dos alvos dos ataques já entenderam como a NSA trabalha e depende da geolocalização para identificar as coordenadas. Cientes dá tática, muitos usam dezenas de chips nos celulares para confundir o sistema de espionagem. Outros, sem saber que estão sendo vigiados, emprestam o aparelho para parentes ou amigos, resultando em mortes inocentes. Alguns líderes talibãs, por exemplo, frequentemente distribuíam chips telefônicos aleatoriamente para desviar o foco da inteligência norte-americana: “Eles iam a reuniões, pegavam todos os cartões SIM, colocavam numa sacola e misturavam. A cada vez, cada um dos integrantes saía do local com um chip diferente”, relata a fonte.
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Muitas vezes, ataques com drones e operações especiais são autorizadas sem que se saiba quem está por trás do telefone localizado. “É como se estivéssemos mirando em um celular. Nós não vamos atrás de pessoas. Vamos atrás dos seus aparelhos na esperança de que a pessoa na outra ponta do míssil seja o ‘bad guy’”, comenta.
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The Intercept
Glenn Greenwald é o jornalista que noticiou pela primeira vez, por meio do jornal inglês The Guardian, o esquema de vigilância eletrônica praticado pela NSA. Todos os documentos sobre os quais reportou foram vazados pelo ex-analista da agência Edward Snowden.
O jornalista independente Jeremy Scahill ficou conhecido por reportar sobre política externa norte-americana no jornal The Nation e no programa Democracy Now!. Tem dois livros publicados. O primeiro, Blackwater: a ascensão do exército mercenário mais poderoso do mundo, lançado em 2008, obteve grande repercussão após denunciar aspectos do fenômeno de privatização das forças armadas norte-americanas, no qual soldados profissionais, mercenários, são terceirizados pelos EUA para desempenhar diversas funções.
Seu mais recente lançamento, Dirty Wars: the World Is a Battlefield, transformado em um premiado documentário de mesmo nome, continua a análise da política de defesa da administração Obama, centrando foco no uso dos bombardeios em terras estrangeiras por meio de drones, aviões não-tripulados.