O papa Francisco deu sinal verde nesta segunda-feira (18/08) para o uso da força militar com o objetivo de conter as ameaças que os extremistas do EI (Estado Islâmico) fazem às minorias religiosas no Iraque. Em conversa com jornalistas a bordo do avião que o levou de volta a Roma, o líder da Igreja Católica não chegou especificamente a endossar os bombardeios aéreos norte-americanos e ressaltou ainda que a decisão de como intervir é dever da comunidade internacional, institucionalizada na figura da ONU (Organização das Nações Unidas) — e não de um ou de outro país em particular.
“Nesses casos, em que há uma agressão injusta, só posso dizer o seguinte: é lícito deter o agressor”, disse o papa, segundo a agência AP. “E ressalto o verbo 'deter'. Eu não estou dizendo 'bombardeiem' ou 'façam a guerra', apenas 'detenham'. E os meios que podem ser usados para detê-los devem ser avaliados”, completou o clérigo argentino.
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Agência Efe
A bordo de um Boeing 777 da Korean Airlines, papa Francisco fala com jornalistas durante o regresso a Roma: “é lícito deter o agressor”
O papa Francisco disse ainda que está considerando, junto aos seus conselheiros, fazer uma viagem até o norte do Iraque, como demostração de solidariedade aos cristãos que estão sendo perseguidos no local. A minoria cristã yazidi é uma das que mais sofre nas mãos dos jihadistas do EI. Entrincheirados no norte do Iraque e nordeste da Síria, os yazidi são forçados a se converter ao islã ou obrigados a deixar suas casas.
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Francisco, que acaba de voltar de uma visita considerada emblemática na Coreia do Sul, ressaltou que a “desculpa” de deter uma agressão injusta não pode ser usada pelas potências mundiais para justificar uma “conquista de guerra” em que toda uma população seja subjugda — como, aliás, ele disse ter sido feito em diversas ocasiões ao longo da história.
“Uma nação sozinha não pode julgar como deter isso”, disse o papa, aparentemente fazendo referência aos Estados Unidos, segundo reporta a AP. “Depois da Segunda Guerra Mundial, surgiu a ideia das Nações Unidas: é ali que você deve discutir 'Isso é uma agressão injusta? Parece que sim. Como faremos para detê-la?' Apenas isso. Nada mais”, completou Francisco.
Mudança no discurso
Autoridades do Vaticano já vinham há algumas semanas dando sinais de que a Santa Sé faria um esforço para enquadrar o caso do Iraque no rol de “guerras justas”, o que legitimaria uma intervenção militar.
Embora a Igreja Católica tenha desaprovado com veemência a invasão norte-americana do Iraque de 2003, a postura do Vaticano no caso iraquiano — em que cristãos são vítimas diretas da violência — se distancia da oposição enfática que vinha sendo feita contra qualquer ação militar nos últimos anos, como aconteceu no caso da Síria, no ano passado. O embaixador do Vaticano na ONU em Genebra, o arcebispo Silvano Tomasi, por exemplo, chegou a dizer que “talvez, ação militar seja necessária neste momento”.
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Agência Efe
Sírio com cartaz com a palavra “Cristo” e a letra árabe 'n', que significa 'Nasara' ('cristãos'); EI usa o símbolo para marcar casas de cristãos
O presidente norte-americano, Barack Obama, autorizou o lançamento de bombardeios aéreos no Iraque há dez dias. Além de configurar a primeira intevenção militar dos EUA desde que as tropas deixaram o país, há três anos, o aval da Casa Branca pode ser interpretado como uma ruptura no discurso pouco intervencionista que Obama vinha delineando em seus recentes pronunciamentos sobre política externa.
A situação extrema deflagrada no país também acirrou uma crise política na jovem democracia do Iraque, terminando com a troca do primeiro-ministro na última semana.