Atualizada às 17h10
O governo da Ucrânia suspendeu nesta quinta-feira (07/08) a trégua com os separatistas pró-Rússia no local onde o avião da Malaysia Airlines foi abatido, em 17 de julho. O cessar-fogo havia sido declarado pelo presidente Petro Poroshenko para facilitar as atividades de uma missão internacional que investigava as causas do acidente que deixou 298 vítimas fatais. Devido a riscos de segurança, a equipe de especialistas decidiu interromper o trabalho na área, levando as autoridades de Kiev a voltar atrás na trégua.
No leste da Ucrânia, o dia começou com fortes explosões em Makeevka, cidade-industrial a 15 quilômetros de Donetsk. “Eu acordei às 6h da manhã com o tremor das janelas do apartamento. E foi a manhã inteira assim, até as 11h. Ainda não tínhamos ouvido os bombardeios tão perto de casa”, contou a Opera Mundi a aposentada Yulia Hordienko, 83.
Opera Mundi na Ucrânia: 'As bombas vêm do alto e elas podem cair em você', diz moradora de Donetsk
Em Donetsk, onde o Exército ucraniano ameaça implementar uma ofensiva militar para recuperar o controle da cidade, conquistada pelos separatistas em abril, o dia também foi de confrontos entre as forças do governo e os insurgentes. Às 10h, os conflitos atingiram pela primeira vez o centro da cidade. O hospital Vishenevisky, um dos maiores de Donetsk, foi atingido por bombas e um paciente morreu. Durante pelo menos 25 minutos, o ruído do combate entre as duas forças era ouvido com clareza em toda a cidade.
Agência Efe
Funcionários analisam danos de bombardeio a hospital em Donetsk
“Achei que estivéssemos seguros aqui no centro (de Donetsk). O combate era na zona do aeroporto e em algumas regiões específicas. Hoje, a guerra chegou aqui, a três ruas de onde estamos”, disse Irina Volenko, enquanto tentava ligar para o marido. “Eu não queria ir embora, mas agora começo a acreditar que esta é uma guerra de verdade. É irmão matando irmão. Somos a mesma nação e estamos lutando entre nós mesmos.” Durante todo o dia, explosões isoladas foram escutadas.
À tarde, o primeiro-ministro da auto-proclamada República Popular de Donetsk (DNR, na sigla em russo), Aleksandr Borodai, convocou uma coletiva de imprensa. Pouco antes do início da coletiva, veículos russos anunciaram a renúncia de Borodai, confirmada aos jornalistas na sede do governo regional separatista.
Sandro Fernandes/Opera Mundi
Borodai (à esquerda, de azul) e seu sucessor, Aleksandr Zaharchenko
“Eu vim pra cá (Donetsk) como um gerenciador de crise. Muita coisa foi feita nos últimos meses. Agora a DNR é um estado. Deixo o cargo ao meu amigo Aleksandr Zaharchenko”, declarou Borodai na coletiva. “Eu sou moscovita. Donetsk deve ser liderada por um cidadão genuíno da região”.
Borodai foi pragmático quando perguntado sobre a possibilidade de se chegar a um acordo com o governo de Kiev. “Qualquer negociação somente acontecerá quando os ocupantes [forças do Exército ucraniano] deixarem os territórios das Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk”.
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Borodai disse ainda que ele não deixaria a “república” e que assumiria a posição de “Conselheiro-Geral do Primeiro-Ministro”. Antes de se unir ao grupo separatista do leste da Ucrânia, Borodai trabalhava como consultor em um banco de investimentos de Moscou.
O novo primeiro-ministro, por sua vez, não quis arriscar uma data para o fim do conflito, mas se mostrou otimista. “A situação é sem dúvida difícil, mas não é crítica”, disse Zaharchenko. Ele preferiu não arriscar uma data para o fim do conflito. Apenas disse: “Deus está vendo tudo”.
Nesta semana, a Rússia aumentou o número de militares na fronteira com a Ucrânia, elevando o efetivo a 20 mil homens. Hoje, o secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Anders Fogh Rasmussen, fez um apelo para que Moscou reduzisse as tropas na região. Por outro lado, Rasmussen disse que está “ansioso com o fortalecimento da cooperação Ucrânia-Otan”.