Em agosto venceu o prazo acordado entre o presidente do Uruguai, José Pepe Mujica, e o governo dos EUA para que o país sul-americano recebesse seis pessoas detidas na prisão norte-americana mantida em Guantánamo, Cuba. Porém, de acordo com reportagem publicada pelo jornal The New York Times nesta segunda-feira (1º/08), Mujica adiou a transferência pois considerou ser “politicamente perigoso seguir adiante [com as negociações] devido às próximas eleições”, que serão realizadas em outubro. A Casa Branca espera que o processo seja concluído assim que terminarem as votações.
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O mandatário acordou transportar os prisioneiros em janeiro, mas, com a demora nos trâmites, preferiu esperar um pouco mais, para que o candidato da Frente Ampla e ex-presidente Tabaré Vásquez não tenha que assumir o risco político desta ação nas eleições de 26 de outubro. Isso porque a medida é impopular no país e o candidato caiu nas últimas pesquisas de intenção de voto. Somente três em cada dez uruguaios apoiam que os detidos sejam transferidos para o Uruguai, de acordo com uma pesquisa do instituto Cifra realizada em julho.
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Em março, foram acordados os detalhes para que o Uruguai recebesse os seis homens — quatro sírios, um tunisiano e um palestino, todos considerados de baixo perfil de risco. Esse seria o maior grupo libertado desde 2009. Até o momento, nenhum país sul-americano recebeu prisioneiros de Guantánamo, mas as negociações com o Uruguai inspiraram conversas semelhantes com Brasil, Chile e Colômbia.
Carlos Latuff
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O jornal norte-americano informou que um avião militar Boeing C-17 chegou à base naval de Guantánamo no mês passado para transportar os prisioneiros. Após quatro dias de intensas negociações entre o vice-presidente dos Estados Unidos, Joseph Biden, e Mujica, eles não entraram em consenso e a aeronave retornou sem passageiros, informou o diário.
O governo do presidente Barack Obama insiste que as transferências serão realizadas logo após as eleições. A ideia é que outros 14 detidos devem ser libertados até o fim do ano se eles obtiverem autorização, segundo fontes próximas ao processo. O fechamento da prisão na baía de Guantánamo é uma das promessas de campanha de Obama. A medida tem como objetivo acelerar o processo de fechamento da prisão, que, atualmente, conta com 149 presos.
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À época das negociações, Mujica pediu como contrapartida que Washington libertasse os três antiterroristas cubanos que ainda estão sob custódia dos EUA, após terem sido presos, há mais de dez anos, enquanto atuavam como espiões para identificar organizações terroristas anticastristas na Flórida.
Eleições uruguaias
De acordo com a última pesquisa de intenção de voto, divulgada no dia 6 de agosto, Tabaré Vásquez é favorito a vencer as eleições em um segundo turno. O principal oponente, Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, corrobora as críticas que a oposiçao faz ao recebimento dos detidos de Guantánamo.
#uruguai capa do jornal el observador critica decisão de mujica de receber 5 presos de guantánamo pic.twitter.com/hAj44B7LCm
— lucas rohãn (@lucasrohan) 21 março 2014
Dados da pesquisa realizada pela Interconsult revelam que o ex-presidente uruguaio obteria 46% dos votos no segundo turno em outubro, enquanto Lacalle Pou teria 44%. No fim de 2013, a diferença entre os candidatos era de 21 pontos e em março, dez.
Pedro Bordaberry, do Partido Colorado, em um possível segundo turno com Vásquez teria 38%, contra 49% da preferência do eleitorado.