A crescente projeção do Brasil no exterior, refletida principalmente na maior participação do país nas grandes questões internacionais, da articulação com os países em desenvolvimento na Rodada Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio) às negociações com o Irã na questão nuclear, foi acompanhada por um aumento da presença física da diplomacia brasileira pelo mundo.
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O número de representações no exterior, entre embaixadas, repartições consulares, missões junto a organismos internacionais e escritórios de representação, aumentou mais de 40% durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, passando de cerca de 150 em 2002 para 226 atualmente. Esse movimento foi acompanhado, a partir de 2005, por uma alta na mesma proporção no número de diplomatas brasileiros, que passaram de 1 mil para 1,4 mil.
Antonio Cruz/ABr (08/04/2010)
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Para o professor de Relações Internacionais da UnB Antônio Carlos Lessa, ainda é pouco. “A agenda internacional do Brasil é bastante complexa, independente da política de cada governo. Esse crescimento [do número de diplomatas para 1,4 mil] é interessante, mas ainda acho um número pequeno, poderia continuar avançando”, avalia.
Segundo Lessa, especialista em história das relações internacionais, o Itamaraty tem o virtual monopólio das relações externas do Brasil – mesmo que outros ministérios ou órgãos públicos tenham departamentos internacionais, tudo passa em alguma instância pelo MRE (Ministério das Relações Exteriores). “O Itamaraty era muito sobrecarregado, o aumento ajuda a atender melhor todas as demandas”, disse.
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Novo ator global
O professor vê também esse movimento como um passo importante para o sucesso das pretensões do país. O trabalho para que o Brasil consolide uma posição ativa e decisiva nas grandes negociações globais, como as comerciais e climáticas, e conquiste um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) é legítimo, avalia, e a maior presença física no exterior é um dos pilares para isso. A abertura de embaixadas em países menores, especialmente da América Latina e da África, tem esse fundo. “É uma política mais assertiva, buscando uma reconfiguração da imagem do país como militante, com uma visão de mundo universalista e preocupado com os temas das agendas regionais”, disse.
Um diplomata brasileiro próximo ao ministro Celso Amorim acredita que a sociedade brasileira vê hoje o país como um ator global, com interesses no mundo inteiro. “Essa imagem é produto da nossa sociedade e também é forte no governo Lula. Acho que o presidente teve mandato das urnas para advogar essa política externa mais global, com uma nova visão estratégica”, disse.
Ele explicou que, além de melhorar o atendimento direto aos brasileiros que vivem, passeiam ou fazem negócios no exterior, o maior número de embaixadas e consulados é importante para recolher informações sobre a cena política local, oportunidades de negócios para o Brasil e a perspectiva de mundo daquele governo ou país. “No mundo da diplomacia, informação é poder. Com pessoal permanente em mais países, temos informações em primeira mão, com melhor qualidade, com a nossa visão”, afirmou o diplomata. Isso é ainda mais importante, avalia, em países menores, onde as fontes de informação são escassas.
Custo e foco
Duas críticas comuns a essa nova orientação são que os custos são muito altos para poucos resultados e que a atual política é muito partidarizada, de esquerda, e que por isso seria excessivamente voltada para países menores, supostamente insignificantes, deixando em segundo plano as nações e os mercados maiores, que seriam mais importantes para o Brasil.
Para Lessa, essas críticas são levianas e injustas. “Não acho que o movimento para o Hemisfério Sul foi em detrimento do nosso relacionamento com os países desenvolvidos e com os nossos parceiros tradicionais, pelo contrário”, disse, citando a boa interlocução de Lula com o ex-presidente americano George W. Bush e com o francês, Nicolas Sarkozy. Além disso, afirma, o Brasil tem um relacionamento cada vez mais privilegiado com a União Européia.
O professor da UnB também relativiza a questão dos custos. “Quanto custa uma embaixada? A conta não é essa. A expansão da malha diplomática é um ponto fundamental para concretizar a pretensão do Brasil de maior protagonismo na cena internacional. Além disso, os tempos da diplomacia não são os mesmos tempos de um governo, essa tem que ser uma política de longo prazo, não dá para querer resultados imediatistas”, disse.
O presidente da Fiesc (Federação das Indústrias de Santa Catarina), Alcantaro Corrêa, tem opinião semelhante. “Isso não é custo, é um investimento fundamental que o país faz para abrir portas para a indústria brasileira”, disse.
Alguns números mostram que a presença brasileira no exterior de fato cresceu mais em regiões onde ela era historicamente menor. O continente que mais recebeu novos postos nos últimos sete anos foi a África, com 17, seguida pela América Latina e Caribe, com 15. Foi somente nos últimos dois anos, inclusive, que o Brasil passou a ter embaixadas em todos os países latino-americanos.
Apesar disso, não houve redução nos países desenvolvidos. Só nos Estados Unidos, por exemplo, o Brasil tem hoje dez repartições consulares (nas cidades de Washington, Nova York, Atlanta, Miami, Houston, Boston, Hartford, Los Angeles, São Francisco e Chicago), além da embaixada na capital americana, do escritório financeiro em Nova York e das missões junto à ONU e à OEA (Organização dos Estados Americanos). Já na Europa foram abertas 14 novas representações durante o governo Lula.
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