O prefeito de Moscou, Iúri Lujkov, integrante do Rússia Unida, o partido do presidente Dmitri Medvedev e do primeiro-ministro Vladimir Putin, anunciou a intenção de colocar pôsteres de Stalin em alguns pontos da cidade como parte da celebração do Dia da Vitória (9 de maio), data em que a União Soviética e os Aliados venceram as tropas da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. É a primeira vez desde o fim da URSS que a imagem de Stálin será vinculada à vitória na Segunda Guerra nas celebrações do dia 9.
A polêmica já está nas ruas, dividindo a população. “É algo inaceitável, uma falta de respeito às milhões de pessoas que foram assassinadas pelo regime stalinista”, queixou-se a psicóloga Avrora Apushkinskaya. Já para o jovem Aleksandr Luchenko”, assumidamente stalinista”, “o líder soviético conseguiu a industriaízação do país e enfrentou a Segunda Guerra Mundial sem medo. A Rússia precisa de alguém como ele agora”.
Um dos pôteres de Stalin que podem ser distribuídos
O debate reabre a antiga discussão sobre o papel que Stalin deve ocupar na história russa: um “assassino brutal” ou o “herói que liderou a vitória sobre os nazistas”? Para o prefeito Lujkov, Stalin deve ser reconhecido como o “grande comandante da Segunda Guerra Mundial”.
A divisão da sociedade é um reflexo do sentimento sobre a figura de Stalin. Pesquisas do Instituto Levada (referência em pesquisas de opinião na Rússia) indicam que o país está partido ao meio: aproximadamente 50% da população têm uma visão favorável do líder soviético, contrastando com a época da Perestroika (8%), quando os expurgos da época stalinista começaram a ser debatidos na opinião pública.
“A mídia tem um papel importante na reconstrução da personalidade de Stalin, principalmente no segundo mandato de Putin”, analisa o sociólogo Boris Dubin. E continua: “Fora de Moscou, o percentual de pessoas que têm uma visão de positiva de Stalin pode chegar a 70%. Os pôsteres na capital são somente um termômetro da sociedade moscovita”.
A prefeitura da capital russa informou em comunicado à imprensa que serão colocados apenas alguns pôsteres nos stands de informação dos veteranos de guerra. “Os veteranos de Moscou condenam a repressão, mas acham importante valorizar os resultados conquistados sob o comando de Stalin”, explica Vladímir Golguikh, presidente da Organização dos Veteranos de Moscou.
Para comemorar o 65º aniversário da derrota alemã, tropas norte-americanas e britânicas desfilarão na Praça Vermelha.
As embaixadas dos Estados Unidos e do Reino Unido preferiram não comentar a polêmica.
Ceticismo
Representantes dos direitos humanos se opõem à ideia e anunciaram que colocarão cartazes alternativos. “Com a imagem de Stalin pelas ruas, eles só conseguirão aumentar a violência na cidade”, alega o historiador Arseny Roguinsky, da entidade de direitos humanos Memorial.
Mas, entre a população moscovita, há quem discorde: “Stalin não foi tão ruim como dizem. Ele foi muito importante para o crescimento do país. Se hoje somos uma potência, temos que dar graças a Stalin”, opina o gerente administrativo Denis Vavilov.
Sandro Fernandes
A estação de metrô de Kurskaya, onde frases de Stalin na colunata passaram por obras de restauração
O presidente, Dmitri Medvedev, e o primeiro-ministro, Vladímir Putin, também não comentaram o assunto. Já o líder de bancada do partido Rússia Unida (governista), Boris Gryzlov, disse que “quem ganhou a guerra não foi Stalin, mas sim o povo. Além disso, ele foi o culpado pela morte de milhões de pessoas”. No Partido Comunista, o sentimento é de ceticismo: “Seria uma atitude corajosa, mas não acredito que Lujkov vá fazer isso. Ele vai acabar cedendo às pressões políticas.”, explicou Guennádi Ziuganov, presidente do partido.
No ano passado, a restauração das frases de Stalin pintadas na estação de metrô Kurskaya também gerou um grande debate público. Apesar de protestos, os dizeres foram mantidos.
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