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Política e Economia

Jovens judeus vivem ruptura com sionismo

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Eles não apoiam o Estado de Israel. Mesmo vindo de famílias judaicas tradicionais, seus corações e mentes são solidários à causa palestina. Parentes e amigos reagem com rancor, mas este grupo de jovens rechaça as crenças sionistas

Patricia Dichtchekenian

2014-08-20T09:00:00.000Z

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* Atualizada dia 22/08, às 8h57

Yuri Haasz, Elena Judensnaider, Shajar Goldwaser, Bruno Huberman e Bianca Neumann Marcossi gostam dos quadrinhos pró-palestinos de Joe Sacco e têm simpatia pelo polêmico “A Invenção do Povo Judeu”, de Shlomo Sand. Aplaudem filmes como “Lemon Tree” e documentários como “Defamation” ou “The Gate Keepers”, narrativas críticas ao Estado de Israel. 

Sandra Caselato/Divulgação (8.ago.2014)

Grupo de jovens que rompeu com o sionismo protesta em frente ao Consulado de Israel, em São Paulo

Para além de um repertório cultural pouco comum entre os judeus, os cinco chamaram atenção quando se reuniram, no dia 8 de julho, junto com outros colegas, para repudiar a ação militar de Israel na Faixa de Gaza. Diante do consulado desse país em São Paulo, ergueram cartazes de protesto que horrorizaram parte da comunidade judaica.

Estes jovens, em roda de conversa com Opera Mundi, relataram sua trajetória de contestação ao sionismo e a reação que sua atitude provoca entre familiares. Discutiram também o que é ser judeu no século 21, problematizando a proposta de dois Estados para dois povos e repensando a própria existência de um lar nacional judaico encarnado por Israel.

“Queremos deixar claro, em nossa condição judaica, que não compactuamos com a opressão ao povo palestino e o massacre de civis em Gaza”, afirma Yuri Haasz. “Israel não atua em autodefesa, mas com a intenção de ocupação territorial, para inviabilizar a criação de dois Estados.” 

“Eu queria entender a raiva dos palestinos”

Yuri é o mais velho integrante deste recém criado grupo de jovens que romperam com o sionismo.  Nasceu na cidade israelense de Haifa, em 1971. Seus pais, filhos de judeus imigrantes que escolheram viver no Brasil, tinham retornado a Israel em 1967, a bordo de um navio, porque acreditavam ter o dever de defender o país na guerra então travada contra nações árabes. Quando chegaram, o conflito já tinha acabado, após seis dias. Mas permaneceram até 1985, quando retornaram ao Brasil.

Quando estava em idade de serviço militar, Yuri repetiu o movimento dos pais. Voltou a Israel por uma temporada e decidiu se alistar na Força Aérea. Era a época da primeira Intifada, irrompida em 1987 e que se estenderia até 1993. Tinha muitos pesadelos e, aos poucos, começou a se sentir atormentado pela escolha que fizera, e decidiu retornar ao Brasil.  

A tensão árabe-israelense, porém, se já não o animava a pegar em armas, continuava a ser de seu interesse como estudo, para entender sua lógica. “Li muito dos novos historiadores israelenses, autores da sociologia crítica e acadêmicos pós-sionistas”, relata. “Eu queria entender a raiva dos palestinos. Fui encontrar essas explicações em escritores como Avi Shlaim, Ilan Pappe, Benny Morris e Tom Segev, que descreviam a criação do Estado de Israel de forma antagônica à narrativa nacionalista convencional, mostrando a expulsão dos árabes de suas terras e o processo de limpeza étnica inerente à construção do Estado judaico.”

Leia também: Judaísmo não é sionismo, por Breno Altman

Yuri fez mestrado em Relações Internacionais, decidido a estudar resoluções de conflito. Foi parar em Tóquio, já casado com Sandra Caselato, uma brasileira goy (uma não-judia, em hebraico). A bolsa incluía uma pesquisa de campo para passar seis meses em Jerusalém e nos territórios palestinos ocupados na Cisjordânia.

“Foquei minha pesquisa  nos principais ativistas israelenses em ONGs de direitos humanos que lutam por justiça social e histórica para os palestinos, e são altamente críticas das políticas israelenses e como lidavam com sua educação sionista padrão”, explica. “Alguns vinham de famílias religiosas ortodoxas, outros de colônias nos territórios palestinos, e outros de famílias da esquerda sionista, e quase todos tinham experiência militar. Viram absurdos que ocorriam nos territórios palestinos, praticados pelas forças de segurança ou colonos israelenses, e se sentiam em um conflito profundo entre tudo o que sua educação os levou a acreditar, e a realidade em que se encontravam. Alguns entrevistados confessaram tentativas de suicídio em meio à profunda confusão e depressão. Uma situação dramática, na qual se perde a identidade que você sempre acreditou que deveria ter.”

“O problema de fundo é o sistema erguido pelo sionismo”

“Apesar de não ser religioso, sou muito judeu”, brinca Shajar Goldwaser, de 21 anos. Assim como Yuri, ele nasceu em Israel. Mais precisamente, em Jerusalém. Aos quatro meses, partiu para Buenos Aires e em 2001 chegou a São Paulo, sempre frequentando escolas judaicas tradicionais. “Volto para Israel ao menos uma vez por ano. Sempre falei hebraico em casa, é minha língua materna”, conta.  

O estudante de Relações Internacionais relata que um momento decisivo para sua guinada crítica foi quando participou da Marcha da Vida, em 2011. Trata-se de uma viagem de duas semanas que engloba colégios judaicos de todas as partes do mundo com o intuito de conhecer antigos campos de concentração na Polônia e destinos sagrados em Israel.

“Na volta da viagem, a professora pediu para escrevermos uma redação e ‘A hipocrisia judaica’ foi o título que dei a meu trabalho”, relata Goldwaser. “A viagem me fez questionar se o sentimento dos palestinos não seria, atualmente, o mesmo dos judeus naquela época.”

A partir de suas reflexões acerca dessa experiência, Shajar começou a repensar o papel de Israel. Militante do Dror, movimento juvenil sionista alinhado com setores mais progressistas, seus questionamentos passaram a ir além de questionar eventualmente politicas do governo israelense. “O problema de fundo é o sistema erguido pelo sionismo, cujos resultados não podem ser diferentes que a segregação e o colonialismo”, ressalta.

Saindo do armário

“Falar que deixou de ser sionista, na maioria dos ambientes judaicos, é como sair do armário: você já sabe, sempre sentiu, mas quando fala para a família, é pura tensão”, brinca a socióloga Elena Judensaider, de 22 anos.

Embora tenha frequentado o clube Hebraica na infância, Elena se desligou da instituição após a separação dos pais e se afastou da convivência com a comunidade judaica. Por muito tempo manteve-se distante de qualquer discussão sobre o tema Israel-Palestina.

“Sabia que, se fosse enfrentar esta questão, iria me incomodar com suas contradições”, relata Elena. “Um dia, porém, acordei assim, do nada, e decidi estudar esse conflito – e meu trabalho de conclusão do curso foi sobre isso. Minha opinião era clara: o Estado de Israel era a origem de tanto ódio e sofrimento do povo palestino.” Lembra-se que não demorou a sofrer retaliações, na medida em que começou a difundir suas opiniões críticas nas redes sociais.

“Uma amiga de infância colocou mensagens em hebraico, no mural do meu Facebook”, recorda. “Eram frases do tipo ‘você tem que morrer com esses terroristas’. Até uma prima me ligou chorando e berrando que eu era antissemita.”

Sua relação com a mãe, porém, passou por transformações positivas. “Nunca tínhamos conversado a respeito de Israel”, conta Elena. “Quando eu passei a estudar sobre o tema, ela via os filmes e lia os livros que eu deixava no meu quarto. Um dia, escreveu em seu blog que, pelo exemplo da filha, tinha mudado a cabeça em seis meses sobre temas que tinha acreditado por 40 anos.”



“Pra quê você foi para a Palestina?”

Ao contrário de Elena, a professora de história Bianca Neumann Marcossi, de 25 anos, teve uma formação sionista forte. Após o suicídio da mãe e do pai, a comunidade judaica foi um dos seus principais alicerces. “Aprendi na escola que tinha que salvar Israel e tinha pesadelos com palestinos”, relata.

A mudança viria ao ingressar no curso de história, na USP (Universidade de São Paulo). O ambiente crítico às atitudes tomadas pelo governo de Israel foi um verdadeiro choque. “Fiquei assustada. Ou eu estava no meio de antissemitas e precisava sair dali ou era a ignorante e precisava estudar”, conta.

Durante a formação universitária, Bianca descobriu um programa que tinha como objetivo levar pessoas estrangeiras para passar uma temporada na Cisjordânia e reportar os problemas da região para ONGs de direitos humanos. “Estar na Palestina mudou tudo. Ficou tudo muito claro. Ver as leis da ocupação, as terras roubadas. Sofri bastante”, suspira.

O problema mesmo viria depois da excursão. Bianca dava, à época, aulas de História Geral em um colégio judaico. Quando voltou da viagem aos territórios ocupados, foi informada que tinha sido demitida. A direção da escola não lhe deu satisfações sobre os motivos, mas descobriu que muitos pais pediram para ela ser afastada.  “Foi um choque muito grande quando voltei. Eu tinha tanto a dizer, mas ninguém queria ouvir minhas histórias”, conta.

“Nem vamos conversar que vai dar merda”

O espaço para discutir sobre a vivência na região também afetou o jornalista e mestre em Relações Internacionais Bruno Huberman, de 26 anos. Ele conta que em 2011 foi pela primeira vez a Israel por meio do Taglit, uma excursão de 10 dias organizada por entidades judaicas. “Foi uma imersão sionista, uma lavagem cerebral”, classifica.

Huberman aproveitou a viagem para fazer um especial sobre territórios palestinos para a revista Carta Capital. “Foi o primeiro choque. Muitos primos me xingaram”, conta. A tensão na família piorou depois do ato diante do consulado. “Fui ao aniversário de uma priminha e minha tia já veio falando: ‘nem senta aqui, nem vamos conversar que vai dar merda’.”

Como a recusa ao sionismo é encarada como uma verdadeira subversão, situações como essas com familiares e amigos fazem parte da rotina de Yuri, Shajar, Elena, Bianca e de Bruno. “Eles não querem entrar em uma discussão sobre o conflito. Se entrarmos em uma conversa mais profunda, nem sei aonde isso vai chegar”, rebate Bruno.

Voz dissidente

Aos poucos estes cinco jovens judeus, ao lado de mais duas ou três dezenas de outros colegas com trajetórias similares, foram se agrupando para estudar coletivamente o tema e organizar sua participação no debate dentro da comunidade.

Leia especial de Opera Mundi sobre os 65 anos da criação do Estado de Israel

O primeiro espaço no qual se aglutinaram foi no Forum 18, surpreendentemente incentivado pela B’nai B’rith, a mais antiga organização sionista e dedicada a temas de direitos humanos. Disposta a enfrentar o debate sobre um conflito que permeia a juventude judaica no Brasil, a entidade resolveu abrir uma série de seminários que abrigassem as distintas narrativas sobre Israel e a questão palestina. Incluindo os pontos de vista não-sionistas.

“Aqueles que haviam rompido com o sionismo foram criando uma nova identidade, dissidente da posição majoritária na comunidade”, explica Yuri Haasz. “Não nos definimos por uma solução específica para o problema, ainda que sejamos favoráveis à autodeterminação palestina. A verdade, porém, é que não acreditamos no comprometimento de Israel com essa solução. Dentre as várias correntes que existiram no início do movimento sionista, a que se consolidou e deu forma ao Estado foi a corrente que promove a exclusividade judaica, o expansionismo e a colonização, e é contrária à existência de um Estado palestino. Muita gente se assusta, mas essa situação nos faz entender claramente a resistência do povo palestino.”

Fotos: Mikhail Frunze/Opera Mundi

Elena, Shajar, Yuri, Bianca e Bruno: eles romperam com o sionismo e apoiam a causa palestina

O grupo não tem nome, mas se identifica com grupos como o Jewish Voice for Peace, que nos EUA já conta com milhares de apoiadores da comunidade judaica. Vários de seus integrantes trabalham em programas de educação focados em direitos humanos, como a FFIPP (antiga Faculty for Israeli-Palestinian Peace, renomeada como Educational Network for Human Rights in Palestine/Israel). A associação organiza anualmente estágios  com ONGs de direitos humanos nos Territórios Palestinos Ocupados e em Israel, para quem quiser conhecer de perto a realidade do conflito, a partir de um roteiro que se desafia a narrativa oficial Israelense.

“Nós trabalhamos e nos organizamos para denunciar os crimes cometidos pelo Estado de Israel”, afirma Haasz. “Queremos que mais judeus possam enxergar o que se passa e romper com dogmas de sua formação, abrindo-se para a solidariedade anticolonial com o povo palestino, na busca por soluções na região que atendam à dignidade de todos, tanto judeus quanto palestinos."

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Eleições 2022 na Colômbia

Quem são os candidatos favoritos das eleições presidenciais da Colômbia?

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País vizinho vai às urnas neste domingo tendo chapa progressista de Gustavo Petro como favorita

Michele de Mello

Brasil de Fato Brasil de Fato

São Paulo (Brasil)
2022-05-27T12:30:10.000Z

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No próximo domingo (29/05), a Colômbia realiza eleições para eleger um novo presidente e seu vice, em meio a expectativas de mudanças após quatro anos de gestão do Centro Democrático, com Iván Duque, que deixa o cargo com 67% de reprovação. Cerca de 39 milhões de colombianos são convocados a participar do processo.

Restam seis candidaturas inscritas, após dois postulantes, Luis Pérez (Colômbia Pensa) e Ingrid Betancourt (Partido Verde Oxigênio), abandonarem a corrida eleitoral quando faltavam 15 dias para o pleito.

Foram habilitadas 27 missões de observação eleitoral, tanto de organismos regionais — a Organização dos Estados Americanos (OEA) e União Europeia — como de especialistas, entre eles a Transparência Eleitoral, o Conselho de Especialistas Eleitorais da América Latina (Ceela) e Associação de Órgãos Eleitorais Mundiais (A-WEB, na sigla em inglês). Estas seriam as eleições com a maior supervisão internacional da história do país, segundo o chefe do Registro Civil Nacional, Alexander Vega. 

O voto é impresso e facultativo. Caso nenhuma chapa obtenha mais de 50% da votação no dia 29 de maio, o 2º turno será realizado no dia 19 de junho e a posse está prevista para 7 de agosto. A legislação colombiana ainda determina que os segundos colocados terão uma vaga garantida no Senado e na Câmara de Representantes.

Um levantamento da empresa Atlas Intel, publicado no dia 20 de maio, aponta que para 66% dos colombianos o principal problema do país é a corrupção. Em segundo lugar estão a pobreza e a falta de oportunidades, elencados como flagelos para 12% dos entrevistados.

Para ocupar a presidência, de acordo com as últimas pesquisas de opinião, três coalizões estão na frente. Pelo campo progressista, Pacto Histórico, de Gustavo Petro e Francia Márquez, lidera com cerca de 40 a 41% das intenções de voto. Já pela direita, duas alianças disputam uma vaga num possível 2º turno: a Equipe pela Colômbia, com Federico Gutiérrez e Rodrigo Lara, que possuem em torno de 27 a 30% da preferência; seguidos da coalizão Liga de Governantes Anticorrupção, com Rodolfo Hernández e Marelen Castillo, com cerca de 20%.

Petro e Francia também aparecem como vencedores num eventual 2º turno com cerca de 45% das intenções de voto contra 41 e 42% dos oponentes de direita.

Pacto Histórico

A dupla favorita para vencer as eleições na Colômbia representa uma aliança de centro-esquerda, que aglutinou os maiores partidos de oposição (Colômbia Humana, Polo Democrático Alternativo, Partido do Trabalho, Partido Comunista, União Patriótica, Comunes) e movimentos populares colombianos. 

Petro é senador pelo Colômbia Humana, disputou as eleições presidenciais em 2018, ficando em segundo lugar, com 25% dos votos, 14 pontos percentuais atrás de Iván Duque.

Na chapa com Francia Márquez, advogada, líder comunitária e ex-representante do Conselho Nacional pela Paz, Petro propõe combater a fome, reativar as negociações de paz com setores insurgentes, investigar os casos de violência contra líderes sociais e camponeses, reconhecer o direito ao território dos povos indígenas e quilombolas, assim como diversificar a base econômica do país, com uma perspectiva de desenvolvimento sustentável.

No último final de semana, o Pacto Histórico realizou seu encerramento de campanha com um ato multitudinário na praça Bolívar, centro da capital Bogotá. "Este 29 de maio é o grito da liberdade da Colômbia. Sem medo, sem temor, com alegria e decisão, vamos escrever essa nova página da nação colombiana, Somos povo livre para construir a Colômbia que queremos", declarou Petro.

O Pacto Histórico também propõe a criação de uma comissão independente de investigação, em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), para investigar a situação de violência e os casos de falsos positivos — civis mortos pelas forças de segurança do Estado que são acusados de fazer parte de movimentos insurgentes.

Somos millones los que tenemos el sueño de un país en paz, donde podamos vivir en dignidad y con garantía de derechos. Por eso nos hemos tomado de las manos, para empezar a escribir juntxs una nueva historia para Colombia este 29 de mayo.

¡Gracias, Bogotá!
¡Gracias, Colombia! pic.twitter.com/QnZHqJ2Z84

— Francia Márquez Mina (@FranciaMarquezM) May 23, 2022

Na última terça-feira (24/05), o Pacto Histórico publicou um chamado à comunidade internacional para proteger a apuração dos votos e destacam que somente os juízes eleitorais devem ser responsáveis pelo escrutínio da votação.

Francia Marquez/Twitter
Apesar das ameaças, Gustavo Petro e Francia Márquez se mantiveram na dianteira das pesquisas de opinião durante todo o processo eleitoral

"Há uma evidente intervenção político-eleitoral do presidente, seus ministros e do comandante do exército, alienação dos mecanismos de a controle, Procuradoria, Controladoria e Defensoria com o governo, exibindo a falta de garantias à oposição", denuncia a coalizão. 

Equipe pela Colômbia

A chapa liderada por Federico Gutierrez, ex-prefeito da cidade de Medellin, e Rodrigo Lara, ex-prefeito da cidade de Neiva, realizou sua última atividade de campanha na capital do estado Antioquia, no Parque del Río. Com a promessa de frear a ameaça do "populismo de esquerda", "Fico" Gutiérrez promete combater a desigualdade social criando empregos e aumentando o escoamento da produção no interior do país, através de ferrovias e hidrovias. 

"Aqui os únicos que não são bem vindos são os corruptos e violentos. Devemos entender que há 20 milhões de colombianos que passam fome, é urgente realizar várias mudanças, mas não podemos dar um salto ao vazio, como na Nicarágua e na Venezuela", disse Gutiérrez durante o ato final de campanha.

Gracias Medellín, gracias Colombia. Vamos a ganar la Presidencia!!!🇨🇴🇨🇴🇨🇴💪🏻💪🏻#FedericoEsColombia pic.twitter.com/5j3TpTENSR

— Fico Gutiérrez (@FicoGutierrez) May 22, 2022

Em contraposição à reforma da previdência, defendida por Iván Duque, Gutierrez promete aumentar o subsídio aos aposentados. De acordo com o levantamento da empresa Atlas Intel, a maior parte do eleitorado que apoia Gutierrez tem entre 45 e 65 anos.

Apesar de tentar se distanciar do chamado uribismo — corrente fundada pelo ex-presidente Álvaro Uribe Vélez, padrinho político do atual presidente —, a chapa de Gutierrez engloba a maior parte do setor tradicional da direita colombiana, com os partidos União pela Gente (PUG), partido Conservador Colombiano, partido Político Mira, os Movimentos, Avante Colômbia, País de Oportunidades e Acreditamos na Colômbia. 

O partido de Iván Duque, Centro Democrático, não entrou na formação da chapa, mas já declarou apoio a Gutiérrez depois que a candidatura de Óscar Iván Zuluaga não deslanchou. A pesquisa divulgada pela empresa Atlas também aponta que 37,9% dos colombianos se identifica como anti-uribista, 13,9% como uribista, enquanto 41,9% nem pró e nem contra o uribismo.

Desde 2002, com a primeira gestão de Uribe, até o momento atual, a Colômbia é governada por presidentes próximos ao uribismo. Ainda que Juan Manuel Santos tenha assinado os Acordos de Paz com as FARC-EP, em 2016, antes ele foi ministro de Defesa de Uribe. Já o atual mandatário, Iván Duque, é considerado seguidor político de Álvaro Uribe Vélez. 

A Justiça Especial para a Paz (JEP) afirma que há evidências de ao menos 6.400 casos de falsos positivos durante os primeiros seis anos da gestão de Uribe como presidente e de Santos como ministro de Defesa.

"O setor representado por Alvaro Uribe Vélez pode estar em decadência eleitoral, mas não está em decadência no seu papel ante a direita mundial, que vê na Colômbia a plataforma de controle hegemônico do poder político [na região]", defende a ex-prefeita de Apartadó e defensora de direitos humanos, Gloria Cuartas Montoya.

Entre as propostas centrais de Gutiérrez estão a luta contra a corrupção e a garantia de segurança no país.

Liga de Governantes Anticorrupção

Em terceiro lugar nas pesquisas e também no campo da direita, está o ex-prefeito da cidade de Bucaramanga, Rodolfo Hernández, e a bióloga Marelen Castillo. Com o lema "não roubar, não mentir, não trair", a dupla apoia sua campanha em cima do combate à corrupção, como o próprio nome da aliança sugere, e no fato de serem uma alternativa à "velha política". A chapa é apoiada pelo Movimento Cívico Lógica, Ética e Estética. 

Hernández é engenheiro civil e dono da HG Construtora. Com um forte discurso contra os movimentos insurgentes, Rodolfo Hernández assegura que teve familiares sequestrados no passado pela FARC-EP e o ELN.

Durante sua gestão como prefeito, foi suspenso por três meses após agredir um vereador da oposição. Apesar do histórico, 58% dos colombianos afirmaram ter uma avaliação positivo de Hernández, segundo pesquisa da empresa Atlas Intel.

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