Radio Rebelde
Fernando González, um dos cinco agentes cubanos presos nos Estados Unidos por espionsagem, chegou a Cuba nesta sexta-feira (28/02) e foi recebido, ainda no aeroporto, pelo presidente Raúl Castro. Ele e outros agentes do país caribenho tinham a missão de coibir práticas terroristas perpetradas por cubanos radicados em Miami.
[Fernando González cumprimenta o líder cubano, Raúl Castro]
González, que cumpriu 17 anos e nove meses de prisão, é o segundo dos cinco cubanos a completarem sua sentença, depois de René González, libertado em 2013. Os cinco agentes cubanos, detidos pelo FBI em setembro de 1998 na Flórida, são considerados na ilha como heróis.
Apesar de ter voltado a Cuba após os anos de prisão, González afirmou que só estará completamente feliz quando seus companheiros também forem libertados: “A felicidade é grande, mas falta um pedaço e será completa quando também voltarem à pátria Gerardo, Ramón e Antonio”, declarou.
Ele também agradeceu jornalistas e meios de comunicação que fazem reportagen e denunciam “a injusta condenação que receberam”, e também aos funcionários do Ministério de Relações Exteriores, tanto de Cuba quanto dos EUA que os acompanhou.
Rede Vespa
Os “cinco heróis”, como são conhecidos em Cuba, foram presos na Flórida em 1998 e, três anos mais tardes, condenados pela Justiça do país por espionagem e envolvimento no abatimento de dois aviões.
O próprio governo cubano reconheceu publicamente que Gerardo Hernández, René González, Tony Guerrero, Fernando González e Ramón Labañino eram agentes do serviço secreto de Cuba infiltrados. Os cinco faziam parte de uma complexa operação batizada como “Rede Vespa”. Instalados na Flórida e disfarçados de desertores do regime cubano, o esquadrão de 14 integrantes tinha a tarefa de munir Havana com informações sobre as organizações terroristas anticastristas que operavam no país.
Com o colapso da União Soviética, a ilha comunista do Caribe foi obrigada a assistir à drástica redução do seu orçamento, fortemente dependente das parcerias comerciais com os russos. Diante do período especial, Fidel Castro viu no turismo de luxo uma alternativa viável para afrouxar as contas nacionais e reverter a dramática redução do PIB.
Diante desse quadro, as organizações anticastristas de Miami não deixaram por menos. Criadas por cubanos exilados que fugiram do país após o triunfo da Revolução em 1959, todas elas tinham o objetivo explícito de lutar pelo fim do comunismo cubano e pela queda do líder de Castro. Algumas delas, inclusive, não faziam questão de esconder que apoiavam e financiavam ações terroristas.
Uma vez detectada a estratégia de Havana, o alvo dos milionários exilados passou a ser os imponentes resorts do balneário de Varadero, além dos pontos turísticos mais visitados da capital cubana. “A opinião pública precisa saber que é mais seguro fazer turismo na Bósnia-Herzegovina do que em Cuba”, estampavam os folhetos de algumas dessas organizações — que realizavam desde sequestro de aviões e pequenas explosões, até sobrevoos nos quais eram despejados cartazes com propaganda anticomunista pelas avenidas de Havana.
Julgamento
Após anos de operação sigilosa,o serviço de contra-inteligência dos EUA acabou detectando a atuação da Rede Vespa e prendeu dez dos agentes cubanos. Metade deles fez acordos com a Justiça norte-americana e, por meio da delação premiada, pegou a pena mínima e ingressou no programa de proteção à testemunha do Departamento de Estado.
Em um longo e controverso julgamento — a cidade de Miami é majoritariamente anti-castrista—, os cinco cubanos acabaram condenados pelo júri popular em 2001. Alguns anos mais tarde, Leonard Weinglass advogaria pro bono pelos cubanos. Sem sucesso, porém, o “caso dos cinco” somente se acumularia à afamada lista de causas defendidas pelo advogado: a atriz Jane Fonda, os Panteras Negras e, antes de morrer, o criador do site WikiLeaks, Julian Assange, seu último caso.
Em outubro de 2011, René González foi o primeiro cubano a deixar a prisão federal de segurança máxima, após 13 anos encarcerado.
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