Após o golpe de Estado dado pelo Exército na Tailândia nesta quinta-feira (22/05), os Estados Unidos afirmam que vão rever a manutenção dos laços militares e outros programas de assistência mantidos com o aliado asiático. Já em Bangcoc, depois de terem suspendido a Constituição, proibido assembleias públicas, ampliado a censura e decretado toque de recolher no país, os golpistas agora ameaçam usuários de redes sociais para abafar críticas.
Agência Efe
Após meses de crise política na Tailãndia, militares consumaram golpe de Estado, suspenderam a Constituição e restringiram direitos
Para o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, não há justificativas para a intromissão dos militares no sistema político tailandês. Embora ainda não tenha anunciado nenhuma medida punitiva, o chanceler norte-americano disse que o golpe certamente terá “implicações negativas” nas relações entre os dois países.
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A Tailândia é um dos mais antigos aliados dos EUA na Ásia. Após o golpe militar de 2006 — o último dos 12 bem-sucedidos que já foram aplicados no país desde 1932 —, os EUA congelaram por 18 meses a cooperação militar.
O chanceler britânico, William Hague, também repudiuo o golpe na Tailândia. “O Reino Unido clama pela restauração do governo civil que foi democraticamente eleito, serve aos interesses de seu povo e cumpre as obrigações com os direitos humanos”, declarou.
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Jornalistas tailandeses se juntam em volta de TV para ver anúncio do chefe do Exército
Redes sociais
Após as notícias de que militares estavam interrompendo os sinais de canais de televisão via satélite e invadindo redações de portais jornalísticos, o Exército já sinalizou que pode bloquear o acesso a redes sociais na Tailândia. Os dirigentes militares pediram “cooperação” dos operadores da web para que não disseminem “provocações”, “informações que incitem agitações” e “mensagens anti-junta”.
“Se nós acharmos que que há violações, vamos suspender o serviço imediatamente e processar os responsáveis”, estabelece um comunicado lido em rede nacional — o 12º pronunciamento do dia.
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O toque de recolher anunciado no início do dia entrou em vigor na Tailândia às 22h locais (12h, horário de Brasília). Embora o acesso à internet continue funcionando, canais de televisão via satélite começaram a perder seus sinais de transmissão.
Carros e pessoas também circulavam pelas ruas de Bangcoc após o toque de recolher entrar em vigor, mas em um volume muito inferior ao habitual. O tráfego na Avenida Sukhumvit, uma das principais artérias da capital, fluía sem nenhum ponto de congestionamento.
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Além de proibir assembleias públicas e decretar toque de recolher, Exército ameaça usuários de redes sociais
Já o metrô elevado deixou de operar uma hora antes do toque de recolher, e os principais shoppings fecharam suas portas duas horas antes para que seus empregados pudessem retornar para suas casas sem problemas.
As pessoas que devem desembarcar na capital da Tailândia nesta noite também terão problemas para conseguir pegar um táxi, pois antes do toque de recolher ser iniciado, uma longa fila de espera já era vista no principal aeroporto da capital (Suvarnabhumi).
Crise política
A Tailândia está imersa em uma profunda crise política desde que, em 2006, um golpe militar depôs o então chefe de Governo, Thaksin Shinawatra, um antigo magnata das telecomunicações que se tornou político. Thaksin foi acusado de corrupção, abuso de poder e falta de respeito ao rei Bhumibol Adulyadej. Por outro lado, seus partidários, chamados de “camisas vermelhas”, em sua maioria habitantes das zonas mais pobres do país, apontam que avanços na saúde e educação só começaram a acontecer em seu governo.
Vídeo flagra momento em que forças de segurança prendem Weng Tojirakarn, um dos líderes dos “camisas vermelhas”:
No começo de maio, a primeira-ministra Yingluck Shinawatra, irmã de Thaksim, eleita em 2011 após a saída dele do cargo, foi destituída pelo Tribunal Constitucional do país. Ela foi substituída, interinamente, pelo ministro do Comércio, Niwattumrong Boonsongpaisan. Desde então, a crise se agravou, com confrontos entre simpatizantes e opositores de Thaksin. Os manifestantes antigoverno exigem uma reforma do sistema político e propõem a criação de um conselho não eleito para articular as mudanças necessárias antes da realização de novas eleições.
Hoje, o general Chan-Ocha deu o golpe depois do fracasso da reunião entre as diversas forças políticas para que se colocasse um fim negociado ao conflito. Os soldados levaram do encontro o líder dos protestos anti-governamentais, Suthep Thaugsuban, para um local desconhecido, segundo informaram testemunhas à Reuters. Os militares tailandeses, que são vistos como próximos aos manifestantes anti-governo, deram 18 golpes de Estado, 11 deles com sucesso, desde o fim da monarquia absolutista em 1932.
(*) Com informações da Agência Efe