As ações violentas cometidas no Iraque pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI), que incluem assassinatos, execuções, conversões forçadas, sequestros, violência sexual e tortura, representam crimes contra a humanidade, disse nesta segunda-feira (01/09) a ONU.
Em uma sessão de emergência do Conselho de Direitos Humanos da ONU para abordar a situação no Iraque, a responsável adjunta do Alto Comissariado dos Direitos Humanos, Flavia Pansieri, expôs as evidências recolhidas pelo organismo sobre os abusos cometidos pelos extremistas.
Pansieri afirmou que as forças de segurança iraquianas e grupos armados que se opõem ao EI também cometeram violações dos direitos humanos que “podem equivaler a crimes de guerra”.
O Exército iraquiano, milícias afins e forças curdas, com apoio militar dos Estados Unidos, lutam contra o grupo, que mantém o controle de extensas áreas das províncias de Anbar, Ninawa, Salah al-Din e Diyala, no norte do Iraque.
Agência Efe
Imagem de ruínas na cidade de Faluya após bombardeio das forças aéreas do Iraque
Os insurgentes do EI, que proclamou o estabelecimento de um califado nas zonas sob seu domínio, entre o norte iraquiano até a província de Al-Raqqah, na vizinha Síria, concentraram sua crueldade contra as minorias étnicas e religiosas.
“Muitos foram diretamente assassinados, outros sitiados e privados de alimentos, água e remédios”, denunciou Panseri. Segundo a funcionária da ONU, pelo menos mil yazidis, uma das minorias mais afetadas, foram mortos e 2.750 sequestrados ou escravizados nas últimas semanas.
“Pelo menos 2.250 mulheres e crianças foram detidas como reféns na prisão de Badoush, em Mossul, em Tal Afar e outros lugares sob controle do EI”, acrescentou.
Em Badosh se documentou a execução sumária de 650 prisioneiros, com especial violência no caso dos homens de confissão xiita, obrigados a cavar buracos onde foram mortos pelos insurgentes. Além disso, Pansieri afirmou que a ONU tem conhecimento da execução de líderes religiosos, incluídos doze sunitas em Mossul, que se negaram a jurar lealdade ao EI.
Apesar de cidades inteiras terem fugido, a secretária-adjunta do Escritório de Direitos Humanos da ONU disse que ainda há vários povoados em Sinjar (na província de Ninawa) que correm o risco de serem atacados pelos jihadistas.
A presença e o controle do EI se estende pelo norte até partes das cidades de Faluja, Ramadi, Tikrit, Tal Afar e Mossul, onde a ONU teme pelo destino dos civis.
A organização constatou que as mulheres estão particularmente expostas aos abusos dos extremistas islâmicos, que em meados de agosto fizeram com que em todas as mesquitas de Mossul se anunciasse que todas as pessoas do sexo feminino deveriam cobrir o rosto com o véu, caso contrário sofreriam castigos severos.
O EI estabeleceu uma espécie de polícia de “promoção da virtude e da prevenção do vício”, que tem por missão obrigar as mulheres a cumprirem as regras estabelecidas, entre elas não poder caminhar pelas ruas desacompanhadas por um homem.
Mortos
Pelo menos 1.420 pessoas morreram e 1.370 ficaram feridas em combates e outros atos violentos durante o mês de agosto no Iraque, revelou hoje a missão das Nações Unidas no país (Unami).
Em um comunicado, a Unami afirmou que o número de vítimas pode ser “significativamente mais alto” devido às dificuldades para verificar os dados nas áreas sob o controle do EI, e que o informe exclui os mortos na província de Al Anbar, parcialmente nas mãos dos extremistas desde janeiro e onde se acredita que 268 iraquianos morreram no mês passado.
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“Só em agosto a ONU estima que 600 mil pessoas foram deslocadas e que milhares continuam sendo assassinadas pelo EI e outros grupos aliados por razões étnicas e religiosas”, denunciou o representante da ONU no Iraque, Nickolay Mladenov.
A maioria das vítimas são civis: pelo menos 1.265 morreram e 1.198 ficaram feridos, frente aos 155 mortos e 172 feridos nas forças de segurança.
Na província de Ninawa, no norte do país, 625 pessoas morreram após a localidade ser tomada pelo EI em junho e se tornar cenário de combates entre os jihadistas e as forças iraquianas e curdas.
“O verdadeiro custo humano desta tragédia é impactante”, lamentou Mladenov, que parabenizou os esforços humanitários realizados pelas autoridades do Curdistão iraquiano e a comunidade internacional.
A Unami reconheceu que recebeu relatórios de centenas de vítimas em algumas zonas e há casos de civis mortos em sua fuga por falta de água, alimentos e remédios, mas os dados não puderam ser verificados pelo organismo.
(*) com Agência Efe