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Política e Economia

Acordo entre Mercosul e UE deve ir além do comércio, argumenta senador uruguaio

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Ex-vice-chanceler do governo Mujica, Roberto Conde defende oferta única dos países do Mercosul à União Europeia

Rafael Reis

2014-03-23T09:00:00.000Z

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Um dos maiores defensores da integração sul-americana, o senador do Uruguai Roberto Conde considera que as questões de desenvolvimento regional são fundamentais para o avanço da negociação entre Mercosul e União Europeia.

Conde, que teve seu nome proposto por Rafael Correa, presidente do Equador, para ser o próximo secretário-geral da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) argumenta que a proposta do Mercosul deve contemplar as exigências de todos os países-membros, inclusive a Argentina, que cogita pedir outras condições em separado.

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Agência Efe

"Relação privilegiada" entre Brasil e Uruguai, defendida por Mujica, obteve resultados importantes

Como vice-chanceler, ele foi responsável durante o governo Mujica pela melhora substancial das relações entre os países vizinhos, em especial com a Argentina. Durante sua gestão no Ministério das Relações Exteriores junto ao atual chanceler Luis Almagro, Conde também viu as relações com o Brasil aumentarem exponencialmente. A chamada “relação privilegiada” entre Brasil e Uruguai, defendida por Mujica, obteve importantes resultados, como os sucessivos superávits comerciais favoráveis ao Uruguai. Mujica e a sua teoria de “ir ao estribo do Brasil”, em grande medida, foi aplicada por Roberto Conde.

Leia também: Em Bruxelas, Dilma e dirigentes europeus dizem que acordo Mercosul-UE está próximo

Em muitas das vezes em que fala sobre o Mercosul, Conde menciona o ex-presidente Lula. Apesar de defender o bloco, admite que “falta um pensamento estratégico” e que o sistema de Cúpulas presidenciais já está saturado, enquanto não tivermos um projeto de longo prazo bem definido entre os sócios.

Conversamos em seu gabinete no Palácio Legislativo sobre o Acordo União Europeia-Mercosul, cujas negociações que já levam mais de 14 anos. Leia a íntegra abaixo.

Opera Mundi: Em sua opinião, quais são as chances reais de se chegar a um acordo entre a União Europeia e o Mercosul, sobretudo em um momento em que a Europa ainda não soube sair da crise econômica e o Mercosul vive dias difíceis?
Roberto Conde [na foto à direita]: Eu creio que a possibilidade real ainda não está clara. E não obstante, acho que é necessário seguir defendendo a negociação. O que temos que ter claro é que o acordo a que se chegue deve contribuir para a continuidade do nosso processo de integração e não se transformar em um obstáculo. Por que coloco isso? Porque, como todos nós sabemos, a negociação com a Europa é muito antiga. Vem de muito antes que decidíssemos rejeitar a ALCA. E sempre falamos de um acordo birregional e associação estratégica que incluísse comércio, diálogo político e cooperação. Nunca falamos exclusivamente de comércio.

Em primeiro lugar, acho que é necessário defender o objetivo original do acordo. Mercosul e Europa devem fazer um acordo de caráter estratégico que vá mais além do elementos comerciais. Portanto, apesar da situação econômica, que é mais difícil que há uma década, o componente de cooperação deve ser mantido e, sobretudo, garantir uma cooperação permanente em matérias fundamentais como aquelas que têm a ver com as áreas de conhecimento, a pesquisa científica e técnica, desenvolvimento de novas tecnologias e inovação. E conseguir que nesse campo, a cooperação entre Europa e Mercosul seja benéfica. Acho que é uma questão fundamental manter o programa de cooperação para fortalecimento da participação da sociedade civil e fomentar os intercâmbios de experiências e os trabalhos conjuntos das organizações da sociedade civil. Aqui há muito para defender em matéria de valores, estabilidade e fortalecimento das democracias, transparência, sobretudo transparência no uso massivo dos meios de comunicação, em matéria de respeitos aos direitos sociais em geral, de modo que o acordo entre o Mercosul e a Europa, com a cultura politica e social que tem desenvolvido ambos blocos, tem que necessariamente incluir apoios recíprocos entre organizações da sociedade civil.

OM: O senhor comentou sempre utilizando o término “Acordo de Associação Estratégica”. Isso significa não repetir os modelos de acordos que a UE possui com outros países da região, como Colômbia e Peru?
RC: Sim, esses são simplesmente acordos de livre comércio, clássicos. Eu sei que o componente de comércio é o principal e o que mantém viva as negociações, mas se o acordo se limitasse somente ao comércio, me permito duvidar dos seus benefícios ao longo prazo. Reitero que há que manter vivo o objetivo original de que este é um acordo de Associação, não somente de comércio. Sobretudo, levando em conta que a realidade do mundo atual começa cada vez mais a desenhar gigantescas cadeias de formação de valor, em todas as áreas. Como vamos a trabalhar conjuntamente nessas cadeias? Como vamos fortalecer nossas possibilidades para atuar no mundo? Como dar, por exemplo, cada vez mais segurança e mais estabilidade aos fluxos de investimentos que podemos trocar? Porque, se simplesmente, o que estamos falando é de acesso a mercado, de barreiras tarifarias e não tarifárias, e não há nenhum tipo de componente de associação, isso por si só não vai ser uma contribuição muito destacada para nosso desenvolvimento. Acho que o tema de investimentos estrangeiros diretos tem que ser um ponto importante.

OM: Além das barreiras tarifárias e não tarifárias que impõem os europeus, as assimetrias entre os dois blocos é grande, sobretudo na área agrícola. Os europeus outorgam suntuosos subsídios à sua produção agrícola e às exportações. Somente no ano de 2013, a Política Agrícola Comum outorgou em ajudas diretas e desenvolvimento rural um orçamento de 57,5 bilhões de euros. Como superar essa questão, que é um dos principais entraves na negociação com a UE?
RC: Sim, se disse que pelo lado nosso o tema fundamental é a indústria, dar-lhes acesso ao mercado de bens industriais e, a nós, ter acesso ao mercado agrícola. Eu imagino que um acordo poderá pautar um processo de aberturas recíprocas e equivalentes, se realmente garantirmos esse acesso. Que tipo de gradualidade é necessário? Será o que os negociadores terão que definir. Mas me permita insistir no ponto anterior. Essa gradualidade para nós é útil para seguir incorporando capacidades sistêmicas de gerar produtividade e isso depende de fatores estruturais, não somente recursos, mas também estruturas educativas, capacidades de aprendizagem, potencial de pesquisa, de inovação, etc. Se alguém pensa que pode assinar um acordo com a Europa e que nossas economias permaneçam congeladas em seus atuais estados de produtividade, é como assinar um suicídio.

Assim, aqui há dois componentes. Primeiro, encontrar a gradualidade necessária, para que ambas as partes se outorguem os benefícios recíprocos de acesso ao mercado. E, ao mesmo tempo, que nós possamos também chegar a determinados prazos de modo a ir adequando permanentemente nossas exigências de produtividade, a fim de estar à altura de aproveitar um acordo dessa natureza, senão será um acordo que aproveitaremos muito pouco e os europeus aproveitarem muito mais. Sobretudo por esses temas das assimetrias que você mencionava, eles estão em melhores condições em muitas áreas que, finalmente, o próprio resultado será assimétrico, muito mais benéfico para Europa que para o Mercosul. Então, é importante ver como uma questão de acesso a mercados, mas também é necessário ver como uma questão onde o acordo garanta prazos e condições para um incremento constante da nossa produtividade. E isso tem a ver com os dois fatores fundamentais que mencionei antes: conhecimento e investimento.

WikiCommons

Senador Roberto Conde foi vice-chanceler uruguaio durante parte do governo Mujica

OM: O senhor destacou um tema interessante, que é um processo recente que ocorre nos países da região de buscar um aumento da competividade no setor industrial, em especial, incentivando medidas de inovação tecnológica. Poderemos realmente entrar ao mercado europeu com um futuro acordo, mesmo com o forte protecionismo local, ou se dará a situação em que somente eles terão as portas abertas do nosso mercado?
RC: Se falássemos somente de comércio, com o que a Europa mostrou até agora, não haveria garantias suficientes para nós. Por isso há que manter viva a negociação, um foco no comércio e falar de outros fatores de desenvolvimento, para que contribuam à redução das assimetrias e não deixar que a simples evolução do comércio termine aprofundando as diferenças. Eu sei que é complexo e difícil de falar em associação, mas a Europa tem que nos dizer até onde está disposta a chegar, se está disposta a respeitar ou não o espírito inicial da negociação. Porque se tudo se resume a ampliar mercados para competir um contra o outro, nas condições atuais, sem que se incorporem elementos que garantam nosso processo de desenvolvimento, então esse acordo pode estar determinando consequências muito prejudiciais para a nossa região.

OM: Nos últimos meses se falou bastante no eventual formato de negociação e em diferentes velocidades para os países do Mercosul. Autoridades do Brasil e do Uruguai já se manifestaram a respeito e ainda não se sabe se haverá uma oferta única do bloco ou uma oferta 3+1 (Brasil, Paraguai e Uruguai, com a Argentina por separado). Qual o benéfico para o Mercosul seria avançar nas negociações, mesmo na falta de um país membro?
RC: Temos que defender ao máximo a possibilidade de oferta única. Quando estivermos todos convencidos que esse processo está totalmente esgotado, não deveríamos descartar a possibilidade das distintas velocidades. Mas insisto sempre nos fatores: desenvolvimento e coesão interna do Mercosul. As distintas velocidades têm que ser úteis para dar a cada país a possibilidade de acoplar com a sua produtividade e competividade aos termos do acordo. De que servem as distintas velocidades se as realidades específicas que se geram para cada país não podem ser aproveitadas para fortalecer a sua capacidade competitiva?

Leia: Opinião: Negociações para acordo entre Mercosul e União Europeia: decisões-chave

OM: Para esclarecer, o senhor fala de um acordo marco em que estejam todos os países, mas com diferentes velocidades de liberalização comercial, ou de um acordo em que estejam três ou dois países e que algum país fique de fora da negociação?
RC: Sim, eu me refiro a diferentes velocidades, não há fracionamento da negociação.

OM: Para concluir, o senhor acredita que livre comércio e desenvolvimento podem caminhar juntos?
RC: O comércio é parte do desenvolvimento. Associado ao comércio, devemos acrescentar outros componentes: cooperação, investimentos e pesquisa e inovação em ciência e tecnologia. Se a Europa está disposta a trabalhar junto com a gente nesses campos, por exemplo, participando conjuntamente em cadeias internacionais de valor, é uma coisa. Se tudo se reduze a simples livre comércio e mercado versus mercado, aí é outra. E quando se fala agora que serão apresentadas as ofertas no fim do mês, me parece auspicioso, e reitero, há que defender a negociação. Mas insisto que não há que perder a ideia original da negociação, não há que reduzir a negociação. E é uma tendência muito perigosa que eu estou observando na atualidade, a negociação tende a reduzir-se a comércio puro e a mercado versus mercado.

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Coronavírus

Primeiro carregamento de oxigênio sai nesta sexta da Venezuela e deve chegar a Manaus até domingo

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Serão enviados dois caminhões com cilindros de oxigênio acompanhados por escolta militar até a fronteira entre os dois países

Fania Rodrigues

Caracas (Venezuela)
2021-01-15T23:07:00.000Z

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O chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, informou com exclusividade a Opera Mundi na noite desta sexta (15/01) que o primeiro carregamento de oxigênio para o Amazonas já foi autorizado e será despachado ainda hoje para o Brasil.

A carga vai sair da cidade de Puerto Ordaz, Estado de Bolívar e viajará 1.500 km, por aproximadamente dois dias, até a capital amazonense. Essa primeira leva será transportada por via terrestre em dois caminhões e deverá chegar à cidade até domingo.

As formalidades do acordo de cooperação foram negociadas entre os governadores do Amazonas, Wilson Lima (PSC-AM), e o governador do estado venezuelano de Bolívar, Justo Nogueira.

Segundo Arreaza, a logística desse primeiro envio será fornecida pelo governo venezuelano. Mas, depois o governo amazonense deverá assumir a tarefa enviando mais caminhões do Brasil para buscar oxigênio na Venezuela.

O governo da Venezuela vai ofereceu ainda uma escolta militar para as cargas, que será acompanhada até a fronteira a cidade de Santa Helena de Uairén, na fronteira, e depois por militares brasileiros.

O ministro venezuelano informou ainda que o governo de Nicolás Maduro “vai fornecer oxigênio enquanto durar a situação de emergência do estado Amazonas”, o que impede, segundo ele, de precisar a quantidade fornecida da substância, tampouco o tempo da duração do convênio.

Dhyeizo Lemos/Fotos Públicas
Carregamento de oxigênio da Venezuela sai nesta sexta do país e deve chegar a Manaus até domingo

A produção de oxigênio na cidade de Puerto Ordaz faz parte de um plano de nacional para atender a pandemia do covid-19 na Venezuela. Essa planta industrial estava desativada e foi retomada no ano passado com esse objetivo. “O oxigênio que produzimos nessa fábrica é suficiente para atender essa região da Venezuela e ainda contribuir para aliviar a emergência do Brasil”, disse.

De acordo com Arreaza, a ação de solidariedade da Venezuela com o estado Amazonas está acima das diferenças ideológicas que possam existir entre os dois países. “Oferecemos ajuda ao governador do Amazonas porque os bolivarianos somos solidários, essa é uma ação humanitária que tem que estar acima das diferenças políticas. O que nos une é o objetivo de salvar vidas. Espero que o governo brasileiro entenda que é importante ter boa relação com os seus vizinhos”.

A Venezuela possui uma das menores taxas de contágios e mortes por covid-19 da América Latina, portando a assistência ao Brasil não afeta sua situação interna. O país investiu em ações preventivas e criou centros de diagnósticos rápidos, desafogando hospitais e clínicas.

Além disso, decidiu isolar todos os pacientes que testam positivo para o covid-19, evitando assim a propagação da doença. Atualmente, os hospitais e centros de atendimento de saúde operam com uma ocupação de leitos que varia entre 50 a 60% de sua capacidade.

Além disso, o país já assinou contrato com a Rússia para o fornecimento da vacina Sputnik V e deve começar a vacinação em fevereiro, segundo informações oficiais. Na primeira etapa serão vacinadas 10 milhões de pessoas, um terço da população de 30 milhões de habitantes.

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