“Pocho, te dou até que… o Brasil diga o que sente”. Desde que apareceu sem camisa na Copa do Mundo, o jogador de futebol argentino Pocho Lavezzi virou objeto de desejo de milhares – ou milhões? – de mulheres nas redes sociais. A frase acima, que faz referência à canção “hit” entre os “hinchas” argentinos, está em uma comunidade do Facebook dedicada ao astro da seleção argentina, “Movimento para que o Pocho Lavezzi jogue sem camiseta”. A página já conta com mais de 350 mil membros.
Reprodução/Facebook
“Pocho, te dou até que…o Cristo Redentor junte as mãos”, diz uma das fotomontagens feitas com o jogador argentino na web
Em cada uma das fotos da comunidade, há uma chuva de comentários femininos. “Amasse-me inteira”, brada uma seguidora de Pocho em um retrato do futebolista com as mãos na massa – literalmente. “Não façam isso, meninas! Assim minha cesárea vai abrir!”, pede outra, em uma foto do jogador usando somente cueca.
O furor em torno de Lavezzi provocou comentários incomodados de usuários homens do Facebook, que apontam uma dupla moral das tietes. Como podem exigir a igualdade de gênero, enquanto escrevem obscenidades sobre o corpo do jogador? Não estariam coisificando Pocho, assim como acontece com a mulher na indústria cultural? Por essa polêmica a Copa do Mundo 2014 não esperava…
Em artigo para a revista Anfíbia, da Argentina, as pesquisadoras feministas Carolina Spataro e Carolina Justo von Lurzer refletem sobre esse recente debate, e a inversão de papéis. “O que acontece quando nós, mulheres, dizemos o que nos parece atraente, quando tornamos públicos nossos prazeres estéticos e eróticos? (…) onde está a coerência?”, provocam.
NULL
NULL
Em seguida elencam reclamações de homens que surgiram nas redes, principalmente na já famosa comunidade de Pocho no Facebook. “Por que quando vemos peitos e bundas na TV nos acusam de transformar o corpo feminino em objeto de consumo, mas olhar o dorso do Lavezzi é legal?”, diz um dos comentários coletados.
Estariam os homens vivendo na pele, em sua própria autoestima, a violência da coisificação de gênero – masculino?
Reprodução/Facebook
Para elas, a situação expõe justamente como é complexo o cruzamento entre a cultura de massas e as questões vinculadas a gêneros e sexualidades.
[Mene que está circulando pelas redes sociais com Pocho Lavezzi]
Seria o caso de, em vez de lutar contra peitos e bundas femininas nas páginas de revista, exigir uma igual distribuição das partes íntimas – de homens e mulheres – no espectro?
“O debate é árduo e levanta discussões acaloradas”, admitem. Para sugerirem no final que o técnico da seleção argentina ponha Pocho em campo mais uma vez. Para um tira-teima.
Hulk e Puma
Em artigo publicado dia 23 de junho no site Blogueiras Feministas, a professora e advogada Camilla de Magalhães Gomes também fala da polêmica em torno do surgimento de dezenas de perfis no Twitter, tumblrs e páginas de Facebook dedicadas a comentar a beleza dos jogadores da Copa – em especial, do brasileiro Hulk. E de seu bumbum avantajado.
Ela também fala dos já famosos uniformes da Puma, que patrocina os times de Uruguai, Suíça, Gana, Itália, Camarões, Chile, Costa do Marfim e Argélia. As camisas, que aderem ao corpo dos atletas por meio de uma tecnologia chamada “slim fit”, deixam pouco espaço para a imaginação.
“Mas que diabos essas feministas que tanto brigam contra a objetificação dos corpos das mulheres acham que estão fazendo? Que incoerência! Quanta contradição e hipocrisia!”, também provoca Camila.
Não é bem por aí, ela mesma ressalta. Não se trata de que as mulheres queiram “virar o jogo”, pois a intenção dos comentários não é a de colocar os homens em uma “posição invisibilizada e objetificada”, como acontece com as mulheres, diz.
Efe (28/06/2014)
O corpo do jogador da seleção brasileira, Hulk, é tema constante de comentários femininos nesta Copa do Mundo
“Nesse contexto de uma sociedade machista, sabemos que isso não acontecerá e que mesmo o peso desse ‘desejo’ feminino publicizado é outro: é mais fácil que qualquer mulher que o faça seja criticada por ser ‘fácil’, ‘safada’, ‘vagabunda’ (…) do que ela venha a transformar o homem no objeto d(n)a história. É assim que o machismo joga um dos seus jogos mais famosos: a culpabilização da mulher”, afirma Camila.
No final das contas, em meio a tanta discussão, o que as 350 mil fãs do argentino querem saber de verdade é: Pocho Lavezzi vai ou não tirar a camisa? Todas estarão ansiosas para o jogo de amanhã contra a Suíça.