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Política e Economia

Escravidão nas plantações: o obscuro negócio do chá na Índia

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No estado de Assam, no noroeste, as condições de trabalho e de vida são precárias já faz mais de um século

Luis A. Gómez

2014-05-11T09:00:00.000Z

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As mulheres cortam as folhas para colocá-las nos cestos. Todos os dias, precisam juntar uma cota de, pelo menos, 24 quilos. Magras e sorridentes, suas mãos são as primeiras a dar vida a esse chá saboreado por milhões de pessoas todos os dias em Londres ou em Nova York. Seu trabalho, como o de seus maridos e filhos, é mal pago. Recebem 12 centavos de dólar por quilo ou 17, se conseguem mais de 25 quilos. Se não cumprirem uma cota diária, não são pagas. E essa história, que acontece todos os dias nas fazendas ou “jardins” de chá, como são chamados na Índia, se repete há pelo menos 150 anos, todos os dias, em cada jardim.

Leia mais sobre o tema:
Seminus e mal alimentados, indianos que colhem chá querem melhores condições de trabalho
As filhas perdidas de Lakhimpur: indústria do chá condena indianas à escravidão sexual

PAJHRA/Divulgação

Indiana trabalha em campo de plantação de chá em Assam, estado no noroeste do país. Situação laboral no lugar é precária

Em Assam, no noroeste do país, é colhida quase a metade do chá que é exportado – preto ou verde, orgânico ou com fertilizantes. As grandes marcas, como Lipton, são clientes habituais dessas paisagens onduladas, nas quais o verde parece infinito. Uma delas, de propriedade da empresa hindu Tata, foi recentemente denunciada por três ONGs locais por abusos trabalhistas.

As pobres condições de vida e de trabalho nos jardins de chá controlados pela Tata Beverages através da Amalgamated Plantations Private Ltd (APPL) — uma empresa financiada parcialmente pelo Banco Mundial – permitem à empresa explorar comunidades inteiras de trabalhadores. Eles vivem dentro de seus territórios com salários menores do que dois dólares diários por pessoa, sem qualquer seguridade social, com poucas oportunidades de estudo e, muitas vezes, escravizados por dívidas com agiotas e comerciantes.

“Não há muita diferença em relação aos demais jardins”, explica Wilson Hansda, da People’s Action for Development (PAD, Ação Popular para o Desenvolvimento). Dentre as 850 fazendas e jardins em Assam, há alguns em que “as condições são piores e, inclusive, há registros de mortes por inanição de tempos em tempos”, relata Hansda.

Nada novo, nem para os patrões e nem para o governo da Índia, como mostra um relatório do Instituto de Direitos Humanos da Columbia Law School apresentado no último dia 16 de abril do ano passado em Nova Délhi. O relatório, intitulado “Quanto mais as coisas mudam...” revela os motivos da ação contra a APPL (e, portanto, Tata) diante do Compliance Advisor Ombudsman, órgão autônomo de fiscalização do Banco Mundial.

National Anthropological Archives, Smithsonina Institute

Imagem registrada em 1870. Pouca coisa mudou desde então na paisagem dos jardins onde são cultivados os ingredientes dos chás

Tudo começou há um século e meio, quando os britânicos obrigaram os indígenas a migrar para regiões produtoras de chá como servos do império e dos agiotas e donos de terras. Então, nasceram fortunas como a da família Tata, surgida do comércio colonial e da exploração de recursos naturais.

As tribos do chá

Tendo conquistado o sul da Ásia, os funcionários britânicos encarregados dos negócios começaram, no século XIX, a produzir as duas ervas mais importantes para a economia do seu império: o chá e o ópio. Para isso, disponibilizaram a seus empresários as terras e mão de obra barata, quase gratuita.

Começaram as expropriações de terras em 1830, com agiotas, comerciantes e policiais assediando as pequenas economias locais e adquirindo territórios indígenas (quase sempre, por meio da força). Naqueles que hoje são os estados de West Bengal, Biar, Jharkhand, Orissa e Chhattisgarh, milhares de famílias adivasis (indígenas), dedicadas à agricultura local e a atividades florestais, perderam sua casa e seu sustento. “Comercialização forçada” de terras, foi como chamaram em Londres.

Não era uma política casual. Vários documentos daquele tempo, como a Tecnologia da Índia, de George Campbell, afirmavam que os povos indígenas dessa região (santal, ho, oraon, munda) eram ideais para o trabalho nos campos de chá. De modo que, logo que ficaram na miséria, muitos se transformaram em coolies, ou carregadores, nos jardins de Assam e na região vizinha de Darjeeling.

Os santal, hoje uma das maiores comunidades indígenas do país, se rebelaram contra essas políticas em 1855. Liderados por Sido e Kanu Murmu, milhares de homens, mulheres e crianças combateram o exército colonial durante dois anos. Cerca de 20 mil santals morreram na revolta. Como elas fracassaram, a coroa britânica mudou suas políticas e ditou leis para proteger os direitos dos indígenas.

Nazdeek/Divulgação

Todos os dias, as mulheres precisam juntar uma cota de, pelo menos, 22 quilos. Recebem 12 centavos de dólar por quilo

Mas isso não mudou sua realidade econômica e social. Nem acabou com as expropriações. Milhares de trabalhadores indígenas sem-terra mal conseguiram continuar colhendo chá enquanto ocupavam barracas insalubres pelas quais pagavam aluguel aos patrões. Assim nasceram as ainda assim chamadas “tribos do chá”, uma alcunha que serviu para os britânicos se esquecerem delas e cuja vigência se vale do Estado hindu para negar seus direitos.

O tempo parou

As duas fotos em sépia que acompanham essa reportagem foram tiradas por volta de 1870. As fotos em colorido são recentes. O que mudou durante esse tempo em Assam? Rejina Marandi, jovem escritora e acadêmica santal nascida em Assam, diz que nas fotos antigas, parece que apenas adultos trabalham nos jardins; “hoje, inclusive meninas e meninos trabalham lá”. Wilson Hansda concorda com ela: “Nada mudou muito, está quase a mesma coisa, exceto que hoje você vê crianças muito pequenas trabalhando nos jardins, o que é verdadeiramente alarmante”.

Três milhões de indígenas trabalham na produção de chá em Assam. Muitos são crianças trabalhando com seus pais; apenas no três jardins da APPL e Tata, há 3 mil. Não existem escolas nem banheiros para as mulheres, que sofrem profundos níveis de discriminação, conforme relata Marandi, já que as famílias privilegiam os homens para receber educação e melhores alimentos.

Por isso, as jovens indígenas que querem algo a mais da vida do que colher chá procuram trabalho fora dali. “Vítimas do tráfico, são enviadas a diferentes partes do país e submetidas a diversas atividades, como o trabalho doméstico, e inclusive a prostituição. São retidas sob ameaças e não recebem salários nem podem contatar seus pais”, conclui Marandi. Segundo a polícia, apenas em Assam, durante os últimos dois anos, já “se perderam” cerca de 14 mil jovens mulheres. Segundo as ONGs, poderia ser o dobro.

Nesses jardins de chá, onde o tempo parou, e as palavras e relações continuam sendo as mesmas há gerações, segundo Wilson Hansda, foi uma surpresa para a Ação Popular para o Desenvolvimento (PAD: People’s Action for Development) saber que os trabalhadores da APPL, em teoria acionistas da empresa, não melhoraram seu nível de vida com uma reestruturação financiada com quase oito milhões de dólares pela International Finance Corporation (Cooperação Financeira Internacional), braço financeiro do Banco Mundial.

“Isso nos deu a base para iniciar nosso envolvimento com os temas de alguns dos jardins da APPL”, disse Hansda. PAD, PAJHRA (Promoção, Avanço, Justiça e Direitos Humanos para os Adivasi) e o Diretório Diocesano para o Serviço Social da Igreja do Norte da Índia apresentaram a denúncia em fevereiro de 2013 para o Banco Mundial. Assim começou outra história.

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Guerra na Ucrânia

Moscou acusa Ucrânia de atacar cidade russa com mísseis

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Pelo menos três pessoas morreram após explosões em Belgorod, diz autoridade local; russos reivindicam tomada de Lysychansk

Redação

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-07-03T14:31:00.000Z

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A Rússia acusou neste domingo (07/03) a Ucrânia de disparar três mísseis contra a cidade de Belgorod, perto da fronteira ucraniana, em ataques nos quais pelo menos três pessoas morreram e outras quatro ficaram feridas.

"As defesas antiaéreas russas derrubaram três mísseis de fragmentação Tochka-U lançados por nacionalistas ucranianos contra Belgorod", disse o porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, Igor Konashenkov, acrescentando que "após a destruição dos mísseis ucranianos, os destroços de um deles caíram sobre uma casa".

Antes, o governador da região, Viacheslav Gladkov, havia informado na rede Telegram que explosões foram registradas na cidade nas primeiras horas deste domingo, danificando 11 prédios residenciais e 39 casas.

"As causas do incidente estão sendo investigadas, as defesas antiaéreas foram ativadas", acrescentou, sem dar mais detalhes.

Gladkov disse que foi rapidamente para as cinco ruas afetadas pelas explosões no norte da cidade, não muito longe do centro.

Um homem e uma criança foram hospitalizados, outros dois feridos foram atendidos no local, segundo autoridades locais.

Desde o início da ofensiva da Rússia na Ucrânia em 24 de fevereiro, o governo russo acusou repetidamente as forças ucranianas de realizar ataques em solo russo, especialmente na região de Belgorod.

Em Belgorod vivem cerca de 400 mil pessoas. A cidade fica cerca de 40 quilômetros ao norte da fronteira com a Ucrânia e é o centro administrativo da região de mesmo nome.

No início de abril, o governador Gladkov acusou a Ucrânia de atacar um depósito de combustível em Belgorod com dois helicópteros.

Belarus também acusa ataques ucranianos

O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, disse que seu exército derrubou mísseis disparados em seu território a partir da Ucrânia e promete responder "instantaneamente" a qualquer ataque inimigo.

"Estamos sendo provocados", disse Lukashenko à agência de notícias estatal Belta. "Devo dizer que cerca de três dias atrás, talvez mais, eles tentaram atacar alvos militares em Belarus a partir da Ucrânia.

Yevgeny Silantyev/TASS/dpa/picture alliance
Segundo autoridade regional, 11 prédios e 39 casas foram danificadas em Belgorod

A Ucrânia disse na semana passada que mísseis disparados de Belarus atingiram uma região de fronteira dentro de seu território.

Russos reivindicam tomada de Lysychansk

O governo da Rússia afirmou que suas forças assumiram neste domingo o controle da última grande cidade controlada pela Ucrânia na província de Lugansk, aproximando Moscou de seu objetivo declarado de tomar toda a região ucraniana de Donbass.

O ministro russo da Defesa, Serguei Shoigu, disse ao presidente russo, Vladimir Putin, que tropas russas junto com membros de uma milícia separatista local "estabeleceram o controle total sobre a cidade de Lysychansk", segundo agências russas de notícias.

Combatentes ucranianos passaram semanas tentando defender Lysychansk e impedir que seja tomada pela Rússia, como ocorreu com a vizinha Sievierodonetsk há uma semana.

Um conselheiro do presidente ucraniano previu na noite de sábado que a cidade pode ser ocupada pelos invasores dentro de dias.

As autoridades ucranianas não forneceram imediatamente uma atualização sobre a situação da cidade.

Há uma semana, o governador de Lugansk disse que as forças russas estavam fortalecendo suas posições em uma batalha severa para capturar o último reduto de resistência na província. "Os ocupantes lançaram todas as suas forças em Lysychansk. Eles atacaram a cidade com táticas incompreensivelmente cruéis'', afirmou Serguei Haidai disse no aplicativo de mensagens Telegram.

Um rio separa Lysychansk de Sievierodonetsk. Oleksiy Arestovych, um conselheiro do presidente ucraniano, disse durante uma entrevista online na noite de sábado que as forças russas conseguiram pela primeira vez atravessar o rio pelo norte, criando uma situação "ameaçadora".

Arestovych disse que os invasores não chegaram ao centro da cidade, mas que o curso dos combates indicava que a batalha por Lysychansk seria decidida até segunda-feira.

As forças russas intensificaram no sábado seus ataques à cidade ucraniana de Lysychansk, alegando ter cercado “completamente” o último reduto ucraniano na região de Lugansk. A Ucrânia negou o cerco.

Se Lysychansk cair, toda a região de Lugansk – que junto com Donetsk compõe a região leste do Donbass – poderá ficar sob controle russo, marcando outro avanço estratégico para o presidente russo, Vladimir Putin.

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